Dia do Mártir Cristão: Conheça a história dos perseguidos pela fé em Jesus

Os mártires cristãos garantiram o futuro do cristianismo, que se tornou a maior fé do mundo, com milhões de seguidores em todos os continentes.

fonte: Guiame, com informações do The Collector e The Persecuted

Atualizado: Quarta-feira, 28 Junho de 2023 as 1:10

Pintura de Jean-Leon Gerome retrata cristãos martirizados nas arenas de Roma. (Creative Commons)
Pintura de Jean-Leon Gerome retrata cristãos martirizados nas arenas de Roma. (Creative Commons)

A perseguição ao cristianismo remonta aos primeiros passos da Igreja Primitiva, quando os seguidores de Jesus começaram a pregar e espalhar sua mensagem e a formar comunidades de fé. Desde o início, o cristianismo desafiou as estruturas religiosas e políticas estabelecidas, gerando resistência e hostilidade por parte das autoridades governamentais e das religiões dominantes da época.

No Império Romano, durante os primeiros séculos da era cristã, os seguidores de Jesus enfrentaram várias ondas de perseguição. Os imperadores romanos, como Nero, Domiciano e Diocleciano, viram o cristianismo como uma ameaça à estabilidade social e política do império. Os cristãos eram acusados de serem "inimigos dos deuses" e foram alvos de violência, prisões, torturas e execuções.

No entanto, apesar da perseguição, o cristianismo continuou a se espalhar e a ganhar seguidores mundo afora.

Para marcar o Dia do Mártir Cristão, o Guiame traz algumas informações históricas sobre os primeiros indivíduos a sofrerem crueldades, torturas e morte por seguirem a Jesus. A vida e, principalmente, a morte desses mártires, são vistas como um testemunho da verdade do cristianismo.

Estêvão, o primeiro mártir cristão

A morte do diácono Estêvão, por apedrejamento – uma das formas tradicionais de punição naquela época – aconteceu no ano 35 D.C. A pena capital foi incitada pelo Conselho Judaico e consentida por Paulo, ainda não convertido a Jesus, e está relatada no Livro de Atos capítulo 7, mostrando ser ele o primeiro mártir dos primórdios do cristianismo.

Segundo relatos históricos, os primeiros cristãos não temiam a perseguição romana tanto quanto temiam o judaísmo estabelecido. Os judeus não aceitavam a afirmação dos cristãos de que Jesus era o filho de Deus; no máximo, consideravam-no um profeta e um professor. Os líderes judaicos também temiam que o cristianismo dividisse a fé judaica em duas correntes distintas. Como resultado, a pequena comunidade cristã que emergiu em Jerusalém após a crucificação de Cristo foi alvo de uma perseguição implacável.

O primeiro mártir da Igreja cristã não foi morto pelos romanos, mas pelos judeus. A perseguição aos cristãos em Israel obrigou os pregadores cristãos, que até então só atuavam entre os judeus, a se dirigirem para outras partes do Império Romano, o que colaborou com a expansão do cristianismo.

A perseguições no Império Romano

Após três décadas da crucificação de Cristo, o imperador Nero deu início à perseguição dos primeiros cristãos no Império Romano. A perseguição continuou ao longo dos anos, culminando com execuções em Nicomedia quase 300 anos depois. Imperador após imperador tentou reprimir a fé cristã através de proibições, torturas extremas e métodos monstruosos de execução.

Apesar de levarem ao assassinato de inúmeros crentes em Jesus, essas medidas não obtiveram muito sucesso. Os governadores romanos relataram que os cristãos condenados pareciam quase exultantes com a perspectiva de se tornarem mártires por sua fé.

Apóstolos e mártires

Exceto João e o traidor Judas Iscariotes, todos os demais que andaram com Jesus, passando de seus discípulos a apóstolos, foram martirizados. Judas Iscariotes se suicidou, e João foi o único que morreu de velhice, aos 90 anos, na ilha de Patmos.

A morte de cada um dos 10 seguidores pessoais de Jesus foi por meios cruéis e violentos, demonstrando o ódio dos perseguidores ao cristianismo.

Pedro foi crucificado, porém segundo a tradição, ele pediu para que fosse de cabeça para baixo, pois não se achava digno de morrer como seu Mestre Jesus. André também foi crucificado quando estava na Grécia, no entanto em uma cruz em formato de xis, também para se diferenciar de Cristo.

