‘Deus usa todas as coisas para o avanço do Evangelho’, diz Luciano Subirá

O líder brasileiro falou com exclusividade ao Guiame, em entrevista concedida na Igreja Alcance Orlando, nos EUA.

fonte: Guiame, Adriana Bernardo

Atualizado: Terça-feira, 7 Janeiro de 2025 as 2:09

Pr. Luciano Subirá. (Foto: Adriana Bernardo/Guiame)
Pr. Luciano Subirá. (Foto: Adriana Bernardo/Guiame)

Com uma trajetória no cenário evangélico brasileiro marcada pela liderança inspiradora, o Pastor Luciano Subirá, fundador e líder da Igreja Alcance, em Curitiba, tem se destacado por sua visão pastoral e sua influência em um público crescente, que extrapola o território brasileiro.

Foi em uma de suas igrejas fora do Brasil, a Alcance Orlando, nos EUA, que Subirá concedeu esta entrevista exclusiva ao Guiame. Nela, falou sobre ministério, as perspectivas para 2025 e o futuro, além de citar seu próprio exemplo de uma vida determinada à mudança.

Autor de livros que refletem seu profundo conhecimento bíblico e sua experiência no ministério, entre eles “Até que nada mais importe”, “O agir invisível de Deus” e “O propósito da família”, Subirá tem sido uma voz relevante na atualidade. Ele aborda temas que vão desde a graça e o poder de Deus até a importância da estrutura familiar e da saúde segundo os parâmetros bíblicos, ou "do Criador", como destacou.

Nesta entrevista, o pastor compartilha suas reflexões sobre liderança, fé e os desafios enfrentados pela igreja nos dias atuais, como as inovações nas comunicações e na tecnologia, incluindo a inteligência artificial, além de circunstâncias econômicas e políticas. Ele também olha para o passado como referência da atuação extraordinária de Deus para cumprir Seus propósitos.

Guiame: Como o senhor vê o Evangelho no Brasil atualmente, considerando as turbulências causadas pela tecnologia, inteligência artificial, além de questões sociais e políticas?

Luciano Subirá: A perspectiva é boa, sempre boa. Há sinais de advertência que exigem nossa atenção, mas Deus costuma usar todas as coisas para o bem e para o avanço do Evangelho. Antes da vinda de Jesus, o Império Grego criou uma língua universal e uma cultura de pensamento. Depois, Roma estabeleceu estradas, conectando o mundo, o que foi a primeira versão de globalização. Quando o Evangelho chega, já há uma língua e um caminho para ser divulgado.

Sempre que Deus vai fazer alguma revolução para ampliar a comunicação de Sua mensagem, vemos isso na história, com revoluções nos padrões de comunicação. Durante a Reforma Protestante, tivemos a imprensa de Gutenberg, que popularizou a Bíblia e a colocou nas mãos de todos. Desde o advento da internet, estamos atentos, pois agora podemos fazer mais. No entanto, nunca podemos dizer que essas ferramentas são neutras. Elas não são boas nem más em si mesmas, pois depende de quem as usa e de como são usadas.

Observamos que, embora a televisão tenha propagado muitos conteúdos ruins, o Evangelho também foi pregado por meio dela. Hoje, com a internet, a situação é semelhante. Mas, com todo esse avanço na comunicação, vemos que as fronteiras da pregação do Evangelho não são mais geográficas. Estamos acompanhando relatos de países fechados onde as pessoas estão tendo acesso a recursos espirituais que antes não tinham.

G.: Então as perspectivas, em se tratando do Reino de Deus, são consideradas boas no atual momento da história...

L.S.: Vejo sempre uma perspectiva boa, mas não podemos negar que precisamos de atenção redobrada. Não se trata apenas de evitar o que é ruim, mas também de não desperdiçar tempo com o que não é importante. As pessoas estão gastando muito tempo em redes sociais e entretenimento, o que pode ser prejudicial. A inteligência artificial, por exemplo, pode ser um excelente recurso. Eu, que escrevo e pesquiso, posso pedir referências bibliográficas sobre determinado assunto, e ela me fornece livros. Porém, há quem peça um esboço pronto de uma mensagem, ao invés de buscar em Deus por inspiração. É difícil traçar essa linha, e provavelmente teremos muitas surpresas. Algumas coisas podem ser assustadoras e até perigosas, mas também acredito que podemos tirar muita coisa boa dessa evolução.

