Do que estão rindo?

Do que estão rindo?

Atualizado: Quarta-feira, 17 Outubro de 2012 as 10:48

risada

Trabalho de sol a sol. Na volta para casa passo em frente a dezenas de bares e botecos. Os horários que passo variam a cada dia. Meu trabalho não tem a companhia da rotina. Cada dia é uma história diferente. Mesmo variando a hora, não importa, vejo botecos repletos de gente, na maioria homens, bebendo, jogando, rindo.
 
Pela TV assisto partidas de futebol. Não é incomum a câmera mostrar closes de torcedores do time que está perdendo, porém estão batucando, pulando, fumando, brigando e... rindo. No campo a bola rola sem muita arte, como tem sido ultimamente o futebol, um jogo onde técnicos e jogadores parece que apenas lutam para não perder, jamais para vencer, tornando cada partida um desfile de jogadas chatas e burocráticas que visam apenas manter o emprego, ainda assim, pelas arquibancadas e sofás os risos se espalham.
 
Nos shoppings, nas praias, nas pizzarias, nas fotos, tem gente de todo tipo rindo de todo jeito. Fico sem jeito, mas perguntar é o jeito: Do que estão rindo? Sim, é preciso sorrir. O riso dá beleza ao rosto. É bom e justo. Mas quando passo pelos botecos ou vejo torcedores na telinha da TV, não consigo deixar de pensar nas histórias por trás das cenas. Quantas esposas e filhos estão esperando maridos e pais chegarem? Quanto pão e leite faltando, aluguel atrasado, e o boteco e o estádio levando o rico dinheirinho de famílias sofredoras?
 
Shoppings, praias e pizzarias são diferentes, eu sei. Mas mesmo nestes cenários assisto risos que não enganam, apenas auto-enganam. Não têm a menor graça. Nem engraçados são. No entanto, os cenários não param aí. Dentre outros, os cenários das igrejas não podem ser poupados. Vejo, e em alguns casos sei, gente atolada em pecado mas desfilando suas gargalhadas desafinadas, provocando mais afronta que prazer. Revelando uma total falta de vergonha, decência, arrependimento ou consideração em relação a ofendidos, enganados e iludidos.
 
Sigo meu caminho. Vou tentando rir saudavelmente e chorar responsavelmente, sem exageros ou auto-piedade, enfim, vou tentando defender as fragilidades do meu inquieto coração que segue perguntando: Afinal, do que estão rindo?
 
Paz!
 
 
por Edmilson Mendes
blog: calicedevida.com.br
twitter: @Edmilson_Regina

 

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