A crucificação de Pedro, por Caravaggio, 1601. (Wikmedia Commons)

Felipe morreu decapitado na Ásia Menor e Tiago, filho de Zebedeu, foi morto com golpes de espada. O outro Tiago, filho de Alfeu, morreu crucificado. Bartolomeu Natanael morreu esfolado vivo e Tomé foi morto com golpes de lanças, enquanto fazia missão na Índia. Mateus recebeu morte idêntica, por golpes de lanças, porém enquanto estava na Etiópia. Simão zelote também morreu crucificado como Jesus e Judas Tadeu morreu golpeado como machado.

Nero, o implementador do martírio cristão

O imperador Nero é amplamente reconhecido como um dos primeiros e mais notórios perseguidores dos cristãos na Roma antiga. Ele é frequentemente citado como um dos principais responsáveis pelo martírio dos primeiros cristãos devido aos métodos brutais que empregou para suprimir a emergente religião.

Nero ascendeu ao trono no ano de 54. Em 64, um enorme incêndio devastou grande parte de Roma. Surgiram rumores de que o próprio Nero teria ordenado o incêndio para abrir espaço para a construção de um novo palácio. No entanto, a fim de desviar a culpa, Nero acusou os cristãos de terem iniciado o incêndio. Esse evento marcou o início de uma onda de perseguição cruel contra os cristãos, enquanto Nero buscava torná-los bodes expiatórios pela tragédia.

Logo após o incêndio, começou a caça aos cristãos da capital. “Primeiro Nero prendeu aqueles que admitiram ser cristãos e, com base em suas declarações, um grande grupo de outros foi condenado”, escreve Tácito. Segundo o historiador, eles não foram condenados apenas por incêndio criminoso, “mas também por ódio ao homem”.

A punição imposta por Nero aos cristãos era a morte, e ele transformou as execuções em espetáculos públicos. Sua intenção era mostrar-se como um homem do povo, e, para isso, recorreu a métodos extremamente brutais. “A morte deles foi transformada em um esporte. Vestidos com peles de animais, eram despedaçados por cães ou crucificados”.

Outros cristãos foram pendurados em postes e encharcados de alcatrão. Durante a noite, os carrascos acendiam as tochas humanas, iluminando as ruas enquanto os gritos ecoavam e um cheiro nauseante de carne queimada impregnava o ar de Roma, relatam historiadores. Essas atrocidades ilustram a extrema crueldade da perseguição perpetrada por Nero contra os cristãos.

Nem o apóstolo Paulo, que consentiu na morte de Estêvão, escapou de ser martirizado como seguidor de Jesus, sendo decapitado por sua escolha e atuação para expandir o cristianismo. Pouco depois, o apóstolo Pedro também foi executado em Roma por ordem de Nero.

A perseguição aos pais da Igreja

Inácio de Antioquia foi um dos primeiros bispos e mártires cristãos que viveu no século I d.C. É amplamente aceito que ele tenha sido discípulo do apóstolo João e se tornado o terceiro bispo de Antioquia.

Durante suas viagens, Inácio escreveu cartas para várias comunidades cristãs, que se tornaram uma fonte essencial de informações sobre o desenvolvimento do cristianismo primitivo. Ao longo dos séculos, essas cartas foram altamente valorizadas pelos cristãos e usadas como fonte de inspiração e orientação.

Mesmo diante de circunstâncias difíceis, Inácio permaneceu otimista e esperançoso. Embora estivesse disposto a morrer por Deus, ele desejava que sua morte não comprometesse a fé dos outros. A data exata de sua morte é desconhecida, mas acredita-se que tenha ocorrido por volta do ano 107. Segundo a tradição, Inácio foi martirizado durante o reinado do imperador Trajano (98-117 EC). Ele foi enviado a Roma, e lançado aos leões como forma de execução.

Métodos brutais de execução

A violência nos “jogos” de morte na arena era um espetáculo celebrado pelos romanos. No entanto, quando se tratava dos cristãos, os métodos de execução se tornavam particularmente brutais, como a crucificação era um método de execução extremamente doloroso e degradante.

Entre os métodos de morte mais cruéis conhecidos, destacam-se os seguintes:

Desmembramento: Alguns cristãos foram condenados a serem cortados em quatro – uma punição dada àqueles que consideravam traidores. Nesse método, quatro cavalos selvagens eram amarrados aos braços e pernas da vítima e depois conduzidos para despedaçar eu corpo.

