A igreja é o povo chamado para fora do mundo, para estar no mundo, mesmo não sendo do mundo, para exercer no mundo misericórdia. Evangelização e ação social não estão em conflito, mas completam-se. A igreja apostólica ao mesmo tempo que levou o Evangelho às províncias do império romano, plantando igrejas e alargando as fronteiras do reino de Deus, socorreu os pobres (Gl 2.10; 2Co 8.1-4). A ação social não é um substituto do Evangelho, mas uma demonstração de sua eficácia. Socorrer os aflitos em suas necessidades não é um método de evangelismo, mas uma demonstração da misericórdia de Deus. As boas obras não são a causa de nossa salvação, mas o resultado dela. Somos salvos pela graça, mediante a fé, para as boas obras. Não somos salvos pela fé mais as obras, mas somos salvos pela fé, para as boas obras. Destacaremos três verdades solenes sobre esse magno assunto:
Em primeiro lugar, a igreja é o povo que manifesta ao mundo a misericórdia de Deus. A igreja alcançada pela graça, demonstra ao mundo a misericórdia divina, através de atos concretos de bondade. Devemos demonstrar amor prático aos membros de nossa família, aos domésticos da fé e até mesmo aos nossos inimigos. Nosso amor não deve ser apenas de palavras. Não podemos despedir vazios os famintos nem tapar os ouvidos ao clamor do aflito. Seremos julgados no dia do juízo não só pelas nossas ações, mas também pela nossa omissão. Dar pão ao faminto, água ao sedento, roupa ao nu, abrigo ao forasteiro e visitar os presos e enfermos são demonstrações concretas do amor cristão. Nossa profissão de fé ortodoxa, pregada e cantada dentro do templo precisa ser demonstrada no amor ao próximo fora dos portões.
Em segundo lugar, a igreja é o povo que demonstra o seu amor por Deus ao amar de forma prática os necessitados. Não podemos dizer que amamos a Deus a quem não vemos se não amamos o nosso próximo a quem vemos. O apóstolo João escreve: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17). Tiago corrobora: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tg 2.14-17). O sacrifício que agrada a Deus é o exercício da misericórdia. Na imortal parábola do “bom samaritano”, Jesus destacou que o nosso próximo é todo aquele que está ao nosso alcance, precisando de nosso socorro (Lc 10.25-37). O profeta Isaías foi enfático quando disse que o jejum que Deus requer do seu povo é que ele reparta o seu pão com o faminto, recolha em casa os pobres e desabrigados, cubra o nu e não se esconda de seu semelhante (Is 58.7).
Em terceiro lugar, a igreja é o povo que faz do socorro ao necessitado um culto de adoração a Deus. O apóstolo Paulo chamou a oferta recebida da igreja de Filipos de sacrifício aceitável e aprazível a Deus (Fp 4.18). Quando estendemos as mãos para socorrer o necessitado à nossa porta, isso sobe à presença de Deus como aroma suave. A Bíblia diz que as orações e as esmolas de Cornélio subiram para memória diante de Deus (At 10.4). O sacrifício que agrada a Deus é o exercício da misericórdia. O autor aos Hebreus afirma: “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb 13.16). Quando as boas obras da igreja são vistas na terra, Deus é glorificado no céu (Mt 5.16). Quando o serviço da assistência da igreja supre as necessidades dos santos, isso redunda em muitas graças a Deus (2Co 9.12). Ajudar o próximo não deveria ser visto por nós como um pesado dever, mas como uma graça, como um favor imerecido de Deus. O apóstolo Paulo diz que os crentes da Macedônia pediram com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos (2Co 8.4). É hora, portanto, de amarmos o nosso próximo, fora dos portões, não apenas de palavra, mas de fato e de verdade (1Jo 3.18)!
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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