Todos os caminhos levam a Roma

Os políticos brasileiros da comitiva ao Vaticano provam que não estão no mesmo espírito do povo brasileiro.

fonte: Guiame, Sergio Renato de Mello

Atualizado: Terça-feira, 29 Abril de 2025 as 1:40

Lula, Janja, Dilma e comitiva de aliados vão a velório do papa Francisco no Vaticano. (Captura de tela/YouTube/UOL)
Lula, Janja, Dilma e comitiva de aliados vão a velório do papa Francisco no Vaticano. (Captura de tela/YouTube/UOL)

Um texto jogado num grupo de WhatsApp foi corajoso e sincero (e alguns diriam realista), ao mostrar o quanto a espiritualidade brasileira não anda lá grandes coisas quando o assunto é fé. Na verdade, nem dá para dizer que se trata de fé mesmo.

Não sou muito de confiar em textos de WhatsApp. Se com relação ao jornalismo brasileiro temos que ter prudência, o que diremos então a mensagens de WhatsApp?

Mas eis o texto:

A PARTIDA DA CARRETA FURACÃO.

Neste exato momento, uma procissão de tolos, oportunistas e canalhas se organiza para cruzar o Atlântico. Não por fé. Não por devoção. Mas para posar diante do mundo como grandes estadistas diante do túmulo de um Papa. Um Papa que nunca representou a fé deles — nem eles a fé de ninguém.

Liderando essa trupe está Luiz Inácio Lula da Silva, o homem mais mencionado em escândalos de corrupção na história recente do planeta. O “guia espiritual” da comitiva é Janja da Silva, a nova face do populismo selfie, pronta para transformar o luto em espetáculo.

É a Carreta Furacão diplomática, o circo oficial do Brasil, desfilando pelas ruas de Roma. Vão ao funeral como se fosse um festival. Vão porque a mídia está lá. Porque as câmeras estão ligadas. Porque é mais uma chance de aparecer — e não de prestar respeito.

Prepare-se, Vaticano: o show da hipocrisia brasileira está chegando.

A carreta mencionada no texto acima referido é a comitiva de políticos e autoridades brasileiras que reúne Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, Janja, sua esposa, outros políticos engajados, e assessores. Tudo vermelho. Se eu fosse julgá-los politicamente diria que eles são “50 tons de vermelho”. Vermelho quer dizer “comunista”, “socialista”, ou nem um nem outro, mas que flerta com as ideologias que os comunistas e os socialistas carregam como bandeira política. Eles foram em comitiva vermelha no sepultamento do Papa Francisco, em Roma, que faleceu semana passada.

Essa viagem à Basílica de São Pedro, lugar da despedida do Papa, só pode ter sido ideia do ministro Barroso. Aquele mesmo, o que se diz iluminado, quem defende a cocaína (leiam seu Sem data venia), quem votou pela soltura antecipada de presos em celas insalubres como forma de indenizá-los, quem fala que a desinformação é o mal do século, que agora em resposta à The economist negou ter dito “Derrotamos o bolsonarismo” (digitem no Google e aparecerá ele mesmo fazendo a prova de sua desenganada contraprova).

Não precisando fazer muito esforço, fazer aquela “segunda navegação” como dizia Platão se referindo ao pensamento profundo (o pensamento forte em contraposição à teoria do pensamento fraco de Vattimo), fui buscar no dicionário de filosofia uma explicação para esta viagem, esse gasto com o dinheiro público, com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro, dinheiro de contribuinte.

Os políticos brasileiros da comitiva ao Vaticano provam que não estão no mesmo espírito do povo brasileiro. O que eles buscam, se é que o buscam de todo o coração? Quase todos eles são ateus (o ministro André Mendonça é até pastor evangélico e não fez parte da comitiva). Vamos então arriscar palpites.

