
Na última quinta-feira (2), uma lista dos países onde é mais difícil acessar a Bíblia foi divulgada pelo projeto “Iniciativa de Acesso à Bíblia”, criada pela Missão Portas Abertas Internacional e pela Sociedade Bíblica Digital.
A "Lista de Acesso à Bíblia" apresentou os 88 países com mais restrições ao acesso às Escrituras, devido a diversas razões como perseguição, altas taxas de analfabetismo, limitações de impressão ou falta de recursos econômicos.
O projeto descobriu que quase 30 nações têm restrições "extremas" ou "severas" ao acesso à Bíblia, impedindo milhões de pessoas de ler a Palavra de Deus.
Somália
A Somália ficou em 1° lugar como o pior país para ter acesso à Bíblia. A nação africana de maioria islâmica possui "restrições extremas de acesso" devido à perseguição do governo, ameaças de violência e recursos econômicos limitados.
"O acesso à Bíblia na Somália não é apenas limitado; é proibido. Sob uma interpretação estrita da lei da Sharia, é ilegal imprimir, importar, armazenar ou distribuir Bíblias", afirmou o relatório da Lista de Acesso à Bíblia.
"Além das restrições legais, a profunda pobreza da Somália agrava a crise. Com mais de 70% da população vivendo na pobreza e na insegurança alimentar generalizada após anos de seca e conflito, as necessidades básicas muitas vezes eclipsam a possibilidade de comprar uma Bíblia — mesmo que fosse possível”.
Conforme a Lista Mundial da Perseguição 2025 da Portas Abertas, a Somália é o 2° país mais difícil para ser cristão, com a presença do grupo terrorista Al-Shabaab e perseguição familiar.
Afeganistão
O Afeganistão, que está sob o domínio do Talibã desde 2021, foi classificado como o 2° pior país em acesso à Bíblia.
A impressão e a importação da Bíblia são proibidos por lei, assim como o acesso digital das Escrituras.
A comunidade cristã no Afeganistão é formada apenas por cerca de 0,02% da população, a maioria são convertidos do Islã que enfrentam severa perseguição.
"O acesso às Bíblias no Afeganistão não é apenas limitado, é quase impossível. Especialistas estimam que menos de um terço dos cristãos afegãos têm acesso às Escrituras”, afirmou o relatório.
"O retorno do Talibã ao poder em 2021 apenas aumentou as restrições, impondo uma interpretação mais severa da lei islâmica e monitorando ativamente a atividade online", acrescenta a Lista.
Até acessar a Bíblia online pelo celular pode levar à pena de morte no país. "O risco não é teórico. Os crentes de origem muçulmana muitas vezes enfrentam pressão de suas próprias famílias, comunidades e autoridades locais. A exposição pode levar ao casamento forçado, prisão ou execução”.
Iêmen
O 3° lugar da Lista é ocupado pelo Iêmen. Com uma legislação baseada na lei islâmica, exercer a fé cristã é proibido.
Em uma população com 35 milhões de pessoas, apenas cerca de 17.000 são cristãos. Menos de um terço dos crentes têm acesso à Bíblia.
"Qualquer esforço percebido para compartilhar a fé cristã é considerado blasfêmia ou apostasia, punível com a morte", observou o relatório.
Coreia do Norte
A Coreia do Norte é o 4° pior país para o acesso à Bíblia. O regime comunista da família Kim proíbe a posse e distribuição de Bíblias.
O país "continua sendo um dos ambientes mais espiritualmente isolados e hostis para os cristãos no mundo".
"Na Coreia do Norte, a Bíblia não é apenas proibida — é temida. O regime vê o cristianismo como uma ameaça ao culto à personalidade em torno de Kim Jong Un e sua família, um desafio direto ao controle ideológico do Estado”, explicaram os pesquisadores.
Mauritânia
O 5° lugar da "Lista de Acesso à Bíblia" foi ocupado pela Mauritânia, um país islâmico no norte da África.
O governo proíbe a impressão, importação, distribuição e exibição de materiais cristãos, e a posse de várias cópias "pode resultar em processo, com acusações que, em alguns casos, acarretam a pena de morte por proselitismo ou apostasia".
Apenas 11.000 são cristãos, em uma população de cerca de 5 milhões. Menos de 40% dos cidadãos têm acesso à Bíblia devido às restrições severas.
"A posição firme do governo está enraizada na identidade constitucional da Mauritânia como um Estado islâmico", relatou o relatório.
"A apostasia é uma ofensa criminal punível com a morte. Até mesmo o acesso online é monitorado de perto; embora quase metade do país tenha conectividade com a internet, o risco de estar ligado à atividade cristã online pode trazer consequências graves e que alteram a vida".
Eritreia
Em 6º lugar na Lista está a Eritreia, conhecida como a "Coreia do Norte da África" por causa da perseguição governamental e repressão à liberdade religiosa.
Embora quase metade do país se identifique como cristão (1,7 milhão), os pesquisadores descobriram que nem mesmo 40% dos cristãos têm acesso a uma Bíblia por causa das restrições.
"A propriedade, distribuição e até mesmo a leitura privada da Bíblia são severamente restringidas pela lei da Eritreia. Embora os cristãos ortodoxos e católicos (que representam cerca de 95% da população cristã) possam encontrar um pouco menos de obstáculos, seu acesso permanece rígidamente monitorado", afirmou o relatório.
"Para igrejas domésticas protestantes e crentes de origem muçulmana, a situação é drasticamente pior”.
Outros países
A Eritreia é seguida pela Líbia, Argélia, Irã e Turcomenistão, completando os 10 piores países para o acesso à Bíblia.
Outras nações listadas com “restrições severas” ao acesso às Escrituras foram: Butão, Arábia Saudita, Paquistão , China, Azerbaijão e Kuwait.
No fim da lista de 88 países, a Armênia está em 87° lugar. O país asiático foi o primeiro a adotar o cristianismo como religião oficial no século IV.
Com 95% da população se identificando como cristã, não há restrições à posse ou distribuição de Bíblias na Armênia. Entretanto, de acordo com os pesquisadores, há uma "crise silenciosa de escassez de Bíblias" devido a "dificuldades econômicas, uma infraestrutura de igreja cada vez menor e redes de distribuição desatualizadas ou limitadas".
"Mesmo em um país onde o cristianismo é culturalmente dominante, a capacidade real de ler e se envolver com a Palavra de Deus permanece limitada para a maioria", observou o relatório.
Brasil em último lugar
O Brasil ficou em 88º lugar, no final da "Lista de Acesso à Bíblia". Conforme os pesquisadores, a extrema pobreza impede o acesso à Palavra em certas regiões do país.
"Mesmo quando as Bíblias estão disponíveis para compra, muitas famílias são obrigadas a priorizar comida e abrigo em detrimento dos recursos espirituais", esclareceu o relatório.
"Para piorar a situação, a alta tributação e a corrupção aumentam os custos dos materiais impressos, incluindo Bíblias”.
"A fome moderna persiste, não devido à apatia, mas por causa das barreiras que impedem as pessoas de acessar a Bíblia", declarou Wybo Nicolai, co-criador da lista, ao The Christian Post.
"Essas barreiras diferem na forma, mas o resultado é o mesmo: milhões vivem isolados da Palavra de Deus. Muitos nunca viram uma Bíblia em seu idioma, formato que preferem ou faixa de preço que podem pagar, ou não têm como obter uma com segurança”.
Além da Portas Abertas e da Sociedade Bíblica Digital, o estudo contou com a participação de outras organizações como Frontlines International, Bible League International, Biblica, Bible League Canada e OneHope.