Adolescente de 13 anos realiza execução pública no Afeganistão sob regime Talibã

O menino executou o assassino de sua família na frente de 80.000 espectadores eufóricos em um estádio esportivo.

fonte: Guiame, com informações do Daily Mail

Atualizado: Quarta-feira, 3 Dezembro de 2025 as 8:07

Multidão assiste a uma execução pública no Afeganistão. (Captura de tela/X/@afghanarabc)
Multidão assiste a uma execução pública no Afeganistão. (Captura de tela/X/@afghanarabc)

Os últimos dias revelaram cenas que remetem ao período mais sombrio do primeiro regime Talibã: dezenas de milhares de afegãos lotaram um estádio para assistir à execução pública realizada por um menino de 13 anos.

Os familiares das vítimas tiveram a opção de conceder perdão e promover a reconciliação – o que salvaria a vida do condenado –, mas escolheram exigir a pena de morte.

Diante de 80 mil espectadores em um estádio afegão, o garoto disparou três vezes contra o assassino de sua família, após seus parentes não aceitarem o perdão ao condenado.

Em imagens supostamente gravadas do lado de fora do estádio, são ouvidos disparos enquanto a multidão frenética entoa cânticos de “Allahu Akbar”.

Lei Sharia

A Suprema Corte do país declarou que a vítima, identificada como Mangal, era culpada pelo massacre de 13 membros da família do adolescente, incluindo várias crianças e três mulheres.

Os governantes talibãs do Afeganistão impuseram uma interpretação rigorosa da lei Sharia, que trouxe de volta as execuções públicas e estabeleceu proibições para mulheres e meninas, impedidas de frequentar o ensino médio e universitário, além de restringir a maioria das oportunidades de emprego.

As execuções são realizadas como parte da aplicação do “Qisas” pelo Talibã, termo que significa “retaliação na mesma moeda”, na prática, olho por olho.

A execução foi determinada após a sentença de morte ser confirmada em diversas instâncias até chegar à Suprema Corte. Posteriormente, foi aprovada pelo líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada.

Punição retaliatória

O homem foi condenado, junto a outros envolvidos, por invadir uma residência na província de Khost e assassinar a tiros um parente distante em janeiro de 2025.

Ele recebeu uma “punição retaliatória” pelo crime de assassinato, após o caso ter sido “examinado minuciosa e repetidamente”, segundo informou o tribunal.

“As famílias das vítimas tiveram a oportunidade de conceder anistia e promover a reconciliação, mas recusaram”, acrescentou.

As autoridades convocaram a população para acompanhar a execução, divulgando amplamente avisos oficiais ao longo do dia.

Direitos humanos

Richard Bennett, relator especial da ONU para os Direitos Humanos no Afeganistão, declarou na terça-feira, antes da execução pública, que práticas desse tipo são “desumanas, cruéis e configuram punição incomum, em desacordo com o direito internacional”.

“Eles precisam parar”, disse ele em um post no X.

Mujib Rahman Rahmani, morador de Khost que acompanhou o evento no estádio, declarou apoiar a execução. Segundo ele, práticas desse tipo podem “gerar efeitos positivos”, pois “ninguém vai matar outra pessoa no futuro”.

Em julho, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra dois dos principais líderes do Talibã, acusando-os de promover a perseguição sistemática de mulheres e meninas no Afeganistão.

O grupo militante impôs, na prática, a exclusão das mulheres afegãs de diversos âmbitos da vida pública, incluindo o acesso à educação e ao mercado de trabalho.

Influenciadores digitais

A acadêmica e ativista afegã Dra. Orzala Nemat criticou influenciadores digitais que viajam ao Afeganistão e publicam conteúdos elogiosos sobre o país, apesar do regime autocrático imposto pelo Talibã.

Esses influenciadores têm sido acusados de ajudar a reabilitar a imagem do país, devastado por décadas de guerra, apesar das severas leis e dos rígidos costumes islâmicos impostos pelo Talibã.

“Em vez disso, o que vemos é uma versão cuidadosamente editada e sanitizada do país, que convenientemente apaga as realidades brutais enfrentadas pelas mulheres afegãs sob o regime talibã”, disse Orzala à NBC News.

Embora o Departamento de Estado dos EUA e governos da União Europeia mantenham alertas contra viagens ao Afeganistão, quase 4.000 turistas visitaram o país em 2024, e cerca de 3.000 já o fizeram apenas nos três primeiros meses deste ano.

Embora influenciadores ocidentais possam “circular livremente, posar para fotos e conquistar fama online” durante suas visitas, esses privilégios são negados aos próprios afegãos, afirmou Orzala – especialmente às mulheres, que são obrigadas a seguir códigos de vestimenta rigorosos e estão proibidas de circular sozinhas em espaços públicos sem a presença de um guardião masculino.

Turismo crescente

“Parece que nem tudo o que você ouviu na mídia sobre o Afeganistão é totalmente verdade!”, escreveu a influenciadora de viagens Zoe Stephens, de Liverpool.

A guia turística, de 32 anos, publicou diversas fotos de sua viagem ao Afeganistão, nas quais aparece usando trajes tradicionais e visitando mesquitas, salões de beleza e hotéis de luxo.

Desde que o Talibã retomou o controle do país em 2021, o turismo tem registrado crescimento. Embora alguns vloggers pareçam ter sido convidados pelo governo, não há confirmação de que tenham recebido pagamento para promover viagens ao Afeganistão.

Yosaf Aryubi, um afegão-americano de pouco mais de 20 anos, tem publicado vídeos incentivando ocidentais a visitar o país por meio de sua agência de viagens, a Raza Afghanistan, responsável pela organização de excursões.

Como forma de promover sua empresa, ele divulgou um vídeo paródia que gerou forte controvérsia por lembrar, de maneira perturbadora, os vídeos de decapitação de Daniel Pearl e James Foley produzidos por extremistas islâmicos.

“Temos uma mensagem para a América”, afirma Aryubi no vídeo, enquanto aparece atrás de três pessoas com sacos na cabeça, em uma cena que remete de forma perturbadora a gravações de reféns.

Ele então remove o saco do rosto do homem ajoelhado à sua frente – um influenciador de viagens americano – que sorri e diz: “Bem-vindo ao Afeganistão!”.

 

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