“Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal” (Provérbios 3:7).
A discussão acerca da legalidade ou não do divórcio ao longo da História, no meio religioso, nunca me preocupou. A existência do divórcio civil nunca constituiu, para DEUS, uma ameaça ao casamento lícito aos olhos Dele (primeiro de ambos). A possibilidade da dissolução familiar a partir de uma lei civil e humana e, consequentemente, de um segundo “casamento”, em que um dos pretendentes, no mínimo, seja divorciado, só assusta e amedronta aqueles cuja fé ainda não está perfeitamente firmada no Poder de DEUS nem na simplicidade do que afirma a Sua Santa Palavra.
De resto, são filosofias vãs, confusões provenientes de mentes perturbadas, religiosas, inflamadas e contaminadas com aquilo que o paganismo, o secularismo e o maligno introduziram no seio da igreja, com o consentimento de suas lideranças.
JESUS CRISTO nem os apóstolos nunca deixaram dúvida nos assuntos referentes à família e ao casamento. Ao contrário, a exegese bíblica sobre esses dois tópicos é muito simples e converge para uma só conclusão: o casamento é apenas um, criado e testemunhado por DEUS, e a família igualmente indissolúvel. Mas, nem por isso, posso me negar a buscar mais informações sobre esse efeito diabólico chamado divórcio, criado por homens não tementes ao SENHOR JESUS, e digerido, repito, por mentes fracas, doentes e religiosas.
As dificuldades de entender os conselhos de DEUS a serem aplicados na humanidade sempre existiram e sempre vão existir. Elas surgiram até mesmo quando da discussão se o CRIADOR DEUS realmente existiu ou não, se ELE não é apenas produto da imaginação e alienação humanas. As discussões sobre a origem das coisas causaram controvérsias e criaram lugares seguros para os seus apaixonados, adeptos admiradores. Com o tema casamento não foi diferente. Afinal, essa instituição divina, no decorrer dos anos e dos anseios humanos, foi sendo adaptada, transgredida, adulterada e roubada, segundo os vis interesses do homem. Fizeram isso com a própria Palavra de DEUS, a Essência Maior, da qual intitularam de Livro Sagrada. A verdade é que até mesmo essa Palavra não escapou das ações malignas dos homens. Ela, igualmente, foi corrompida, traduzida pessimamente milhares de vezes; acrescentada, diminuída, deturpada. Poderia aqui citar dezenas e dezenas de versículos, mas me deterei em apenas um, do Antigo Testamento, aquele que os defensores do divórcio mais usam para justificá-lo:
“O Senhor Deus diz: - se um homem se divorciar da sua mulher, e ela o deixar para casar com outro, o primeiro marido não poderá casar com ela outra vez. Isso mancharia completamente a terra de Israel. Mas você, meu povo, tem tido muitos amantes e agora quer voltar para mim! Sou eu, o SENHOR, quem está falando” (Jeremias 3:1) (Nova Tradução na Linguagem de Hoje – Sociedade Bíblica do Brasil, pág. 765).
“Se um homem despedir a sua mulher, e ela se ausentar dele, e se ajuntar a outro homem, tornará a ele mais para ela? Não se poluiria de todo aquela terra? Mas tu te maculaste com muitos amantes; tornaria agora para mim? Diz o Senhor.” (Jeremias 3:1) (Bíblia de Referência Thompson, Almeida Edição Contemporânea. Editora Vida, pág. 680).
“Eles dizem: Se um homem despedir sua mulher, e ela o deixar, e se ajuntar a outro homem, porventura tornará ele outra vez para ela? Não se poluiria de todo aquela terra? Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas ainda assim, torna para mim, diz o Senhor” (Jeremias 3:1) (Bíblia de Estudo Scofield, Almeida Corrigida Fiel – Sociedade Bíblica Trinitariana, pág. 660).
