Assim começam as mudanças na opinião e na posição de uma sociedade: com minorias estridentes colocando as manguinhas de fora e pedindo seja lá o que for, sem o menor pudor. Alguns dias atrás, você deve lembrar, o protesto em prol da maconha foi na USP. Agora foi em Paulínia, cidade vizinha de Campinas, onde acontece o festival de música SWU. Um pequeno grupo, de novo, inconformado com a fiscalização das autoridades em suas barracas, não teve dúvida e começou a gritar seu irônico bordão: se tem polícia, maconha é uma delícia.
Um garoto entrevistado no local, deu sua opinião sobre o fato: Não sei porque fiscalização, em shows como esse todo mundo sabe que é normal o uso de maconha. Infelizmente o garoto, em parte, está certo: todo mundo sabe. Sua opinião erra na cínica admiração que finge não saber o porquê da fiscalização. Ora, ora, a lei proíbe, tanto a lei do evento quanto a lei do país, simples assim. Para essas minorias que se arriscam a mostrar a cara, no entanto, não é simples assim. O meu ora, ora, para eles se transforma na expressão: Lei? Ora, a lei!
Mas reconheço, não é simples, apesar da lei. Vivemos num país onde a lei é pisada e cuspida todo dia pelos representantes do povo, os políticos. Onde a lei no futebol só pune os times pequenos. Onde as leis de trânsito continuam deixando em liberdade assassinos alcoolizados. Enfim, vivemos num país e num mundo onde minorias estão assistindo um monte de outrora absurdos, ganharem reconhecimento através de leis que os aprovam e, uma vez que alguns pecados podem ser legitimados, a porteira está aberta para se legalizar todos os demais pecados. É só uma questão de tempo.
Segue a decadência. Baixa-se o nível cada dia mais. Que sociedade enfrentarão nossos filhos amanhã, se hoje já está assim? O bordão daquele grupo, se tem polícia, maconha é uma delícia, indica um triste sinal dos tempos. Já não basta a desobediência das regras, tem que afrontar, zombar, esculachar. Tem que mostrar orgulho pelo pecado que se faz. São tempos complexos. Tempos de sair da caverna e conhecermos os outros sete mil, aqueles que não dobraram os joelhos perante Baal.
Paz!
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".