Os dias são maus. Como avalanche aparentando que nunca terá fim, vou recebendo notícias de todo tipo de desmoronamento. Famílias em colapso enxergando na separação a única saída, um amigo que me disse da perfeição do seu estado de saúde é acometido, de repente, por um AVC, outros lutam como podem contra o câncer, depressivos e desesperados, alguns assistem impotentes a quebra de seus negócios, pais vão perdendo seus filhos para as drogas e todo tipo de promiscuidade. Olhamos e não acreditamos. Observamos e não encontramos uma explicação razoável. Esperanças esfaceladas e virando pó.
Críticos e pessimistas afirmam que vai piorar. Se estiverem certos, salve-se quem puder. E quem pode? Uns poucos, do alto de suas posses e frágeis poderes, acham que podem salvar-se a si próprios. A palavra mais leve que a Bíblia usa para eles é “louco”. Afinal, como fartamente já atestado pela história, confiar em suas próprias forças é loucura, a auto-salvação simplesmente não é possível.
Esta é a verdade nua e crua, ninguém pode salvar-se a si mesmo. O grito popular “Salve-se quem puder” é apenas a indicação de uma etapa sem solução, sem saída, somente o caos. “Salva-se quem puder” indica que os poderes que poderiam ajudar já não funcionam, perderam autoridade, competência, habilidade e força. Portanto o descontrole e os riscos são reais, é cada um por si, salve-se quem puder.
É assim que estou me sentindo, tentando ajudar aqueles que consigo, aconselhando, estendendo a mão, orando. Mas a avalanche continua. Resolvi fazer o que sei e aprendi aos pés do Salvador. Fui em Seu livro para orar a oração que Seus filhos oraram a milênios atrás. Encontrei um Salmo confortador e vivificador.
Ao encontrar o Salmo fui ler na tradução de um irmão contemporâneo, alguém que Deus tem usado de forma singular para comunicar com graça e singeleza, numa linguagem emocionante e ao mesmo tempo acessível, a revelação do Pai aos Seus filhos. Me refiro a Eugene Peterson e sua tradução da Bíblia “A Mensagem”, uma tradução que em muitas partes toca o coração da gente.
Me encontrei com o Salmo 16 e com as seguintes palavras logo no seu início: “Guarda-me ó Deus! Corri ao Teu encontro para salvar a pele. Digo ao eterno: ‘Sê o meu Senhor!’ Sem Ti, nada faz sentido.” Sentiu?
Gosto demais do adorador do Salmo 16 nesta tradução, declarando que corre ao encontro do Senhor com vistas a salvar a pele! Quantos não estão assim neste exato momento? Sendo atacados de todos os lados e querendo desesperadamente salvar a pele? Quantos? O salmista, logo no início, já entendeu que o “salve-se quem puder” para ele não funciona, pois ao correr desesperado pra salvar a pele, conclui com toda lucidez que sem Deus nada faz sentido.
Nessa corrida ao encontro do Eterno com vistas a salvar a própria pele, o Salmista faz uma descoberta sensacional, e que a tradução de Eugene traz luz para quem como eu quer orar a oração contida no Salmo 16. No verso 5 encontramos esta conclusão: “Tu fostes minha primeira e única escolha, ó Eterno. E, agora, descubro que sou Tua escolha!”
Não entenda errado. Não se trata de Deus me escolher porque o escolhi. Nada disso. Ao escolher Deus, dando toda primazia, prioridade e exclusividade ao Único que pode salvar nossa pele, o salmista finalmente conclui que ele desde sempre é a escolha do Salvador, o Pai que amou tanto o mundo que escolheu não poupar a pele do próprio Filho para salvar a nossa.
Enquanto não corrermos para este encontro, encontraremos apenas infelicidade. Felicidades de fachada vemos todos os dias em todos os lugares, quase tudo, no entanto, está ruindo. Escolher a Deus e descobrir ser a eterna escolha dEle muda essa realidade de aparências, faz-nos experimentar a verdadeira felicidade por fora e por dentro. No verso 9 o salmista testemunha o que recebeu ao correr ao encontro do Eterno: “Estou feliz por dentro e, por fora, firmemente formado.” Então, com uma felicidade que só entende quem a vive, o salmista fecha sua oração no verso 11 com estas palavras: “Desde que me seguraste pela mão, estou no caminho certo.”
Depois do Salmo 16 quero trocar o “salve-se” por “salve-me”, ou seja, “salve-me quem puder”. Na esfera humana ninguém pode, portanto preciso recorrer a esfera divina, pois somente o Senhor pode. Ele salva a minha pele, dá sentido a minha vida, escolhe a mim e me ama muito antes que eu viesse a escolher a Ele, me inunda de felicidade verdadeira e segura firme minha mão no caminho reto. Salve-me, Senhor, só Tu podes!
Paz!.