Incendiados: Alguns cristãos eram amarrados a postes (ou estacas) e queimados vivos como forma de execução e exemplo público.

Afogamento: Alguns cristãos eram amarrados e lançados ao mar, onde afogavam-se.

Morte por gladiadores: Os cristãos eram forçados a lutar contra gladiadores habilidosos e treinados, enfrentando um destino mortal.

Condenado às minas: Ser enviado para as minas de Roma era considerado uma das punições mais brandas para os cristãos. Nesse caso, o condenado trabalharia no subsolo pelo resto de seus dias. Ponciano I morreu desta forma por volta do ano 235, depois de ter sido enviado para as minas da Sardenha.

Wycliff e seus seguidores

John Wycliff nasceu em 1384 e foi um dos precursores da Reforma Protestante, conhecido como "A Estrela da Manhã da Reforma". O teólogo do século 14 fez uma imensa contribuição para a propagação do cristianismo.

Ele se destacou como o primeiro tradutor das Escrituras para o inglês, acreditando que a Bíblia deveria ser acessível às pessoas em sua própria língua.

Wycliffe morreu em dezembro de 1384, devido a um derrame cerebral, sem concluir a tradução completa da Bíblia. Mas em 1428, 44 anos depois de sua morte, seus ossos foram desenterrados e queimados por ordem do Concílio de Constança. As cinzas foram espalhadas no rio Swift, na cidade de Lutterworth.

John Wycliffe é considerado um dos precursores da Reforma Protestante. (Wikimedia Commons)

O Estatuto Anti-Wycliff de 1401 levou à perseguição todos os seus seguidores.

Um dos seguidores de Wycliffe, John Hus, promoveu ativamente suas ideias. Hus foi queimado na fogueira em 1415, com as Bíblias manuscritas de Wycliffe usadas como material para o fogo.

As últimas palavras de John Hus foram: “Em 100 anos, Deus levantará um homem cujos pedidos de reforma não poderão ser suprimidos”. Quase exatamente 100 anos depois, em 1517, Martin Luther afixou suas famosas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha.

Sufocado até a morte

William Tyndale, conhecido como o "Pai da Bíblia em inglês", foi responsável por traduzir cerca de 90% da versão King James das Escrituras. Mesmo com a proibição da igreja em relação à tradução da Bíblia para o inglês, Tyndale estava determinado a torná-la acessível a um público mais amplo.

Tyndale viajou para a Europa, onde recebeu apoio de mercadores britânicos, e lá imprimiu e contrabandeou a Bíblia de volta para a Inglaterra. Ele se estabeleceu em Hamburgo, Alemanha, em 1524, e iniciou seu trabalho no Novo Testamento.

Suas atividades chamaram a atenção dos oponentes da Reforma, resultando no confisco da imprensa. Apesar disso, Tyndale conseguiu escapar com as páginas já impressas e encontrou uma cidade na Alemanha onde o Novo Testamento foi publicado.

Enquanto continuava a traduzir o Antigo Testamento, Tyndale permaneceu escondido entre os mercadores em Antuérpia. No entanto, ele foi traído por um suposto amigo inglês e acabou sendo preso. Passou um ano e meio na prisão antes de ser julgado por heresia. Foi condenado à morte e executado por estrangulamento em 6 de outubro de 1536, com seu corpo sendo queimado na estaca.

Perseguição sem tréguas

Ao longo da história, o cristianismo enfrentou períodos de perseguição em diferentes partes do mundo. Durante a Idade Média, por exemplo, a Inquisição Católica perseguiu e puniu aqueles considerados hereges, e houve conflitos religiosos entre diferentes correntes do cristianismo, como as guerras de religião na Europa.

Mesmo nos tempos modernos, em algumas regiões e sob regimes totalitários, os cristãos continuam a ser alvo de perseguição. Em países como a Índia, Coreia do Norte, China, Irã e alguns países africanos, como a Nigéria, os cristãos enfrentam restrições à liberdade religiosa, discriminação e violência.

Apesar disso, o cristianismo se tornou a maior fé do mundo, com milhões de seguidores em todos os continentes. Mesmo diante das perseguições ao longo da história, a fé cristã continuou a se desenvolver e a influenciar a sociedade em diversas áreas, incluindo a cultura, a filosofia, a ética e os direitos humanos.

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