O ano de 2024 registrou um "pico" no antissemitismo, com um aumento de 340% no número de incidentes antissemitas em todo o mundo em comparação a 2022, conforme um novo relatório divulgado pela Organização Sionista Mundial e pela Agência Judaica para Israel.
Em comparação com 2023, o número de incidentes antissemitas quase dobrou. O relatório usou 2022 como referência, pois foi um ano relativamente normal, ao contrário de 2023, quando o Hamas atacou Israel em 7 de outubro.
Esse aumento acentuado "representa uma ameaça real aos alicerces da democracia ocidental, onde o novo discurso antissemita corrói os valores fundamentais da sociedade democrática e enfraquece o pluralismo e a tolerância", afirmou Raheli Baratz, chefe do Departamento de Combate ao Antissemitismo da Organização Sionista Mundial e autora do relatório.
O relatório foi apresentado ao presidente de Israel, Isaac Herzog, antes do Dia Internacional da Memória do Holocausto. Ele foi divulgado uma semana após uma pesquisa da Liga Antidifamação revelar que quase metade dos adultos no mundo possui visões antissemitas significativas.
O relatório dividiu os dados por localização geográfica.
Nos EUA, os incidentes antissemitas aumentaram 288%, com pico em abril de 2024. Os casos incluíram vários atos graves de violência, como o assassinato do Dr. Ben Harouni na Califórnia em março, ataques a sinagogas e episódios de violência em escolas e universidades.
No Canadá, a situação foi ainda mais grave, com um aumento de 562% nos incidentes antissemitas, sendo um quarto deles de natureza violenta, conforme o relatório.
Negação do Holocausto
As tendências na Europa também foram alarmantes. Na França, os incidentes antissemitas aumentaram mais de 350%, com 28% envolvendo violência, de acordo com o relatório. No Reino Unido, o aumento foi de 450%, com quase 2.000 incidentes registrados apenas no primeiro semestre de 2024.
Na China, as plataformas de mídia social foram inundadas com conteúdo antissemita e teorias da conspiração, incluindo a negação do Holocausto. No Japão e em Taiwan, ocorreram protestos anti-Israel e gestos nazistas, algo inédito na região.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou as ações de Israel em Gaza ao Holocausto em fevereiro, o que provocou uma onda de retórica antissemita nas mídias sociais. No Chile, os incidentes antissemitas aumentaram 325%, enquanto a Argentina registrou uma ligeira diminuição.
A África do Sul registrou um aumento de 185% nos incidentes antissemitas, incluindo apelos por boicotes a Israel e propaganda anti-Israel. O relatório destacou que o número real de incidentes antissemitas é provavelmente maior do que o relatado.
A Austrália registrou um aumento significativo de 387% nos incidentes antissemitas, com casos incluindo incêndios criminosos em sinagogas, vandalismo contra propriedades e agressões físicas.
Na terça-feira (21), uma creche em Sydney foi incendiada em comunidade judaica. Segundo o jornal israelense Jewish News Syndicate, o ataque aconteceu à 1h da madrugada, o prédio ficou danificado e não houve feridos.
Nos antigos países do bloco soviético, 2024 foi marcado por uma escalada significativa na retórica antijudaica e anti-Israel. O ataque de março na Prefeitura de Crocus, perto de Moscou, que resultou em 145 mortes, gerou uma série de teorias da conspiração antissemitas, especialmente nas redes sociais. Em junho, uma série de ataques violentos no Daguestão, incluindo a queima de sinagogas e igrejas e o assassinato de 22 pessoas, foi acompanhada por uma intensa campanha de incitação online.
Mundo muçulmano
No mundo muçulmano, o Irã continua apoiando organizações terroristas como o Hezbollah e o Hamas, além de negar o direito de Israel existir. Em contraste, países como Arábia Saudita, Marrocos e Emirados Árabes Unidos estão adotando abordagens mais moderadas em nível governamental, embora a opinião pública frequentemente seja divergente.
O conteúdo antissemita online aumentou em mais de 300%, com o antissemitismo clássico representando 38,5% do conteúdo relatado, a negação do Holocausto correspondendo a 21,1% e o conteúdo anti-Israel e anti-sionista somando 15,4%.
O uso crescente do termo "sionismo" e seus derivados como eufemismo em expressões antissemitas levou a Meta, de Mark Zuckerberg, a reconhecer o antissionismo como uma forma de antissemitismo em determinados contextos, conforme observou o relatório.
"Isso não é uma coincidência – é uma mudança deliberada na linguagem com o objetivo de tornar o antissemitismo socialmente aceitável", disse Baratz.