As pessoas se casam e, convencidas por uma mentalidade dita “avançada”, “liberta”, “humanista”, se deixam sem saber ou sem querer saber os motivos da separação, alegando desgaste na união. Já aqui um paradoxo a ser superado: se era amor mesmo, como pode ele desgastar?
Mas o chamado “desgaste da união” ainda não é o fator principal a ser pensado e combatido.
Os venenos que a modernidade secular destila contra a união instituída por Deus vêm de um humanismo egocentrista dos direitos. Se eu tenho direito a isso, a isto, àquilo, pensa a modernidade sem Deus, então por que ficar vinculado a uma união que se desgastou ou que pode ser trocada por outra aparentemente melhor? O eu reinante é a medida de tudo, sopra nos ouvidos como demônios falam baixinho aos néscios e imprudentes, como diz o escrito sagrado a quem tem fé para acreditar nele.
As razões pelas quais um casamento não dá certo são as mesmas que fazem dar errado qualquer relacionamento sem o espírito de Jesus. Os casais escolhem viver juntos sem ao menos conhecer a missão divina ou sem querer saber de qualquer metafísica da troca das alianças (hoje nem alianças precisam mais). Para casais seculares ou até mesmo cristãos carnais, a festa de casamento com os amigos mais chegados importa mais do que o simbolismo da troca de alianças.
A mentalidade secular dá mais importância à razão do que ao espírito, mas o que mais importa é o espírito do que a razão.
O espírito é que faz suportar as diferenças, enquanto a razão divide o casal. A razão faz lembrar da troca de alianças, enquanto o espírito faz lembrar do que simboliza esta troca, de seu valor e de sua missão.
Pela razão, ou melhor, na disputa pela razão, o casal discute, se ofende, se xinga, se agride, ameaça. Mesmo que um cônjuge esteja coberto de razão, ela não significa muito quando o casamento está bem amarrado com o nó de três dobras (o casal e Jesus). Ou, pelo contrário, se quem perde a discussão tem o espírito de Cristo, este fracasso não significa nada diante do valor do casamento e de Deus na vida do casal e da família.
Às vezes a razão diz uma coisa e o espírito diz outra. Caminhos diferentes ou até contrários. A lei, a regra, às vezes milita contra o espírito quando não muito bem compreendida. Então, quem age na lei assim incompreendida está agindo, na verdade, na carne, na lei. E quem age na lei e na carne age contra o espírito.
Se fôssemos agir sempre e somente pela lei, pelo cumprimento de regras civis, nenhuma convivência existiria ou suportaria existir por muito tempo. Se a esposa rixosa viver sempre reclamando de tudo (ainda que tenha razão) e o marido violento não abrir mão do seu machismo, haverá mais razões para separação do que para continuação da união. Mas uma toalha em cima da cama ou até mesmo algo mais grave não será nada se a esposa estiver no espírito.
Enquanto a razão manda o espírito sugere. A lei manda reclamar, o espírito sugere contar até dez. A lei manda revidar, o espírito sugere dar a outra face (não literalmente, claro). A lei e a razão mandam pedir medida protetiva em favor da mulher, mas o espírito pede para esperar ou avaliar se realmente é o caso ou se vale mesmo a pena.
Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, colunista do Jornal da Cidade Online e Instituto Burke Conservador, autor de obras jurídicas, cristão membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
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