A pandemia e o confinamento da população ampliou alguns problemas sociais que já eram considerados graves, entre eles a violência doméstica contra as mulheres. Em uma live com jornalistas do Guiame, na quarta-feira (30), a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, falou sobre a Operação Resguardo que já prendeu mais de 10 mil pessoas no Brasil, por cometerem esse tipo de crime.
Damares também comentou sobre sua preocupação com outros temas delicados, como o incesto, que não é considerado crime pela legislação brasileira, e a falta de um trabalho de conscientização para os agressores. “Muitos nem sabem que aquilo o que estão fazendo é uma violência”, disse.
Operação Resguardo
A Operação Resguardo mobilizou cerca de 18 mil policiais civis para a megaoperação coordenada pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). A iniciativa aconteceu em mais de 1.800 municípios dos 26 estados e do Distrito Federal e teve início no dia 1º de janeiro deste ano.
Até o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, os números foram animadores. Mais de 188 mil vítimas foram visitadas e atendidas e mais de 10 mil agressores foram presos. “E foram mais de 40 mil medidas protetivas para mulheres. Eu acredito que no mundo não teve uma operação tão grandiosa como essa”, comemorou.
A ministra, porém, lamenta o silêncio da imprensa brasileira. “A imprensa não divulgou como deveria. Falam amplamente de operações onde apenas 3 pessoas são presas com ‘dinheiro na cueca' ou ‘dinheiro na meia’ e eles ficam o dia inteiro transmitindo isso ao vivo. Mas nós estivemos em 1.800 municípios, simultaneamente, com policiais nas ruas prendendo os agressores e não houve essa cobertura”, citou.
Aumento da violência contra a mulher durante a pandemia e as providências
O aumento da violência contra a mulher foi considerável, segundo a ministra, por conta do isolamento social. Esse fenômeno é mundial. “Aconteceu em todos os países que passaram pelo isolamento — agressor e vítima se viram trancados dentro de casa e a violência cresceu ainda mais”, explicou.
Se a atitude de denunciar o agressor já era difícil com a mulher saindo de casa, seja para trabalhar ou estudar, com o isolamento social se tornou ainda pior. “Vendo essa situação em outros países, nos antecipamos criando aplicativos para que as mulheres pudessem digitar sua denúncia e trouxemos o 180 para o WhatsApp”, compartilhou.
Os aplicativos permitem enviar fotos e vídeos que podem ajudar na antecipação de provas ou para medidas protetivas. Outras iniciativas em defesa à mulher no Brasil foram as campanhas criadas, entre elas “Vizinho Vigilante”, com o slogan “Vizinha eu te escuto, eu te protejo, eu denuncio!”, com o objetivo de mobilizar a sociedade contra as situações de violência.
“As denúncias podem ser feitas por qualquer pessoa, não somente pela vítima”, destacou. Além disso, há também as delegacias virtuais. “Muitas mulheres se constrangem por entrar numa delegacia. Agora, com a possibilidade do boletim de ocorrência virtual, o número de denúncias aumentou”, disse.
“É dever do Estado proteger as vítimas de violência”
Segundo Damares, o problema é que muitas mulheres não denunciam seus agressores. “Setenta por cento das mulheres que morreram, vítimas de feminicídio, nunca haviam denunciado antes”, revelou.
A denúncia e a medida protetiva no Brasil funcionam, mas não são exigidas e nem solicitadas às autoridades. “É dever do Estado proteger as vítimas de violência. Existe em nosso país uma rede de proteção à mulher que conta com as delegacias, o 190 da polícia militar, as patrulhas Maria da Penha, a promotoria, a defensoria pública, as varas especializadas e o 180 [serviço de utilidade pública”, especificou.
Mas, segundo a ministra, que também é pastora e advogada, muitas vítimas não denunciam porque o agressor é também seu provedor. Por conta disso, o governo também adicionou outras ações como o empreendedorismo e a qualificação dessas mulheres para o mercado de trabalho, para que se tornem independentes financeiramente.
Como as igrejas podem ajudar a defender as mulheres
Damares alerta para a necessidade de que as igrejas se envolvam ainda mais nesse processo de defesa à mulher no Brasil. “Antigamente, os pastores encaminhavam o casal a uma reconciliação ou então oravam pela situação. Mas, é preciso orar e encaminhar a vítima até uma delegacia também”, ressaltou.
“Como Jesus reagiria diante de uma violência contra a mulher? Eu não vejo Cristo pacífico diante da violência. Ele interrompeu um apedrejamento em defesa de uma delas, em seu tempo [Jo 8.7]. Eu vejo Jesus da mesma forma, vejo Ele falando aos agressores de mulheres que querem ocupar o nosso templo”, sublinhou.
A ministra lembrou que os pastores podem colocar no quadro de avisos da igreja ou no boletim de domingo, o alerta sobre o número 180 como forma de apoiar esse movimento. Além disso, acrescentou sobre a urgência de se realizar um trabalho de conscientização voltado para os agressores, inclusive entre os jovens que podem estar vivendo relacionamentos tóxicos.
A ministra finaliza pedindo a todos que reflitam sobre o que é, e o que não é normal. “O ciclo da violência não é normal. Ser um homem cristão é proteger a mulher com a sua própria vida, conforme a Bíblia. E esse respeito e proteção também se estende às demais religiões. Não se admite mais sofrimento de mulheres no Brasil por violência”, enfatizou.
“O Cristo que você ama não morreu na cruz para você ser infeliz, pelo contrário. E aquelas que não estão sofrendo violência, venham comigo nessa grande corrente de proteção às mulheres. Uma ajudando a outra e nenhuma ficando para trás. Essa é uma luta de todas nós. Esse é um novo tempo, vamos ser felizes”, concluiu.