N os tempos da boa música Chico Buarque escreveu uma canção antológica que dizia: Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu... Esse sentimento de vazio e desvalor é experiência comum a todos. Vez por outra nos pegamos assim. O verbo sentir seria facilmente definido se tão somente pudéssemos dizer que a experiência se resume ao conjunto de informações e impressões capturadas pelos sentidos naturais. Entretanto, para além dos elementos que nos invadem pelas vias sensoriais, e que sem dúvida modelam parte dos sentimentos, existem outros condimentos que de fato ditam rumo e ritmo da forma como sentimos.
F orças intrapsíquicas modificam constantemente nossas emoções deixando nosso mundo interior como se atingido por uma tormenta; Um vento tempestuoso sopra forte e de uma hora para outra tudo se alvoroça dentro em nós, deixando-nos internamente destroçados, como se tivéssemos nos colocado desavisadamente na rota de um furacão. Vemo-nos amedrontados, inseguros, ansiosos... Ainda que contenhamos as emoções maquiando sua manifestação orgânica, choramos e sangramos por dentro. Parte desse transtorno faz-se desnecessário. Ainda que algumas dessas situações nos pareçam terríveis no momento, poucas duram mais que um par de dias. Isto para fazer valer a sabedoria popular que afirma: Nada como um dia após do outro.
N em tudo, entretanto, é assimétrico no campo do sentir. Tem dias que a gente se sente bem. Geralmente nos dias que nos sentimos bem, também nos sentimos bonitos. Como parece, tudo depende de como se sente. Se me sinto bonito, inevitavelmente isto é assim porque estou me sentindo bem. É a corda e a caçamba. Caramba! Como esse ditado é velho! A propósito, há dias também em que nos sentimos velhos, ranzinzas... outros ainda, miseráveis e desprezíveis... ora inflacionamos, ora deflacionamos nosso valor intrínseco,. Eita! Quanto sentir! É preciso aprender a negociar com tantas emoções.
A lgumas pessoas têm uma habilidade natural no manejo das emoções, outras são lastimavelmente ineptas em tal arte. Agimos em muitos casos como analfabetos funcionais. Até conseguimos ler o texto emocional mas não conseguimos interpretá-lo de maneira correta. Daí o conflito intra e interpessoal. Não precisamos ficar a mercê do torvelinho emocional. Felizmente há meios para se lidar com o sentir. Tais meios, entretanto, estão reservados a um punhado apenas daqueles que apresentam disposição para ler, estudar e conhecer esse terreno por demais escorregadio, onde poucos conseguem transitar sem muitos acidentes. Enquanto não se adquire habilidades especiais para lidar com esse assunto o melhor a fazer seria dar ouvidos ao sábio conselho de São Tiago que diz: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. (Tg 1.19)
Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.
- Clique no link para ver o vídeo do livro "O PODER DO FOCO"
- Clique no link para ver vídeo do livro "A INTELIGÊNCIA DO EVANGELHO"