“Você não precisa desistir do seu intelecto para crer na Bíblia. Você precisa desistr do seu orgulho.” R. C. Sproul
Eu nasci praticamente em berço evangélico, já que minha mãe “aceitou a Jesus” quando eu tinha aproximadamente 4 anos de idade e, em diversos momentos durante minha vida na igreja ouvi que “a letra mata”, ou ainda, “ir para a faculdade” ou “estudar teologia” faria com que alguém “esfriasse na fé”. Outra percepção geral que também era muito disseminada, era a dualidade entre o estudo da Bíblia e a espiritualidade expressa na manifestação dos dons carismáticos.
Ou seja, tínhamos basicamente duas alas na igreja, a ala dos irmãos que buscavam a manifestação dos dons, muitas vezes desprovida de um conhecimento sólido dos ensinamentos bíblicos, e a ala daqueles que estudavam a Bíblia, muitas vezes de forma academicista até.
Bem, caminhando, aprendendo e buscando a Deus, entendi que a Bíblia é a maior espada, a maior e mais poderosa arma espiritual de que podemos dispor, a mesma arma que foi utilizada com êxito por Jesus quando foi tentado pelo diabo, e a mesma que não envelhece, e perdurará por toda a eternidade.
Deus nos deixou duas grandes literaturas a serem contempladas, observadas, lidas e vividas. A Bíblia, textual, não contraditória e infalível, e a natureza, que expressa e glorifica as obras do Criador, ainda que esteja sob as consequências do pecado e da morte. Contemplar o texto bíblico e a natureza, nos relacionarmos com estes conhecimentos nos levará para mais perto do autor delas, de forma a conhecê-lo melhor, seu pensamento, suas intenções, seus conhecimentos e sua sabedoria.
Chamo este processo de estudo de “redimir o conhecimento”, ou seja, corrigir as motivações de buscar decodificar as profundas e complexas informações que estão disponíveis na natureza.
Não busco provar a existência de Deus através da ciência ou dos conhecimentos possíveis, mas parto do princípio lógico, filosófico e inexorável de que a existência do nosso universo conhecido depende da existência de algo que lhe seja anterior e não dependente. Isso confere em alto grau com alguém a quem chamamos de Deus!
A boa ciência leva o homem a Deus
“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.” Louis Pasteur
Talvez a área da ciência em que mais eu vejo a presença de Deus é a matemática. O próprio termo grego “máthema” significa “o que pode ser aprendido”, ou seja, o que podemos depreender da observação da natureza, ou de tudo aquilo que pode ser observado no mundo real.
Galileu Galei teria dito que “a matemática foi o idioma com o qual Deus criou o universo”, e inúmeros outros cientistas testificaram o quanto encontraram as marcas do Criador em seus estudos.
Somando todas estas informações, afirmo que Deus está se revelando à humanidade desde a criação, mas nós nos afastamos dEle pelo pecado e isso chegou a tal ponto que muitos de nós (cristãos) já não encontram Deus sequer nas páginas da Bíblia.
A Bíblia e Deus
A despeito deste distanciamento, Deus segue disponível a ser conhecido tanto através da natureza, do conhecimento da natureza, mas também da Bíblia! Chegamos ao ponto de acreditar que, por já termos talvez lido e relido, de capa a capa e de trás para frente, já sabemos tudo o que pode se saber sobre o texto bíblico, mas afirmo peremptoriamente que isso não é verdade. A verdade é que o texto é vivo, tal qual seu autor, que está disponível a todo leitor que o chama para uma leitura conjunta e reflexiva, com direito a autógrafo do escritor!
Ler e contemplar a Bíblia e a Natureza a partir de um relacionamento vivo com o Criador é o segredo para começar a nos aproximarmos das intenções primárias que Ele tinha ao escrever estes dois textos: a Bíblia e a Natureza. Sim, havia uma intenção primária ao escrever textos literais, simbólicos e imagéticos, assim como havia uma intenção primária em criar o macro e o microcosmo.
Relacionamento é a chave para entendermos e desvendarmos as informações reveladas por Deus e ainda não descobertas por nós. Neste sentido, a teologia e a física, a química e a biologia são lugares propícios para encontrarmos as marcas do Criador e os seus propósitos e intenções.
Redimindo a inteligência espiritual e a espiritualidade inteligente
Voltemos ao início então! É possível e, a meu ver necessário, ser inteligente e espiritual, assim como é possível ser espiritual e inteligente. Penso e entendo que um físico no laboratório pode ter uma experiência espiritual tão profunda ao compreender os desígnios do Criador, de forma análoga ao pastor que, em um momento de contrição, recebe ou compreende uma compreensão profunda e transformadora do texto bíblico.
Jesus é o Mestre dos mestres, e um mestre, por óbvio, deve deter um profundo conhecimento sobre assuntos diversos e ele não seria “O” grande mestre não fosse versado em assuntos profundos e diversos. Como pequenos cristos, não podemos estar restritos a conhecimentos desespiritualizados, ou a uma espiritualidade emburrecida, mas devemos estar abertos a colocar conhecimento em nosso fogo, e fogo em nosso conhecimento!
Eu te convido a refletir sobre diversas áreas do conhecimento, da vida e das ciências sob uma cosmovisão cristã que utiliza a inteligência para honra e glória do Criador!
Marcio Scarpellini é Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, Pós-Graduado em Educação, Política e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada à Aprendizagem, Psicanálise e Ciências da Religião. Diretor Escolar, professor e palestrante, é casado há 20 anos com a Patrícia e pai do João Pedro e da Manuella.
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