Mais de 10.000 membros de igreja na China foram presos em 2022

Mais de 3 mil fiéis foram torturados e pelo menos 14 foram mortos, segundo o relatório da Igreja de Deus Todo-Poderoso.

fonte: Guiame, com informações de Bitter Winter

Atualizado: Sexta-feira, 24 Fevereiro de 2023 as 4:15

Reconstituição da prisão de crentes do CAG no filme "The Party Is Not Done Talking!”. (Foto: Reprodução/Bitter Winter).
Reconstituição da prisão de crentes do CAG no filme "The Party Is Not Done Talking!”. (Foto: Reprodução/Bitter Winter).

Mais de 10 mil membros, de uma das igrejas mais perseguidas pelo Partido Comunista Chinês (PCC), foram presos em 2022.

De acordo com a Bitter Winter, revista cristã que cobre a perseguição no mundo, a Igreja de Deus Todo-Poderoso (CAG) foi classificada como uma “seita” e como uma ameaça à segurança nacional pela China e vem sendo perseguida nos últimos anos.

A perseguição continuou em 2022, com prisões, tortura e morte, segundo o relatório anual da denominação, divulgado no dia 8 de fevereiro.

Pelo menos 10.895 membros da CAG foram detidos no ano passado, na qual 3.257 deles foram submetidos a tortura ou violência psicológica e 1.901 condenados à prisão.

O relatório também apontou que entre os condenados, 1.002 receberam sentenças de três anos ou mais e 116 receberam sentenças de sete anos ou mais.

E 19 receberam sentenças de 10 anos ou mais, como Li Xia* e Xingchen*, que foram condenados a 15 anos de reclusão. As penas mais pesadas foram dadas a cristãos que enviaram provas da perseguição à mídia internacional, incluindo a Bitter Winter.

Relatos de tortura

Pelo menos 14 outros membros foram assassinados, conforme os dados da igreja. Entre eles, Liu Jianjun, de 50 anos, que foi detido em um hotel para um interrogatório secreto.

O cristão de Jiangsu morreu 10 dias depois. “A autópsia mostrou um grande trauma contuso na cabeça, coagulação do sangue no crânio e na cavidade torácica, três costelas fraturadas e nenhum resíduo de comida no estômago ou nos intestinos”, afirmou o relatório da CAG, revelando que Liu não havia recebido comida durante seus últimos dias.


Membros do CAG presos em 2020, 2021 e 2022, divididos por trimestres. (Imagem: Relatório Anual de 2022 do CAG).

O documento ainda denunciou o caso Huang Fenfang, uma cristã com câncer que foi presa e submetida ao trabalho forçado. A mulher foi impedida pelas autoridades de receber o tratamento contra a doença.

“Ela era obrigada a dobrar entre 2.400 e 3.200 lingotes de papel joss todos os dias e era obrigada a ficar em pé por longos períodos sem descanso, como punição se não completasse a quantidade atribuída”, afirmou o relatório.

Os médicos admitiram à família de Huang que sua morte “estava diretamente relacionada com sua depressão, nutrição inadequada e trabalhos forçados na prisão”.

Perseguição comprovada

As estatísticas da CAG ainda afirmam que, apenas entre 2011 e o final de 2022, mais de 430.000 fiéis foram presos pelas autoridades chinesas e o número de cristãos mortos chegou a 231.

Além disso, pelo menos US$ 35,37 milhões em ativos da denominação e de membros foram confiscados pelo governo, no ano passado.

Segundo Massimo Introvigne, especialista em liberdade religiosa, os dados divulgados pela Igreja de Deus Todo-Poderoso são verdadeiros e confirmados pelo próprio governo chinês em um site estatal que divulga informações sobre o combate aos “cultos ilegais”.

O relatório da Associação de Defesa dos Direitos Humanos e Liberdade Religiosa (ADHRRF) também confirma a constante perseguição sofrida pelos membros da CAG. Em seu banco de dados, está registrado que 4.056 membros da igreja foram detidos em 2022.

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