Buscando conceitos no dicionário filosófico, vamos pensar grande. Que tal o conceito de “macroética”? A família e os valores morais de cada um e de cada lugar e que são tradicionais deve ser superado por uma família e por valores totais globais? Uma religião global? Uma união entre todos os povos? Não sabemos. Só coloquei a macroética aqui porque se trata de um conceito que tem tudo a ver com o pensamento globalista e revolucionário, que é essencialmente totalitário.

O próprio Papa Francisco nos deixou uma pista que pode nos ajudar. Achei-a em seu livro Quem sou eu para julgar. Antes, porém, uma reflexão sobre julgamentos.

Como conciliar o seu conselho para não julgar com o conselho de J. C. Ryle para julgarmos tudo em Julgueis todas as coisas? Não julgueis para não ser julgado é mandamento bíblico para evitar confusão com o próximo. Julgai todas as coisas também é mandamento bíblico quando recomenda o julgamento privado, ou seja, cada um faça o seu juízo, um julgamento interno que fique para si, necessário ainda mais hoje em tempos de relativismo e niilismo.

Voltemos ao grande mistério do objetivo da comitiva brasileira a Roma.

Como disse, a pista que o Papa nos deu está no seu livro, nesta parte:

SE UMA PESSOA É GAY… Escreve-se tanto sobre o lobby gay. Ainda não encontrei ninguém, no Vaticano, que me tenha dado um documento de identidade em que esteja escrito “gay”. Penso que, quando alguém se encontra com uma pessoa assim, deve distinguir entre o fato de se tratar de uma pessoa gay e o fato de ela fazer lobby, porque nenhum lobby é bom. Isso é uma coisa ruim. Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem, mas diz: “Não se deve marginalizar essas pessoas por isso, elas devem ser integradas à sociedade”. O problema não é ter essa orientação, não; devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby dessa orientação: lobby de gananciosos, lobby de políticos, lobby dos maçons, tantas variedades de lobby. Para mim esse é o problema mais grave.

Mas isso não quer dizer que o Papa Francisco deixava de condenar o homossexualismo ou a teoria que o fundamentava como uma entre parênteses ciência.

Em outra passagem deixou claro que a teoria do gênero não é da vontade de Deus porque somente homem e mulher são criaturas divinas:

A TEORIA DO GÊNERO A diferença sexual está presente em muitas formas de vida, na longa escala dos seres vivos. Mas somente o homem e a mulher portam a imagem e a semelhança de Deus. Isso nos diz que não apenas o homem considerado em si é a imagem de Deus, não apenas a mulher considerada em si é a imagem de Deus, mas também o homem e a mulher, como casal, são a imagem de Deus. A diferença entre homem e mulher não ocorre pela oposição, ou pela subordinação, mas pela comunhão e pela geração, sempre à imagem e semelhança de Deus.

Voltando à questão do objetivo de ir a Roma, “O problema é fazer lobby dessa orientação: lobby de gananciosos, lobby de políticos, lobby dos maçons, tantas variedades de lobby. Para mim esse é o problema mais grave.”.

Pronto! Não estou querendo relacionar os fins da comitiva com qualquer causa gay ou de gênero, mas acredito estar esclarecido o mistério! Só ficamos agora pensando se era um lobby religioso ou político. Religioso acho bem pouco provável, pois aqueles políticos brasileiros são na sua grande maioria, e por que não dizer todos, niilistas (não creem em coisas que dá para tocar com as mãos, no material, ou seja, em nada). Penso que a crença de cada um ou falta dela não importa muito, pois lobby é lobby, não importa de que espécie ele é.

Os inimigos da igreja de Cristo fizeram que Chesterton a ela retornasse e escrevesse sua grande obra Todos os caminhos levam a Roma, que é na verdade uma reação sua contra o Iluminismo e o cientificismo do século XIX.

Mas, infelizmente, nem todos que vão a Roma têm o mesmo propósito de Chesterton.

 

Sergio Renato de Mello é defensor público de Santa Catarina, membro da Igreja Universal do Reino de Deus e autor de obras jurídicas e dos seguintes livros: Fenomenologia de Jornal, O que não está na mídia está no mundo e Voltaram de Siracusa.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Proselitismo religioso

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