“Estás enredado pelos teus lábios, estás preso pelas palavras da tua boca.” As palavras do sábio Salomão, registradas no livro bíblico de provérbios, apesar de terem sido escritas há mais de 1000 anos, resumem uma verdade que os milênios não podem modificar. Uma pessoa pode se complicar, e muito, de acordo com aquilo que fala. Temos visto no Brasil dos últimos dias pessoas importantes sendo julgadas e sentenciadas à prisão por seus ilícitos. O método infalível e mais ostensivamente utilizado pela polícia federal tem sido o famoso “grampo”, ou escuta telefônica. Os réus têm tido suas vidas complicadas, deixando os esforços da defesa praticamente insustentáveis. Estão enredados pelos seus lábios, presos pelas palavras de suas bocas.
A verdade referida é uma régua que mede a todos de modo equânime. Ninguém pode escapar ao seu rigor. Pode-se tentar escamotear, como fazem nossos agentes públicos que, ad nauseam, a cada oportunidade, desavergonhadamente, negam ciência dos crimes à eles atribuídos. Podem se vitimizar, alegar lisura, invocar os acertos para acobertar os erros, só não podem escapar daquilo que suas próprias boca falaram. As palavras prendem. A justiça talvez fosse mais branda se houvesse da parte de certos réus a honestidade e a coragem de um mea culpa. Esta confissão franca, entretanto, demanda um exame de consciência que nem todos estão dispostos a enfrentar pois sabem que no tribunal de suas próprias consciências seriam condenados.
As vidas de centenas de políticos estão muito complicadas porque tiveram suas falas gravadas e sem saber produziram provas robustas contra eles mesmos. Estão enredados pelos lábios, presos pelas palavras de suas próprias bocas. O caso dos grampos telefônicos é um alerta para todos nós. Sempre há alguém nos observando, ou até mesmo nos bisbilhotando, buscando em nós um deslize para nos enviar para o limbo. Quando mais tarde estivermos no terreno do conflito podem recorrer ao que falamos e usar nossas próprias palavras como munição. Guardar nossa boca diante dos outros revela estratégia, mas não necessariamente virtude ou sabedoria. Mesmo que não haja alguém nos observando, gravando nossa fala, ainda assim precisamos nos guardar e entender que nossas palavras produzirão seus frutos. Elas nunca voltam vazias. Funcionam como sementes e produzem segundo sua espécie. Para bem ou para mal as palavras criam a nossa realidade, governam nosso mundo físico, psicológico, mental, emocional, espiritual…
Há pessoas que usam sua boca de modo desastrado, falando o que querem, sem reflexão. Poucos desconfiam que o destino está sendo tecido pelas palavras de suas bocas. O mesmo Salomão diz em Provérbios 18.7 que “a boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma”. Dezenas de horas de gravação de conversas de certos atores políticos revelam os personagens em seus bastidores. O teor das conversas e a qualidade dos argumentos, demonstram o modo como funcionam. Suas próprias bocas se incumbem de remover-lhes as máscaras. Estão presos pelas palavras de suas bocas!
Vamos, entretanto, deixar por um pouco o poder de destruição das palavras e vamos voltar nossos olhos para aquilo que podem produzir de bom. Nossas palavras podem produzir aquilo que quisermos. Somos seres de linguagem. Fomos estruturados linguisticamente. Fomos desenhados para funcionar de modo linguístico. É no continente da linguagem que se encontram nossos maiores problemas bem como nossas maiores delícias. As palavras evocam os mais variados sentimentos e provocam as mais diversas emoções. Estão sempre carregadas por uma espécie de energia ainda não compreendida, que acende ou apaga a luz, motivando ou desmotivando, alegrando ou entristecendo, criando ou destruindo…. Já que a palavra tem todo esse poder, precisamos leva-la a serio! Se, conforme o texto de Salomão, as palavras da minha boca podem me prender, o oposto também será verdadeiro. Do mesmo modo que prendem, também libertam… Podem destruir, mas também podem construir… Podem adoecer, mas também podem curar…
Há aqueles que sabem do impacto que suas palavras podem produzir e usam suas línguas com sabedoria. Em Provérbios 10.11 o sábio diz que “a boca do justo é fonte de vida”. Estes sabem que tudo está relacionado a palavras. Sabem que elas regulam a temperatura do nosso mundo e providenciam o estofo para a criação da realidade que nos envolve. Sabem que cada um se farta do fruto de sua própria boca. O sábio em seu livro maravilhoso chega ao ponto de dizer que a vida e a morte estão no poder da língua! (Prov 18.21) e diz que quem bem a utiliza comerá o seu fruto! Uau!! Por essas, e por muitas outras razões que não cabem aqui neste breve texto, use bem a sua boca, escolha as melhores palavras, use-as com graça e sabedoria, construa os melhores e mais elegantes argumentos… Pode esperar uma temporada de frutos doces. A vida, sem dúvida, vai lhe sorrir!
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