Pergunto: os três exemplos transcritos acima, retirados de casas publicadoras diferentes, contêm a mesma informação? Qualquer leitor, com um pouco de atenção e o mínimo de letramento, concluirá que não. A primeira versão, a mais deturpada entre todas, começa dizendo que as palavras iniciais são de autoria do próprio DEUS e termina com uma ideia exclamativa do SENHOR como se ELE estivesse rejeitando a volta de um povo, que O traiu, para a Sua presença. A segunda se inicia simplesmente reproduzindo um trecho da lei permissiva de Moisés para os judeus, transcrita em Deuteronômio 24:1-4, sem citar diretamente a autoria. Conclui, não mais com uma exclamação, mas com uma pergunta de DEUS, afirmando que tornar para DEUS, após muitas máculas, fosse algo impossível. A última e mais fiel aos primeiros textos começa atribuindo aos judeus, e não mais a DEUS (“Eles dizem...”), a afirmação inicial do versículo. Encerra-se com um chamado de DEUS para o povo (“torna para mim”), que se prostituiu com muitos amantes, a se arrepender e voltar para os Seus braços. Finalmente, é preciso elucidar que a lei escrita por Moisés não era da vontade de DEUS e foi assinada apenas por causa da dureza do coração dos judeus, segundo mesmo afirmou JESUS em Mateus 19:8.O hall das confusões e das contradições não se encerra por aqui. Ele se alastrou para todos os temas ensinados por JESUS e Seus apóstolos. O assunto matrimônio foi um dos mais atingidos. A falta de uniformidade na aplicabilidade desses ensinamentos surgiu com a tentativa do homem de querer reinterpretar, à maneira dele, muitas vezes sem uma exegese segura, toda a plataforma de conhecimentos deixados por JESUS para a Sua igreja. Segundo a Enciclopédia Moderna, editada em 1853, por Renier, volume 12, em Paris, a igreja primitiva era completamente fechada na questão da indissolubilidade absoluta do casamento. Mais tarde, o assunto dividiu considerados doutores do conhecimento. Epifânio, Ambrósio e alguns outros, defendiam um conceito mais liberal: a permissão do divórcio em caso de adultério. Já Santo Agostinho, Gladstone e outros, apregoaram a indissolubilidade absoluta. Houve muitos concílios a favor de romper o casamento em caso apenas de infidelidade conjugal, como os de Verbéria e Compiègne. Por exemplo, o imperador Lotário adotou o conceito mais liberal, e apenas o fez pela exigência do papa Nicolau I, que, por sua vez, abandonou as teses romanas sobre casamento. Os defensores da corrente divorcista enxergavam uma suposta cláusula de exceção em Mateus 5:32 e 19:9 para justificar as suas ideias.
Essa flutuação de pensamentos acerca do casamento atingiu o seu ápice com o surgimento da Reforma Protestante. Antes dela, a igreja católica se posicionava radicalmente contra a dissolubilidade do matrimônio. Segundo o edito de Milão, de 313, o paganismo, ao se converter, reagiu dentro da fé cristã e trouxe mudanças que a igreja teve de ceder. Mas foram os reformadores, chamados de protestantes, que mais contribuíram para que o câncer da dissensão familiar se instalasse no seio da igreja cristã. Quiseram ser novos, diferentes, contrários a tudo o que ensinava o catolicismo romano, contra a venda das indulgências e outras coisas mais, mas, ao mesmo tempo, terminaram criando um profundo câncer para as famílias. O capítulo XXIV, da “Confissão de Fé”, adotada em 1649, pela Assembleia Eclesiástica, reunida em uma das salas da Abadia de Westminster, e convocada pelo Parlamento Inglês, expressa-se, dessa maneira, em um dos seus principais tópicos:
“O adultério ou fornicação cometidos depois de um contrato, sendo descoberto antes do casamento, dá a parte inocente justo motivo para dissolver o contrato. No caso do adultério depois do casamento, à parte inocente é lícito propor divórcio, e depois de obter o divórcio, casar com outrem, como se a parte infiel fosse morta (Mateus 1:18-20; 5:31-32; 19:9)”.
Entenda bem: não foram os céticos, mas os protestantes, os que se consideravam salvos, filhos de DEUS, que fizeram a vergonha geral, o escândalo maior do Evangelho de CRISTO. Eles, ao contrário de toda hermenêutica bíblica sobre casamento, disseram que em caso de adultério a parte inocente estaria liberada para um novo casamento, como se o seu cônjuge estivesse morto. JESUS disse que “o homem que se unisse a uma mulher rejeitada pelo marido se tornaria adúltero com ela” (Lucas 16:18).
A graça de DEUS e o perdão de JESUS, em nenhum momento, entraram nas prerrogativas dos reformadores. Destituir o adúltero de qualquer possibilidade de arrependimento é, no mínimo, uma agressão aos ensinamentos de JESUS. Tratá-lo como morto é o desejo de aplicar a lei mosaica da morte por apedrejamento. Nesse caso, um apedrejamento sem pedras e sem esperança de salvação. JESUS não veio para entregar os pecadores ao inferno, mas para livrá-los dele. O sentido maior de Sua morte na cruz é a reconciliação com DEUS dos que estavam perdidos.
Em 1954, as ideias reformadoras finalmente foram outorgadas pelas igrejas protestantes no Brasil, a partir da Confederação Evangélica do Brasil, com sede no Distrito Federal. Através de um manifesto oficial, amplamente divulgado, fez explícita e clara exposição dos princípios e costumes evangélicos relacionados com o Casamento, a Família e o Divórcio, aceitando exatamente tudo o que fora determinado na referida “Confissão de Fé”.
