Uma reunião no Vaticano será feita a partir desta próxima quinta-feira (21) para tratar do tema que abalou os alicerces da Igreja Católica nos últimos anos: o abuso sexual cometido por padres e bispos contra crianças. Considerado histórico e sem precedentes, o encontro foi convocado pelo chefe da igreja católica, o Papa Francisco.
A cúpula, que estará reunida até o dia 24/02, vai tratar do tema que, há décadas, tem jogado holofotes sobre os escândalos sexuais cometidos por líderes católicos, além da proteção das crianças.
De acordo com matéria do Estadão, o tom do encontro deve ser o da “tolerância zero”, pista dada pelo próprio papa ao expulsar, no sábado (16), o ex-cardeal americano Theodore McCarrick, de 88 anos, acusado de abusos sexuais contra um adolescente. Foi a primeira vez na história da Igreja Católica quem um cardeal perdeu o seu título depois de ser acusado de abuso.
Sobre o encontro, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke, já declarou que se trata de “uma reunião sem precedentes, o que mostra que o papa Francisco fez da proteção de menores uma prioridade fundamental para a Igreja”. Ele continuou: “Trata-se de manter as crianças seguras contra prejuízo em todo o mundo. O papa Francisco quer que os líderes da Igreja tenham uma compreensão completa do impacto devastador que o abuso sexual clerical tem sobre as vítimas.”
Grave problema
Além disso, Burke explicou que “a reunião é primariamente para os bispos, eles têm muita responsabilidade por esse grave problema. Mas homens e mulheres leigos que são especialistas no campo dos abusos darão sua contribuição e podem ajudar a abordar especialmente o que precisa ser feito para garantir transparência e responsabilidade”.
A expectativa é de que o encontro histórico produza diretrizes e normas específicas de como os bispos devem cuidar das vítimas, punir os infratores e manter os acusados fora do sacerdócio. Também deve ser abordada a responsabilidade dos religiosos que, mesmo sabendo dos abusos, se mantiveram em silêncio.
Esse movimento foi gestado a partir da crise de 2018, quando escândalos sexuais envolvendo o alto clero foram revelados nos Estados Unidos, Chile, Alemanha e outros países. Nos EUA, por exemplo, um relatório indicou o abuso de mais de mil menores de idade por cerca de 300 religiosos durante 70 anos (o mesmo relatório informou que o próprio Vaticano saberia do escândalo desde 1963).
No Chile, uma investigação conseguiu ouvir mais de 60 vítimas de abuso. Ao fim do processo, bispos chilenos renunciaram em bloco aos seus postos. Ainda no ano passado, a Conferência Episcopal alemã apontou 3.677 casos de abuso sexuais cometidos por mais de 1500 membros da Igreja Católica entre 1946 e 2014.
No Brasil, em setembro de 2018, a comissão papal contra o abuso de menores afirmou que país receberá um projeto-piloto mundial para a escuta das vítimas de abusos sexuais. Ásia e África também devem ter projetos semelhantes. Detalhes do projeto também podem ser definidos no encontro que se inicia no dia 21.