
Cada vez mais, a preocupação sobre o jovem cristão na universidade tem aumentado. Isso porque é inevitável que a gente perceba que muitos que foram para o ambiente universitário se perderam ou viveram uma vida cristã improdutiva durante seus anos de estudo. Alguns jovens podem até não ter se influenciado com o ambiente, mas também ficaram longe de serem influenciadores. Costumo dizer que a vida cristã não se trata apenas de não fazer coisas erradas, algo que faz parte, sim, da moral exigida daquele que nasceu de novo. Todavia, para o crente, há também um processo de atitudes que precisam ser tomadas quando somos salvos e santificados. Defender a fé, no momento oportuno, é uma dessas atitudes. Mas a pergunta é: conhecemos a fé que devemos defender?
Caso nos perguntem o porquê de a Bíblia ser uma literatura confiável, teremos argumentos? E se perguntarem sobre a existência de Deus, resumiremos nossos argumentos em apenas dizer “Deus é como o vento, eu não vejo, mas eu sinto”? Será que um dos motivos de tantos jovens se desviarem é exatamente porque não conhecem a própria fé que professam antes de entrar na universidade? Se você é um líder de adolescentes ou de jovens, faça uma enquete perguntando acerca de temas espinhosos da fé cristã e verifique o nível de conhecimento dos jovens acerca da sua própria fé. O resultado foi positivo ou negativo? Vou além, você, líder de jovens, seria capaz de responder essas perguntas, sem jargões, frases prontas ou respostas superficiais?
Eu posso dar alguns conselhos em relação a isso. O que vou dizer nasceu de muito estudo, é claro, mas também da própria experiência pessoal. Quando entrei na faculdade de História aos 17 anos, conhecia muito pouco em relação à minha própria fé. Na primeira tentativa que busquei explicá-la, ou mesmo fazer a relação dela com os conteúdos que estava aprendendo, fui engolido pelas ideologias e pelo secularismo. Era uma fé muito fraca. Anos depois, arrependido de muitos caminhos que havia tomado, consigo trazer algumas orientações.
A primeira orientação é uma pergunta: você já leu a Bíblia de carreirinha? Ler a Bíblia de carreirinha é começar em Gênesis e terminar em Apocalipse. Quando falarem na universidade, por exemplo, que o Deus do Antigo Testamento era um deus mau, caso você não tenha lido o todo da Revelação, você não terá argumentos contra essa afirmação. Seria impossível pensar assim se a pessoa lesse todo o texto bíblico, pois veria que, em todos os momentos, os profetas proclamam em nome da justiça social, que a lei do Senhor era misericordiosa, cuidando do pobre e do necessitado, e que sempre houve um “mas” de Deus, possibilitando esperança para o Israel arrependido. Por outro lado, também veriam que o Jesus, do qual as políticas afirmativas dizem que era apenas alguém que amava e, portanto, não julgaria os seus pecados, era, na verdade, uma projeção não bíblica, pois o Jesus bíblico era extremamente coerente com a lei revelada a Moisés.
A segunda orientação é: a pregação simples do seu pastor ou talvez a aula sem muitos fundamentos de seu professor de EBD tem mais profundidade do que você imagina. Para que algo seja profundo, não necessariamente é preciso que tenha centenas de citações de autores e teorias epistemológicas. Eu tenho certeza de que, se você congrega em uma igreja bíblica, seus pastores estão cheios da Palavra de Deus em suas pregações, o que faz com que, por mais que possa existir uma simplicidade em alguns assuntos, às vezes até beirando a superficialidade, exista um assunto de que eles conhecem: a Revelação. Jovens são engolidos pelo contexto universitário, pois acham que Deus precisa ser dissecado como um sapo, quando, na verdade, o que Ele precisa ser é ouvido sob o poder de um “Assim Diz O Senhor”, algo que seu pastor já faz todo domingo em sua igreja. Dito isso, você precisa ter uma mente tão acostumada com a Palavra de Deus que os outros temas que você estudar se tornarão como folhas levadas pelo vento diante da profundidade que a Palavra de Deus é.
A terceira orientação é: que você leia, consuma, veja coisa de gente boa. Existem algumas páginas no Instagram e no YouTube que falam do Jesus Histórico e da Crítica Literária da Bíblia. Vejo que alguns seguidores meus seguem essas páginas e ficam extremamente curiosos com as informações que estão ali. Alguns até dizem “meu pastor nunca falou sobre isso”. Já li até um dizer, em outras palavras, algo do tipo “será que tudo que eu estudei era mentira, coisa de fundamentalista”. Ora, qualquer comentário bíblico baratinho já apresenta as informações acerca das críticas da fonte e as objeções a essa teoria. Nunca ouviu falar de Jesus Histórico? A culpa não é do seu pastor, mas sua, pois esse é um tipo de pesquisa que nasceu no século XIX e que também qualquer comentário bíblico “meio tigela” apresenta. O que está faltando, portanto, é estudo, é interesse por coisas profundas, é leitura. Por conta disso, o professor ateu que nunca entrou em uma igreja, às vezes, sabe mais da sua fé que você.
A quarta orientação é: faça um curso teológico. Não estou dizendo para você fazer uma faculdade de teologia. Aliás, nem recomendo nesse primeiro momento (não estou falando mal da teologia, eu mesmo sou doutor na área). Mas eu indico você estudar em algum instituto bíblico da sua igreja mesmo ou de bons homens de Deus que produzem conteúdo na área da internet. Veja bem, estou indicando um curso completo, não seja alimentado por vídeos de 1m:30 de reels. Entenda a estrutura da sua fé, como ela foi formada historicamente, quais são os principais fundamentos, o que a Bíblia diz sobre a doutrina de Cristo, da Trindade, do pecado, da salvação etc. Não diga que isso não é para você, pois você é de exatas ou da saúde. Não. Fuja dessa argumentação. A fé cristã é mais rica que qualquer estrutura ideológica ou teórica que seres humanos já criaram no mundo. A Palavra de Deus é o documento mais preservado que existe. Há mais conexões entre o Antigo e o Novo Testamento do que qualquer escrito. Há mais argumentos a favor da ressurreição do que contra ela. É possível você ir para a universidade já com a estrutura daquilo que você crê tão forte em seu coração que será difícil argumentos contrários te convencerem de que sua fé não é verdadeira. Una tudo isso a, e isso não é secundário, é primordial, uma vida de oração e devoção, e tenho certeza de que sua fé será inculcada em sua mente e ninguém poderá tirá-la.
Mas qual o momento para aceitar a opinião do próximo, sabendo que a Bíblia nos manda ser respeitosos, e defender a fé? Isso já é assunto para outro texto.
Tiago Kieffer (@proftiagokieffer) é membro da Assembleia de Deus Matriz em Porto Alegre. Graduado em História pela Universidade La Salle. Mestre em História pela Unisinos. Pós-graduado em História do Cristianismo e do Pensamento Cristão pela Faculdade Batista do Rio de Janeiro. Doutor em Teologia pela Faculdades EST. Professor de História da Igreja, História do Pentecostalismo e Teologia Pentecostal. Já lecionou em instituições como Seminário Teológico de Gramado, Faculdade Batista do Rio de Janeiro (Seminário Batista do Sul), Instituto Bíblico Esperança, entre outros. Esposo da Cássia Kieffer.
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