O livro de Salmos é uma coletânea de cento e cinquenta poemas. Este é o maior livro da Bíblia e foi dividido, à semelhança dos Pentateuco, em cinco livros: 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150. Esses cento e cinquenta Salmos foram escritos por vários autores, desde Moisés a Davi, Salomão, Asafe, os filhos de Coré, Hemã, Etã e vários outros autores anônimos. Os Salmos foram escritos num período de aproximadamente mil anos, uma vez que temos um Salmo de Moisés (90), que viveu mil e quinhentos anos antes de Cristo e temos Salmos pós-cativeiro babilônico (126), ocorrido próximo ao ano quinhentos antes de Cristo.
Davi é o autor da quase a metade dos Salmos. Muitos Salmos anônimos são atribuídos a ele, por parte de destacados eruditos. Isso faria de Davi o autor da maioria dos Salmos. Inobstante os Salmos expressarem, nitidamente, a realidade dos escritores, seja de alegria ou tristeza, certeza ou temores, fé ou dúvida, estes poemas são inspirados pelo Espírito Santo e fazem parte do cânon sagrado.
Toda a Escritura é inspirada por Deus. A Escritura é a inerrante Palavra de Deus que fala a nós; os Salmos, todavia, falam também por nós. Transbordam desses poemas as mais diversas experiências vividas pelos escritores. Por isso, temos Salmos de louvor, Salmos de lamento, Salmos de penitência, Salmos imprecatórios, Salmos de romagem e Salmos messiânicos. Esses poemas foram compostos para serem cantados pelo povo de Deus e eram uma expressão de sua fé. Os Salmos expressam as alegrias da vida e as dores da jornada, os arroubos do entusiasmo e o abatimento da alma. Os picos ensolarados da esperança e os valores profundos do desespero. Os Salmos são uma radiografia da alma, um termômetro da vida espiritual. Eles falam da alegria da salvação, do deleite que temos na Palavra e alertaram para a malignidade horrenda do pecado.
O livro de Salmos é, mui provavelmente, a porção mais lida nos cultos público e nas devocionais pessoais. Eles são cânticos e, também, orações. Em virtude desses poemas retratarem a experiência de seus escritores, são mais facilmente compreendidos e mais facilmente aplicados ao nosso cotidiano. Os Salmos, na verdade, foram e ainda são a parte mais importante da hinódia de muitos cristãos. Os reformadores metrificaram os Salmos e cantaram os Salmos. Os Salmos falam a nós e por nós. São uma estrada de pista dupla. Por meio dos Salmos Deus fala conosco e por meio deles falamos com Deus.
O livro de Salmos tem sido fonte inesgotável de consolo. Compartilhamos sua mensagem nos tempos de alegria e, também, para expressar nossas angústias. Os Salmos são lidos em festas de aniversário e, também, nos funerais. São lidos nas reuniões públicas e, também, no recesso do nosso quarto.
Muito embora, os Salmos não têm como escopo principal dar-nos um arcabouço teológico e doutrinário, eles estão cheios de doutrina. As grandes doutrinas da fé cristã estão presentes nessa coletânea de poemas: a doutrina das Escrituras; a doutrina da Pessoa de Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo; a doutrina da criação e da providência; a doutrina do homem, do pecado e da redenção; a doutrina dos anjos e a doutrina da igreja; a doutrina da segunda vinda de Cristo, da ressurreição dos mortos e do juízo final. É de estranhar, portanto, que o livro de Salmos seja o livro do Antigo Testamento mais citado no Novo Testamento.
Minha oração é que o mesmo Espírito que inspirou este precioso e amado livro da Bíblia nos desperte para sua leitura e meditação. Que a mensagem dos Salmos seja para nós mais preciosa do que muito ouro depurado e mais doce ao nosso paladar do que o mel e o destilar dos favos. Que haja em nosso coração um renovo de amor à Palavra e um apego a esses poemas dados por Deus para a edificação da sua igreja.
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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