
Durante uma entrevista à i24News, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou se sentir “muito conectado” à visão de uma “Grande Israel”, conceito que inclui territórios além das fronteiras atuais, com base em interpretações bíblicas e históricas.
A declaração provocou forte reação de países árabes como Jordânia, Egito, Qatar, Arábia Saudita e da Liga Árabe, que condenaram o comentário como uma ameaça à estabilidade regional e uma violação da soberania dos Estados vizinhos.
A fala de Netanyahu aconteceu em uma entrevista ao i24News na noite de terça-feira (12), com o âncora Sharon Gal.
Gal, que atuou brevemente como parlamentar de direita no Knesset, fez a pergunta após entregar a Netanyahu um pingente que, segundo ele, representava “um mapa da Terra Prometida”, embora o objeto não tenha sido exibido na tela.
Assim que entregou o objeto a Netanyahu, o âncora disse: “É o Grande Israel”.
אתה מתחבר לחזון ארץ ישראל השלמה?
— עמיאל ירחי (@amiel_y) August 12, 2025
נתניהו: מאוד pic.twitter.com/n0STPVHtrG
Recentemente, Gal passou a comercializar pingentes que aparentam exibir uma versão bastante ampliada do mapa de um “Grande Israel”.
“Se você me perguntar, estamos aqui”, disse Netanyahu, fazendo uma breve pausa antes de redirecionar a conversa.
Ele então evocou o legado da geração de seu pai na fundação do Estado de Israel e ressaltou o dever de sua própria geração em assegurar sua continuidade e sobrevivência.
‘Grande Israel’
A expressão “Grande Israel” designa uma concepção de Israel com fronteiras ampliadas, inspirada em descrições bíblicas e interpretações históricas.
Essa ideia assume diversas formas, algumas das quais abrangem territórios que hoje pertencem à Jordânia, Líbano, Síria, Egito, Iraque e Arábia Saudita.
O termo ganhou força após a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando passou a ser usado para se referir não apenas ao Estado de Israel, mas também às regiões recém-ocupadas – como Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Península do Sinai e Colinas de Golã.
Ela ainda é adotada por algumas figuras mais radicais em Israel, que desejam anexar ou, eventualmente, controlar muitos desses territórios.
Reações de países árabes
Arábia Saudita, Catar, Jordânia e a Liga Árabe divulgaram comunicados condenando as declarações de Netanyahu, advertindo que tais posicionamentos representam um risco à estabilidade tanto regional quanto internacional.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel foi contatado, mas não se pronunciou sobre o assunto até o momento.
Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia repudiou as declarações de Netanyahu, classificando-as como uma “escalada perigosa e provocativa”.
A nota incluiu declarações de Sufyan Qudah, porta-voz do ministério, que expressou uma “rejeição absoluta às declarações inflamatórias”.
Ele acrescentou que tais “afirmações e ilusões, adotadas e promovidas por extremistas no governo israelense, incentivam a continuação de ciclos de violência e conflito”.
‘Esclarecimentos de Israel’
O Ministério das Relações Exteriores do Egito também condenou a observação, dizendo que o Cairo havia pedido esclarecimentos a Israel, dadas as "implicações de provocar instabilidade e refletir uma rejeição à busca pela paz na região, bem como uma insistência na escalada".
“Isso contradiz as aspirações das partes regionais e internacionais que amam a paz e buscam alcançar segurança e estabilidade para todos os povos da região”, acrescentou.
Em comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores do Catar manifestou “condenação e repúdio” às declarações de Netanyahu, qualificando-as como uma continuidade da política de ocupação marcada pela arrogância e responsável por fomentar crises e conflitos.
Doha acrescentou que as “falsas alegações israelenses e as declarações inflamatórias absurdas não prejudicarão os direitos legítimos das nações e povos árabes” e reiterou o “total apoio do Catar a todos os esforços que visem alcançar uma paz justa, abrangente e sustentável na região”.
Projeto expansionista
O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita condenou com firmeza as declarações de Netanyahu e rejeitou integralmente “as ideias e projetos de cunho colonial e expansionista promovidos pelas autoridades de ocupação israelenses”.
Em seu comunicado, o governo saudita também alertou a comunidade internacional sobre “as persistentes violações flagrantes da ocupação israelense, que representam uma ameaça à segurança e à paz, tanto regional quanto globalmente”.
A declaração da Liga Árabe sobre os comentários de Netanyahu os chamou de "violação flagrante da soberania dos estados árabes e uma tentativa de minar a segurança e a estabilidade na região".
Os comentários, acrescentou, “refletem intenções expansionistas e agressivas que não podem ser aceitas ou toleradas” e também “expõem uma mentalidade impregnada de delírios coloniais”.