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Quem foram os Nicolaítas?

Há quem acredite que os nicolaítas tiveram por mestre Nicolau, um dos sete primeiros diáconos ordenados pelos apóstolos.

fonte: Guiame, Felipe Morais

Atualizado: Sexta-feira, 5 Abril de 2024 as 11:02

(Foto: Unsplash/Girl with red hat)
(Foto: Unsplash/Girl with red hat)

Há duas menções aos nicolaítas nas Escrituras; a primeira ocorre quando Jesus se dirige à igreja de Éfeso dizendo: “​Mas você tem a seu favor o fato de que odeia as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio” (Apocalipse 2:6), e depois quando Jesus diz que havia na igreja em Pérgamo alguns dos que sustentavam a doutrina de Balaão, e os que seguiam “a doutrina dos nicolaítas” (Apocalipse 2:15).

Os Nicolaítas

A origem precisa dos nicolaítas é incerta. Alguns acreditam que o nome “nicolaítas” era um termo genérico para qualquer grupo que se desviasse dos ensinamentos do cristianismo e seguissem ensinamentos heréticos. Outros acreditam que o nome “nicolaítas” é uma referência simbólica à palavra grega “Nikolaos” (Νικολαος), que significa “conquistador do povo”. Há quem acredite que os nicolaítas tiveram por mestre Nicolau, um dos sete primeiros diáconos ordenados pelos apóstolos, enquanto outros acreditam que Nicolau foi mal interpretado por aqueles que criaram tal heresia e usaram seu nome como pretexto.

De acordo com Irineu de Lion (130-200 d.C.), os nicolaítas tiveram por mestre um dos primeiros sete diáconos ordenados pelos apóstolos chamado Nicolau (cf. At 6:1) e viviam desordenadamente, ensinando que a fornicação e o comer carne oferecida aos ídolos são coisas indiferentes (Contra Heresias, Livro I, 26,3). Além disso, Irineu explica que os nicolaítas formavam uma seita gnóstica, considerada uma ramificação separada da falsa gnose (Contra Heresias, Livro III, 11,1).

Hipólito de Roma (c. 170-236 d.C.) diz: “no meio dos gnósticos, entretanto, existem diversas opiniões. Mas decidimos que não valeria a pena enumerar as doutrinas tolas desses hereges, por serem demasiadamente numerosas, carentes de lógica e cheias de blasfêmias. [...] No entanto, Nicolau foi a causa da ampla união desses homens ímpios. Ele, sendo um dos sete escolhidos para o diaconato, foi nomeado pelos Apóstolos, mas Nicolau se desviou da doutrina correta e costumava ensinar a indiferença tanto na vida quanto na alimentação. E quando os discípulos de Nicolau continuaram a insultar o Espírito Santo, João os repreendeu no Apocalipse como fornicadores e comedores de coisas oferecidas a ídolos.” (Refutação de todas as heresias, Livro VII, 24)

Em seu comentário sobre o Apocalipse, Vitorino de Pettau (c. 250-304 d.C.) disse que os nicolaítas “eram, naquela época, homens falsos e problemáticos, que, como ministros sob o nome de Nicolau, haviam criado para si mesmos uma heresia, segundo a qual o que fora oferecido a ídolos poderia ser exorcizado e comido, e que quem cometesse fornicação poderia receber paz no oitavo dia.”

Eusebio de Cesareia (263-340 d.C.) disse que a heresia dos nicolaítas durou pouco tempo (História Eclesiástica, Livro III, 29). Ele também cita Clemente de Alexandria (150-217 d.C.) onde diz que Nicolau tinha uma linda esposa, que estava na flor da idade, e ao ser repreendido pelos apóstolos por seu ciúme, Nicolau disse que deveria “abusar da carne”, querendo demonstrar que não deixaria a inclinação da carne estar acima de sua fidelidade ao Senhor.

Então, levou sua mulher ao meio da assembleia e deixou-a a quem quisesse desposá-la, querendo com isso demonstrar que nada, nem ninguém, estaria acima de Deus em seu coração. Entretanto, alguns homens, sem critério, interpretaram erroneamente a atitude de Nicolau, e se desenvolveu uma heresia através daqueles que, de forma imprudente, se desviaram para a prostituição descaradamente.

Porém, Clemente de Alexandria isenta Nicolau de culpa, dizendo que ele mesmo jamais teve outra esposa a não ser a mãe de seus filhos, e que em sua família tanto as filhas quanto o filho envelheceram virgens: “Mas entendo que Nicolau não teve nenhuma relação com outra mulher além daquela com quem foi casado, e que, no que diz respeito aos seus filhos, suas filhas continuaram em estado de virgindade até a velhice, e seu filho permaneceu incorrupto. Se for assim, quando ele trouxe sua esposa, a quem amava zelosamente, para o meio dos apóstolos, ele estava evidentemente renunciando à sua paixão; e quando usou a expressão “abusar da carne”, estava inculcando autocontrole diante dos prazeres que são ansiosamente buscados. Pois suponho que, de acordo com a ordem do Salvador, ele não desejava servir a dois senhores, o prazer e o Senhor” (O Stromata, ou Miscelâneas, Livro III, 4).

Conclusão

Em suma, tanto Irineu quanto Hipólito e Vitorino afirmam que a “doutrina dos nicolaítas” era semelhante à “doutrina de Balaão”, a qual é a mesma “doutrina de Jezabel” descrita em Apocalipse (cf. Ap 2:14,15,20), que se baseava em comer coisas sacrificadas aos ídolos e em praticar a imoralidade sexual. Já Eusebio concorda com Clemente de Alexandria, dizendo que o diácono Nicolau foi mal compreendido por aqueles que criaram tal heresia e usurparam seu nome, chamando a si mesmos de “nicolaítas” e nada citam acerca de comer coisas sacrificadas aos ídolos (cf. At 15:20; 21:25).

Felipe Morais é servo temente ao Senhor, e atua como pastor na Igreja Batista do Reino. Pós-graduado em Teologia, é um biblicista apaixonado pelas Escrituras. Comentarista, escritor e cronologista bíblico, atua como professor no YouTube pelos canais Curso Bíblico Online e Devocional Bíblico Online.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: As Cartas às 7 Igrejas – Éfeso

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