Hoje, os países de maioria protestante são os maiores amigos do divórcio em caso de adultério e do recasamento. Claro que os motivos atualmente passam longe do rigor de se admitir o divórcio apenas em caso de adultério. Por qualquer coisa, por qualquer motivo fútil, simplesmente com as alegações mais imbecis e covardes, destituem uma família a preço de nada. O Evangelho que se ensina na maioria dos templos ditos “evangélicos” é o de facilidades, onde o eu humano está muito acima da obediência à Palavra de DEUS.
Esses protestantes passaram muitos anos agredindo católicos romanos com a bandeira da divisão e da discórdia, taxando-os de idólatras e perdidos. Nunca procuraram oferecer-lhes, de forma sábia e amorosa, o novo nascimento por meio de CRISTO JESUS. Esses mesmos, que se sentem muito felizes ao saber que os católicos romanos são idólatras e que, somente eles (os protestantes) serão salvos, esquecem-se de que, no Grande DIA, se houver um idólatra e um adúltero diante de JESUS, nenhum dos dois irá subir para a glória de DEUS. Basta que leiam 1 Coríntios 6:9-10.
A melhor e mais perfeita compreensão da suposta cláusula de exceção presente em Mateus 5:32 e 19:9 foi lida por mim em uma Bíblia católica, a Bíblia de Jerusalém (editora Paulus, páginas 1874 e 1875), a qual faço questão de reproduzir aqui na íntegra para o conhecimento de todos:
“Dada a forma absoluta das passagens paralelas Marcos 10:11, Lucas 16:18, 1 Coríntios 7:10, é pouco verossímil que os três tenham suprimido uma cláusula restritiva de Jesus. É mais provável que um dos últimos redatores do primeiro Evangelho a tenha acrescentado a fim de responder a certa problemática rabínica (discussão entre Hilel e Shamai sobre os motivos que legitimavam o divórcio), sugerida aliás pelo contexto (vers. 3) e que podia preocupar o meio judaico-cristão para o qual escrevia. Ter-se-ia assim aqui uma decisão eclesiástica de alcance local e temporário, como foi o decreto de Jerusalém referente à região de Antioquia (Atos 15:23-29). O sentido de pornéia orienta a pesquisa na mesma direção. Alguns querem ver aí a fornicação no casamento, isto é, o adultério, e assim acham aqui a permissão de divorciar em caso semelhante; é o que fazem as igrejas ortodoxas e protestantes. Mas nesse sentido seria de esperar outro termo, moicheia. Ao contrário, no contexto, pornéia parece ter o sentido técnico de venût ou “prostituição”, como se encontra nos escritos rabínicos, o qual se aplica a toda união tornada incestuosa em virtude de um grau de parentesco, interdito pela lei (Lev. 18). Uniões semelhantes, legalmente contratadas entre os pagãos ou toleradas pelos próprios judeus no caso de prosélitos, deviam ter criado dificuldades nos meios judaico-cristãos legalistas como o de Mateus; quando tais pessoas se convertiam: daí a ordem de romper essas uniões irregulares que não eram, em suma, senão falsos casamentos.
Outra solução sugere que a licença concedida pela cláusula restritiva não se referia ao divórcio, mas a “separação” sem novo casamento. Tal provisão era desconhecida do Judaísmo, mas as exigências de Jesus levaram a mais de uma solução nova e esta já é claramente suposta por Paulo em 1 Coríntios 7:11” (grifos meus).
Por fim, se JESUS não aceita em hipótese alguma um novo casamento, enquanto os cônjuges estiverem vivos, mesmo que DEUS não considere o divórcio, a única solução restante para quem se encontra separado (a) do seu cônjuge é buscar em CRISTO a restauração da família, que DEUS uniu e abençoou. Muitas vezes DEUS permite que situações adversas aconteçam, como as separações, para que o Poder DELE seja manifestado. Assim, ELE tem feito. Assim, ELE sempre fará.
Basta que a pessoa tenha só um pouco de sensatez e sensibilidade na alma para entender que sem perdão, ela jamais alcançará o Céu. Dessa maneira, digo a todos com muita tranquilidade e fé: NÃO DESISTAM DOS SEUS CÔNJUGES, ainda que o divórcio já tenha sido assinado, ainda que seu marido ou esposa esteja opressa, servindo a satanás e com o coração endurecido. DEUS é poderoso para reverter qualquer quadro e fazer nova uma história. Que DEUS nos abençoe!
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é Pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
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