Eu rodo o Brasil inteiro a cada ano. Muitos dizem que vejo muita coisa ruim, mas, na verdade, vejo muita coisa boa. Não acho que o objetivo seja focar na metade cheia ou vazia, mas reconhecer que ambas existem. Minha expectativa é que Deus faça uso desses avanços para promover o Evangelho de uma forma nunca vista antes.

G.: O senhor fala muito sobre a graça de Deus, escreve e prega sobre ela, sendo autor do livro “Graça Transformadora”. O senhor acredita que a graça pode nos ajudar a enfrentar as turbulências e os medos atuais?

L.S.: Uma das melhores definições de graça, quando observamos sua aplicação prática no Novo Testamento, é "força capacitadora". Por exemplo, em determinado momento, Paulo ora sobre o "espinho na carne" (não vamos tentar discutir o que era para não nos desviar do assunto), mas a resposta de Deus para ele é: “Minha graça te basta; o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ou seja, em circunstâncias que Deus não muda, Ele pode nos dar a graça para suportá-las, o poder de suportar.

Assim, mesmo em contextos de perseguição, o Evangelho nunca deixou de crescer. Existem elementos desafiadores no tempo atual, e não sabemos quais surpresas o mundo da globalização reserva. Podemos enfrentar uma crise econômica como nunca antes ou uma prosperidade sem precedentes, ou ainda ciclos que alternam entre esses dois cenários. Mas algo certo e no qual podemos confiar é que a graça nos sustentará em momentos bons e ruins.

G.: Como a graça de Deus nos sustenta nesse contexto e nos permite continuar planejando a vida?

L.S.: Paulo diz: "Aprendi a viver contente em qualquer circunstância, na fartura ou na necessidade", mas ele também afirma: "Posso tudo naquele que me fortalece". Muitas vezes, os crentes usam "Eu posso tudo naquele que me fortalece" como se fosse uma afirmação de capacidade ilimitada, mas o contexto pode estar dizendo "Posso suportar". Quando encontramos força em Deus, e a graça é uma dessas fontes, podemos suportar qualquer coisa, e nossa alegria não precisa ser circunstancial.

Embora as alegrias circunstanciais também sejam importantes – como o nascimento do meu terceiro neto, que nos trouxe muita felicidade, pois sabemos que os netos são a sobremesa da vida. Contudo, quando enfrentamos circunstâncias difíceis, precisamos nos sintonizar com Deus, que é a fonte da verdadeira alegria. Salmos 16:11 diz: “Na tua presença, há plenitude de alegria; à tua direita, delícias perpetuamente”. A alegria da salvação é algo que transcende qualquer situação. Quando os discípulos voltaram empolgados dizendo: "Senhor, no seu nome os demônios se nos submetem", Ele respondeu: "Alegrem-se, antes, de que o nome de vocês está escrito no livro da vida". Relembrar aos crentes que a alegria da salvação deve falar mais alto do que qualquer circunstância é essencial.

G.: Qual é o seu conselho para que a igreja se prepare ao longo de todo o ano, não apenas para um início empolgante, mas também para os desafios e oportunidades que virão?

L.S.: Existe um ditado antigo que diz: "Não espere resultados diferentes fazendo as mesmas coisas". A virada do ano é um bom momento para reavaliarmos: "Cheguei aonde eu queria?" Se a resposta for não, então, o que preciso mudar? No entanto, muitas pessoas mudam apenas no início do ano, mas manter o padrão de mudança permanente é muito mais desafiador do que simplesmente mudar.

G.: Como chegar a essa compreensão e atitude?

L.S.: Nos últimos anos, percebi uma grande mudança na minha saúde. Hoje, estou mais de 60 quilos mais leve do que já fui. (Sobre o tema, Subirá escreveu o livro “O cuidado do corpo: Sabedoria bíblica para o bem-estar físico e espiritual”). E descobri duas coisas importantes: primeiro, ninguém muda comportamentos sem mudar seus valores. Isso é bíblico, como diz em Romanos 12: "Transformai-vos pela renovação da mente". Ou seja, os valores precisam ser transformados. E depois de mudar os valores, ainda enfrentamos inconstâncias enquanto esses valores se firmam.

Em segundo lugar, percebi que a convicção é a base da constância. Quanto mais convicto dos valores que mudamos, mais fácil fica sustentar essa mudança. À medida que estudei o que a Bíblia dizia sobre saúde, assim como materiais médicos, mas, sobretudo, a visão do Criador, fui gerando uma convicção tão grande que, com o tempo, a inconstância foi diminuindo e a constância se estabeleceu.

Portanto, para começar a mudar, mude primeiro os valores. E para permanecer mudado, fortaleça esses valores.

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