Zeus, o deus supremo dos gregos, apesar de conduzir-se de modo questionável para a nossa ética, pois que, juntamente com todos os outros condôminos do Olimpo, se prestava a intrigas e ciúmes - próprios dos pecaminosos mortais -, até que apresenta aqui e ali um julgamento coerente, como que atingido pelo lume do bom senso.
Na verdade o bom juízo de Zeus é produto da mente de um dos brilhantes filhos dos homens. Justiça seja feita, é Homero quem coloca nos lábios de Zeus a frase atribuída ao deus supremo dos helenos: ''( ) os homens estão sempre a censurar os deuses, porque dizem que os seus problemas vêm de nós; enquanto são eles que, pelos seus atos perversos, incorrem em mais problemas do que precisam''.
A frase, encontrada na ''Odisséia'', é uma observação que expressa o enfado dos deuses, cansados de terem que ouvir dos homens que a culpa pelos seus infortúnios procede deles. Os deuses pagãos se cansam de tanta choradeira; até o DEUS! Ele é quem pergunta: ''Do que se queixa o homem mortal? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados''. (Lm 3.39 )
As nossas queixas são quase sempre desonestas. Injustas se observadas em seu nascedouro. Nossos projetos desandam por falta, na maioria de vezes, de prudência entre outros ingredientes necessários na receita do sucesso. Os deuses, ou o DEUS, pouco tem a ver com esses desacertos que fazem com que os homens representem frequentemente aquele papel de paspalhos chorões.
Recuse-se a fazer coro com esses queixosos que vivem a lamuriar a sorte e nunca chamam a responsabilidade para si. Reclamar da sorte e dos deuses para justificar os impasses e entraves da vida é um expediente infantil, e pior, inócuo, pois de nada valerá para melhorar as circunstâncias já suficientemente sofríveis em que a alma moribunda se encontra.
O dia em que chegarmos à esse grau de amadurecimento certamente enfrentaremos os fatos de maneira mais serena e positiva, o que nos ajudará a encontrar saídas mais óbvias para os nossos dilemas. Não deixaremos de sofrer, mas uma coisa e certa, sofreremos menos, pois os queixumes incoerentes além de nada resolverem, ampliam o quadro de angústia fazendo com que soframos além da razão.
Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.
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