Países árabes condenam fala de Netanyahu sobre mapa bíblico do “Grande Israel”

A expressão ‘Grande Israel’ designa uma concepção de Israel com fronteiras ampliadas, inspirada em descrições bíblicas e interpretações históricas.

fonte: Guiame, com informações do Times of Israel

Atualizado: Quinta-feira, 14 Agosto de 2025 as 2:19

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu exibe mapas na Assembleia Geral da ONU de 2024. (Captura de tela/YouTube/ONU)
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu exibe mapas na Assembleia Geral da ONU de 2024. (Captura de tela/YouTube/ONU)

Durante uma entrevista à i24News, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou se sentir “muito conectado” à visão de uma “Grande Israel”, conceito que inclui territórios além das fronteiras atuais, com base em interpretações bíblicas e históricas.

A declaração provocou forte reação de países árabes como Jordânia, Egito, Qatar, Arábia Saudita e da Liga Árabe, que condenaram o comentário como uma ameaça à estabilidade regional e uma violação da soberania dos Estados vizinhos.

A fala de Netanyahu aconteceu em uma entrevista ao i24News na noite de terça-feira (12), com o âncora Sharon Gal.

Gal, que atuou brevemente como parlamentar de direita no Knesset, fez a pergunta após entregar a Netanyahu um pingente que, segundo ele, representava “um mapa da Terra Prometida”, embora o objeto não tenha sido exibido na tela.

Assim que entregou o objeto a Netanyahu, o âncora disse: “É o Grande Israel”.

Recentemente, Gal passou a comercializar pingentes que aparentam exibir uma versão bastante ampliada do mapa de um “Grande Israel”.

“Se você me perguntar, estamos aqui”, disse Netanyahu, fazendo uma breve pausa antes de redirecionar a conversa.

Ele então evocou o legado da geração de seu pai na fundação do Estado de Israel e ressaltou o dever de sua própria geração em assegurar sua continuidade e sobrevivência.

‘Grande Israel’

A expressão “Grande Israel” designa uma concepção de Israel com fronteiras ampliadas, inspirada em descrições bíblicas e interpretações históricas.

Essa ideia assume diversas formas, algumas das quais abrangem territórios que hoje pertencem à Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Iraque e Arábia Saudita.

O termo ganhou força após a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando passou a ser usado para se referir não apenas ao Estado de Israel, mas também às regiões recém-ocupadas – como Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Península do Sinai e Colinas de Golã.

Ela ainda é adotada por algumas figuras mais radicais em Israel, que desejam anexar ou, eventualmente, controlar muitos desses territórios.

Reações de países árabes

Arábia Saudita, Catar, Jordânia e a Liga Árabe divulgaram comunicados condenando as declarações de Netanyahu, advertindo que tais posicionamentos representam um risco à estabilidade tanto regional quanto internacional.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel foi contatado, mas não se pronunciou sobre o assunto até o momento.

Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia repudiou as declarações de Netanyahu, classificando-as como uma “escalada perigosa e provocativa”.

A nota incluiu declarações de Sufyan Qudah, porta-voz do ministério, que expressou uma “rejeição absoluta às declarações inflamatórias”.

Ele acrescentou que tais “afirmações e ilusões, adotadas e promovidas por extremistas no governo israelense, incentivam a continuação de ciclos de violência e conflito”.

‘Esclarecimentos de Israel’

O Ministério das Relações Exteriores do Egito também condenou a observação, dizendo que o Cairo havia pedido esclarecimentos a Israel, dadas as "implicações de provocar instabilidade e refletir uma rejeição à busca pela paz na região, bem como uma insistência na escalada".

“Isso contradiz as aspirações das partes regionais e internacionais que amam a paz e buscam alcançar segurança e estabilidade para todos os povos da região”, acrescentou.

Em comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores do Catar manifestou “condenação e repúdio” às declarações de Netanyahu, qualificando-as como uma continuidade da política de ocupação marcada pela arrogância e responsável por fomentar crises e conflitos.

Doha acrescentou que as “falsas alegações israelenses e as declarações inflamatórias absurdas não prejudicarão os direitos legítimos das nações e povos árabes” e reiterou o “total apoio do Catar a todos os esforços que visem alcançar uma paz justa, abrangente e sustentável na região”.

Projeto expansionista

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita condenou com firmeza as declarações de Netanyahu e rejeitou integralmente “as ideias e projetos de cunho colonial e expansionista promovidos pelas autoridades de ocupação israelenses”.

Em seu comunicado, o governo saudita também alertou a comunidade internacional sobre “as persistentes violações flagrantes da ocupação israelense, que representam uma ameaça à segurança e à paz, tanto regional quanto globalmente”.

A declaração da Liga Árabe sobre os comentários de Netanyahu os chamou de "violação flagrante da soberania dos estados árabes e uma tentativa de minar a segurança e a estabilidade na região".

Os comentários, acrescentou, “refletem intenções expansionistas e agressivas que não podem ser aceitas ou toleradas” e também “expõem uma mentalidade impregnada de delírios coloniais”.

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