A proposta é afunilar até se chegar a voz do Brasil, aquela que ganhará o prêmio, a gravação, a exposição. Tudo bem, se fosse só isso. Mas é mais, muito mais.
Primeiro o “tudo bem”. É um prazer ouvir música bem cantada e bem tocada. A música nos eleva, mexe com nossa emoção, comunica o que muitas vezes a palavra sozinha não consegue. A música está no nosso DNA com formas e sensações que não sei nem como explicar, porém sinto, vibro, choro e me empolgo sem nem saber ler uma partitura.
Sobre música prometo que um dia escrevo, mas já te adianto que divido música entre boa e ruim, e não entre profana e sacra, entre cristã e mundana. Mas este é um papo para outro texto. Contudo adianto minha opinião para dizer que, sim, gosto de algumas das músicas cantadas no The Voice, e também vibro com algumas incontestáveis qualidades vocais que naquele palco concorrem.
Em segundo, vamos ao “muito mais”. O programa não vende só música. Vende, e muito bem, a filosofia pós-moderna que já embala milhares num pacote que vai ficando cada vez mais pesado e, portanto, difícil de se desfazer.
Com produção perfeita, na medida, cenário exuberante, técnicos carismáticos, enfim, com um time correto, as “verdades” da pós modernidade se misturam ao poder emocionante da música e são naturalmente engolidas na casa de milhares.
Cada candidato recebe a exposição de seu “mini-clip”, onde aparece família, amigos, torcida. Cada técnico emite sua opinião com seu linguajar e visual descolados e modernos, tudo em perfeita conexão com os desejos liberais e libertinos do nosso tempo. Candidatos que começaram a cantar em igrejas, e que ou o pai ou a mãe não desejavam que lá estivessem, também não faltam, têm suas histórias expostas sutilmente para a crítica da opinião pública. Tá tudo ali, junto e misturado, unidos pela música que os coloca acima do bem e do mal.
O espaço é aparentemente democrático. Mas só o é para reafirmar as filosofias que a agenda social, artística, cultural e liberal aprova. Sem palavras, apenas com historietas, lágrimas, expressões e a chancela dos técnicos, tudo é passado como normal, como sendo “assim mesmo”, o amor é livre para ser, ver, ter e fazer o que quiser. Ou seja, são aqueles momentos quando os cantos do The Voice são muito mais um “canto de sereia urbano” que qualquer outra coisa.
Por esses dias, num auditório com mais de 2000 pessoas, vi subir ao palco uma cadeirante acompanhada de seu pai. Ela com o microfone e ele com o violão. Ela mais encantou do que cantou. Encantou pela simplicidade com que cantou. Uma simplicidade revestida de força, emoção e alma.
Alguns que me leem, sabem de quem falo, a Fabiana. A emoção daquele momento não teve qualquer produção, nem foi inventada, forçada ou manipulada. Simplesmente o auditório se rendeu a fragilidade de uma menina que, apesar dos limites evidentes que a vida lhe colocou, não cessa de louvar e agradecer ao Criador. Quando ela terminou de cantar, o final se mostrou apoteótico, toda a audiência irrompeu num interminável aplauso, em pé, reconhecendo a Deus o dom de Deus.
A Fabiana e outros milhares são para mim a voz do Brasil. Emprestando a dinâmica do The Voice, se a trindade e os anjos estão em cadeiras viradas para quem adora a Deus através do louvor, em momentos de pureza e simplicidade, seja da Fabiana, de um mega coral, de uma super banda ou do mais desafinado adorador, enfim, em momentos de pureza e simplicidade os céus viram a cadeira e aprovam a adoração que brota da alma.
A pergunta que coloquei no título, “será?”, está ali porque não creio que alguém se transforme num artista famoso e reconhecido pelo fato de ganhar um programa. The Voice é uma franquia. Pesquise. Veja quantos pelo mundo conseguiram se manter após terem vencido. Aqui no Brasil mesmo, onde está a vencedora do ano passado? Ok, dá seus shows, tem o seu CD, ou CDs, tudo bem. Minha pergunta é sobre a fama, a exposição, sobre bombar na mídia e no gosto popular, enfim, essas coisas que pedem bem mais que um programa, pedem história, dedicação, carreira, itens que só são construídos pouco a pouco sem a menor chance de se queimar etapas.
Por último. Desenvolver filtros é o objetivo deste texto. Assista o The Voice, o filme que você gosta, o futebol que te emociona, mas não abra mão dos filtros. Não devemos engolir tudo que nos oferecem. Digo isto até, e principalmente, para a fé. Ao ouvirmos um louvor, uma pregação, um discurso, um apelo, uma ministração, como diz a Bíblia, devemos provar os espíritos, filtrando tudo atentamente para saber quem está de fato sendo exaltado e honrado. E honra, glória e louvor, você sabe, pertencem somente a Ele.
Paz!
- por Edmilson Mendes
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