Pequenas coisas, grandes encrencas

Muitos de nós acabam aceitando, sem perceber, inversões de valores claramente profetizadas, tempo esse no qual já se tornou comum tratar o certo como errado e o errado como certo.

fonte: Guiame, Edmilson Ferreira Mendes

Atualizado: Quarta-feira, 8 Março de 2017 as 5:01

Sapo audacioso descansou sobre o nariz de crocodilo em Jacarta (Foto: Fahmi Bhs)
Sapo audacioso descansou sobre o nariz de crocodilo em Jacarta (Foto: Fahmi Bhs)

“Pequenas Empresas, Grandes Negócios” já fez muito sucesso neste nosso Brasil, programa de tv, revista e um conceito desejado por muitos. Para além dos círculos empresariais o mesmo conceito tem aplicações por vezes desastrosas, pois coisas pequenas fazem parte da rotina, do ordinário, e devem ser cuidadas para não se tornarem em grandes encrencas.

Nos desenvolvemos e crescemos convivendo com pequenos momentos, pequenas felicidades, pequenas conquistas, pequenos ciclos, pequena fé, enfim, é na somatória de pequenas coisas e eventos que vidas são construídas e histórias são contadas. As grandes coisas e os grandes eventos são pontuais, são marcos em nossa caminhada, mas, no dia a dia, precisamos dar atenção e dedicar carinho e cuidado às pequenas coisas.

Tão atacados e bombardeados pelo discurso de que devemos aceitar, gostemos ou não, como normais coisas que são certamente anormais quando comparadas com as orientações bíblicas, muitos de nós acabam aceitando, sem perceber, inversões de valores claramente profetizadas, tempo esse no qual já se tornou comum tratar o certo como errado e o errado como certo.

E como muitos de nós têm aceitado o conceito confuso de que o errado é certo e o certo é errado? Geralmente acaba-se por aceitar nas pequenas coisas. Pois quando se trata de grandes pecados, escandalosos, promíscuos, sujos, que afrontam descaradamente a santidade do Criador, no geral os crentes ainda se mantém ao lado das orientações do Pai, embora tais pecados já sejam debatidos, considerados, estudados e por fim reinterpretados e aceitos por leigos e teólogos, mas isso é papo pra outro momento.

Então voltemos às pequenas coisas. Como são pequenas, baixamos a guarda, descuidamos, não dedicamos os mesmos cuidados, relaxamos, afinal, que perigo pode existir em detalhes mínimos, regrinhas chatas e manias ultrapassadas? É neste ponto que muitos se enrolam e começam brigar brigas erradas, dando importância à coisas pequenas e agindo com descaso à coisas grandes.

Vamos a dois exemplos, um de coisas pequenas e outro de coisas grandes. Primeiro coisas pequenas: é incrível como ainda se discute, se briga, se ofende, se desrespeita, se divide, se entristece por conta de roupas, estilos, cabelos, regionalismos, casca. Amizades são desfeitas, ministérios são enfraquecidos, reputações são destruídas por causa de coisas pequenas, evidentemente culturais, que nada têm de mais santas ou menos santas, apenas fazem parte do imenso cardápio com itens que formam a beleza singular de cada ser humano.

Agora coisas grandes: é incrível como ainda não se discute, não se estuda, não se aprofunda, não se interessa, não se respeita e não se compadece do interior da alma humana, o lugar secreto onde as marcas, as feridas, as decepções, as reais alegrias, os sonhos, as batalhas titânicas entre carne e espírito, as esperanças, onde cada um é o que é com toda sua carga de erros e acertos e cultiva sua particular história real, enfim, tudo isso passa ao largo, poucos se importam enquanto milhares vão morrendo existencialmente e a banda vai seguindo, investindo esforços e dando valor as coisas pequenas.

Nas narrativas bíblicas o que mais se vê é o conceito de “coisas pequenas” através de pessoas e fatos sendo valorizado e enfatizado por Deus. Acompanhe: o pequeno Davi frente ao grande Golias; o pequeno povo de Israel frente ao maior império da terra, o Egito; o pequeno Daniel frente ao grande Nabucodonosor; o pequeno Jonas tragado pelo grande peixe; o pequeno garoto com seus poucos pães e peixes frente a grande multidão faminta; o pequeno, aleijado e anônimo Mefibosete diante do agora grande rei Davi; a grande multidão vinda da grande tribulação, vestida de branco, com palmas nas mãos, lavada pelo sangue do Cordeiro e formada por milhares de pequenos anônimos. A lista, para nosso consolo e esperança, aumentaria indefinidamente se tempo e espaço tivéssemos para continuar, mas já conforta saber que nossa pequenez não nos desqualifica para sermos participantes do grande plano que está para se concluir em toda terra: a consumação da história nas mãos e na volta de Cristo, o Senhor.

Fuja de encrencas, valorize e lute por aquilo que de fato merece o selo de “grande”. Pequenas coisas devem receber cuidados amorosos, ajudar no humor, dar sentido e leveza para os enfrentamentos do dia a dia, precisam de alguma atenção, algum conselho, mas devem se limitar ao que são, coisas pequenas, pois quando são tratadas como grandes, via de regra se tornam grandes encrencas. Cuide da aparência, da casca, mas o faça com equilíbrio, não permita que se torne uma obsessão, afinal o que importa é o que está lá dentro, o lugar onde somente Deus olhou ao escolher Davi. Enfim, andamos por fé e não por vista e, como eternizado na obra O Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos”.

Paz!

 

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