
O pastor Fred Williams não fala sobre perseguição religiosa como um analista distante. Ele viveu a violência de perto — na pele. Sua história começa em setembro de 2001, dois dias antes dos ataques às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, quando a igreja que pastoreava na Nigéria foi alvo de um grupo islâmico extremista.
“Estávamos em um culto de jovens e militantes de um grupo islâmico extremista atacaram a vila e tinham como alvo os cristãos e nossa igreja. Eles chegaram gritando ‘Allahu Akbar’ (que significa Deus é o Maior, expressão culturalmente utilizada pelos muçulmanos)”, disse em entrevista ao Guiame durante sua passagem no Brasil, por meio da missão Portas Abertas.
O culto foi interrompido pelo caos. Mas, mesmo diante do terror, Fred decidiu proteger seu rebanho. “Eu parecia o Rambo com armas pesadas, cintos de balas traspassados no meu tronco e tentando proteger minha igreja, minhas ovelhas”, contou. “Eu falei para meus jovens: ‘Eles vão atacar, e nós vamos resistir, e vamos morrer’.”
Foi nesse momento que a igreja deu um grito de fé: “Os militantes gritavam: ‘Allahu Akbar’, e eu combinei com nossos jovens: ‘quando eles gritarem, eu vou gritar: Louvado seja o nome do Senhor! E vocês respondem: Aleluia!’”, relatou. E assim fizeram. “Eles ficaram confusos: como poderíamos estar gritando assim, próximos da morte?”
Então, um jovem muçulmano saiu do meio dos terroristas, ficou entre os dois grupos e gritou: ‘Não os ataquem! Eles são dos nossos, são nosso povo! São nossos vizinhos!’. Em meio ao confronto, Fred ouviu a voz de Deus: “Naquele momento, Deus falou comigo: ‘Eu me fiz homem e morri na cruz para que eles fossem salvos. Largue as armas e lute com as armas de fé’.”
Pastor Fred Williams no culto de celebração dos 70 anos da Portas Abertas Brasil. (Foto: Portas Abertas)
Mas nem tudo foi poupado. “Alguns dias depois, a cidade de Jos, muito próxima a nós, foi atacada. Mulheres, crianças, idosos, homens. Todos mortos. Um mês depois, nossa igreja foi incendiada. Graças a Deus não havia ninguém dentro dela e pudemos agradecer a Deus por isso”, lembra.
A Nigéria é o país mais letal para os cristãos
Hoje, Fred se dedica a outra batalha — ele vive no Reino Unido e trabalha na defesa dos direitos dos cidadãos nigerianos, chegando a colaborar com diferentes organizações cristãs, ONGs e órgãos governamentais, como o Ministério de Relações Exteriores Britânico e os governos nigeriano e norte-americano.
“Hoje eu defendo meu povo, lutando com as armas substituídas por Deus: eu dou voz àqueles que não têm voz”, destaca.
Segundo Fred, a perseguição religiosa na Nigéria é devastadora. De acordo com a pesquisa da Portas Abertas para a edição da Lista Mundial da Perseguição 2025, a Nigéria foi a responsável por 69% das execuções de cristãos no mundo, no período de um ano.
“Mais de 3 mil cristãos foram mortos por sua fé na Nigéria. Além disso, os números também são muito altos quando nos referimos a sequestros, tortura, casamentos forçados e prisões”, alertou.
“A mídia jamais vai interferir nisso”
Quando perguntado por que o sofrimento dos cristãos na Nigéria ainda é invisível para o mundo, Fred foi direto: “A mídia jamais vai interferir nisso. O povo nigeriano e o cristão nigeriano não podem contar com a mídia para isso. Existem interesses maiores.”
A Nigéria é o país mais letal para cristãos. (Foto: Portas Abertas)
Segundo ele, a Nigéria é muito mais do que uma questão regional — é um ponto estratégico com impacto global. “A Nigéria é uma das nações mais populares de toda a África e até mesmo além. Se permitirmos que o terror domine e ofusque a Nigéria, todos o sentirão.”
O pastor já levou esse alerta a líderes internacionais. “Digo isso ao governo britânico. Falei com o parlamento britânico e disse: se o terror tomar conta da Nigéria, a Grã-Bretanha sentirá. O mundo sentirá.”
Fred também chama atenção para o armamento nas mãos dos grupos extremistas. “É muito simples: o que está afetando a Nigéria é o terrorismo global patrocinado por financiamento de nigerianos. Os nigerianos não produzem AK-17. E como vemos AK-17 na mão de terroristas nigerianos? Nós não produzimos armas. Então, de onde vêm as armas? Entende?”
Para ele, é necessária uma intervenção internacional na Nigéria — mas isso não acontece porque os interesses financeiros falam mais alto.
“Essa intervenção internacional não está acontecendo porque o minério da Nigéria é interessante para o mundo. Os recursos minerais da Nigéria são cruciais para a produção de celulares, notebooks e televisores.”
E completou: “O financiamento do terror está acontecendo de forma discreta. E o mundo se beneficia desse minério. E se houver uma intervenção internacional esse comércio será ameaçado. Mas se houver a radicalização islâmica, também. Mas, por enquanto, os interesses financeiros estão vencendo essa guerra.”
“A perseguição no Ocidente existe — só é mais sutil”
Apesar de ter enfrentado a perseguição mais severa na África, Fred Williams também viveu de perto a realidade dos cristãos no Ocidente — e diz que a liberdade religiosa no mundo dito livre não é tão plena quanto parece.
Pastor Fred Williams no culto de celebração dos 70 anos da Portas Abertas Brasil. (Foto: Portas Abertas)
“A Bíblia diz que todos os que vivem piedosamente serão perseguidos e que serão bem-aventurados aqueles que forem perseguidos em nome de Jesus”, afirma. “Acredito que exista em todo o mundo ocidental casos de intolerância e perseguição, sim, mas nada disso pode ser comparado com o que a Igreja Perseguida passa nos dias de hoje.”
Ainda assim, Fred reconhece que o avanço de uma agenda ideológica hostil à fé cristã é real.
“Trabalhei por mais de 6 anos para a Christian Concern e o Christian Legal Centre, no Reino Unido, que apoiam cristãos vítimas de perseguição por sua fé”, relatou. “Filmei e entrevistei magistrados, professores, médicos, pregadores de rua e muitos outros que foram perseguidos, perderam seus empregos, foram presos e maltratados por escolherem defender o evangelho de Cristo.”
Fred denuncia que o ambiente liberal e secularizado tem se tornado cada vez mais hostil aos valores cristãos. “A agenda radical liberal e humanista é hostil aos cristãos que defendem valores piedosos e centrados em Cristo. No mundo todo.”
Sendo assim, Fred Williams faz um alerta não apenas à Igreja da Nigéria, mas à Igreja global: “A perseguição é real, está acontecendo agora, e não podemos fechar os olhos.”
Para ele, enquanto a mídia se cala e os governos hesitam, é a Igreja que deve se levantar. “Precisamos orar, apoiar e denunciar. Não podemos mais ser passivos enquanto nossos irmãos e irmãs estão sendo mortos, sequestrados e silenciados por sua fé”, afirma.