Eu sei em quem tenho crido

As agruras vividas por Paulo em obediência ao seu chamado apostólico.

fonte: Guiame, Hernandes Dias Lopes

Atualizado: Terça-feira, 21 Maio de 2019 as 4:04

(Foto: Eloy Alonso/Reuters)
(Foto: Eloy Alonso/Reuters)

“E por isso estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.12).

Paulo está preso em Roma pela segunda vez. Agora, não mais com certas regalias, mas jogado na masmorra Marmetina, um lugar úmido, frio, insalubre e nauseabundo. Esse bandeirante do cristianismo já está velho e cheio de cicatrizes. Pesa sobre ele a imputação do mais severo crime. Acusam-no de ser o líder dos incendiários de Roma. A mais rica, a mais poderosa, a mais populosa cidade do mundo, a cidade de Roma, a capital do império, ardeu em chamas sete noites e seis dias, de dezessete de julho a vinte e quatro de julho do ano 64 d.C. Setenta por cento da cidade foi atingida pelas chamas. Esse crime horrendo foi colocado na conta dos cristãos. Como resultado, houve um massacre sangrento contra eles. Foram crucificados e queimados vivos para iluminar as noites de Roma. Paulo, como o líder mais conhecido dos cristãos ocidentais, foi preso e jogado nessa prisão imunda, de onde as pessoas saíam leprosas ou para o martírio.

Como consequência disso, algumas coisas aconteceram, como veremos:

Em primeiro lugar, Paulo é acusado de malfeitor (2Tm 2.9). O veterano apóstolo, que plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor, está preso, como um bandido, como um criminoso, pesando sobre ele a imputação do crime bárbaro de ser o líder dos incendiários da capital do império. Jogaram lama no nome desse homem de Deus. Arruinaram sua reputação. Assacaram contra ele os mais pesados libelos acusatórios. Desconstruíram sua imagem e transformaram-no num desordeiro impiedoso.

Em segundo lugar, Paulo é abandonado pelos seus filhos na fé (2Tm 1.15). Todos os da Ásia o abandonaram. Esses eram membros das igrejas da Ásia, igrejas que Paulo plantou direta ou indiretamente. Esses crentes conheciam Paulo. Sabiam de sua vida irrepreensível. Conheciam seu caráter impoluto e sem jaça. Tinham plena convicção de que ele era inocente e que as pesadas acusações contra ele eram uma clamorosa injustiça. Porém, esses irmãos fracassaram na coragem. Acovardaram-se e deixaram Paulo sozinho, em vez de se posicionarem em seu favor.

Em terceiro lugar, Paulo é vítima do constrangimento de Timóteo, seu filho mais achegado (2Tm 1.8). O próprio Timóteo, seu mais próximo colaborador, seu filho amado, sentiu vergonha das algemas de Paulo. Ficou constrangido em posicionar-se publicamente em favor do velho apóstolo. Mesmo sabendo que as acusações eram falsas e que não cabia a Paulo a alcunha de malfeitor, calou sua voz e ficou envergonhado de defendê-lo. Talvez, de todos os esbarros que Paulo sofreu, este foi o que mais lhe comoveu. Saber que até mesmo seus amigos mais próximos, ficaram constrangidos de sair em sua defesa.

Em quarto lugar, Paulo é vítima de ingratidão e abandono na sua primeira defesa (2Tm 4.16). Mesmo sendo acusado de um crime tão grave, Paulo teve direito de defesa. Porém, em sua primeira defesa, na audiência onde deveria apresentar suas alegações de inocência, ninguém apareceu por lá para defendê-lo. Ao contrário, todos o abandonaram. Não fora a assistência do Senhor, para revestir-lhe de forças e Paulo teria sucumbido. Paulo sofre a dor da ingratidão daqueles que conheciam seu testemunho ilibado e que foram fruto de seu frutífero ministério.

Em quinto lugar, Paulo é sentenciado a pena de morte, mesmo sendo inocente (2Tm 4.6). Paulo escreve para Timóteo sua segunda epístola como um homem no corredor da morte, aguardando o dia de sua execução. Não escreve para estadear sua revolta, mas para dizer que o Senhor o revestiu de forças. Para afirmar que valeu a pena viver, pois seu combate foi um bom combate, sua carreira foi concluída e sua fé foi preservada. Escreve para dizer que sua morte era uma oferta ao Senhor e que à sua frente estava a coroação e não meramente o martírio. Escreve para dizer que sua fé estava inabalável e a âncora de sua esperança estava firmada em Cristo. Por isso, diz: “… eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2Tm 1.12). Oh, inabalável convicção da glória! Oh, esperança bendita!

Texto originalmente publicado em hernandesdiaslopes.com.br

Por Hernandes Dias Lopes - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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