Ex-trans reverte mudança de gênero e diz: ‘É irresponsável deixar crianças passar por isso’

A alemã Sophie Griebel atua como coach de saúde mental e participou, recentemente, do “Dia de Conscientização sobre a Destransição”.

fonte: Guiame, com informações da CNE e IMABE

Atualizado: Terça-feira, 18 Março de 2025 as 8:39

Sophie Griebel, coach de saúde mental. (Foto: Instagram)
Sophie Griebel, coach de saúde mental. (Foto: Instagram)

Muitas pessoas que já se identificaram como transgênero acabam retornando ao seu gênero biológico. Esse foi o caso de Sophie Griebel, que viveu vários anos como “homem” e afirma hoje estar em plena harmonia com seu gênero de nascimento.

Atualmente, ela atua como coach de saúde mental e participou, recentemente, do “Dia de Conscientização sobre a Destransição”, dedicado a aumentar a conscientização sobre as experiências de pessoas que passaram pelo processo de transição de gênero e, posteriormente, decidiram reverter essa transição.

Em uma entrevista ao IMABE (Instituto de Antropologia Médica e Bioética), Sophie abordou a crescente busca por tratamentos de transição de gênero, especialmente entre os jovens, expondo sua experiência pessoal de transição e como sua visão sobre a mudança de sexo evoluiu ao longo do tempo.

Sophie revela que, por muitos anos, ela buscou a transição para escapar de traumas passados, como abuso emocional e sexual na infância.

“O fato de eu ter sofrido muita violência, abuso e estupro dentro da minha família desempenhou um papel importante nisso”, revelou

Sophie também passou por muitos dilemas com relação à sexualidade em sua juventude.

“Aos 18 ou 19 anos, eu estava sofrendo muito. Eu tinha pensamentos suicidas, depressão, transtornos de ansiedade. Quando descobri a transexualidade, me perguntei se eu sempre tinha sido um menino”, contou.

Ponto de virada

Sophie revelou que a experiência-chave que a fez perceber que a transição de gênero não era a solução para seus problemas foi quando descobriu que seu irmão também havia sido estuprado, isso foi um ponto de virada absoluto para mim.

“Percebi que não era por causa do meu gênero que coisas traumáticas tinham acontecido comigo”, disse.

“Então, minha intensa jornada pelos traumas transgeracionais começou. Percebi que meu corpo não era o culpado pelas minhas experiências negativas. E então consegui encontrar mais de mim mesma.”

O desejo de mudança de sexo, que parecia uma solução definitiva, foi uma tentativa de fugir de questões internas profundas, como a rejeição ao próprio corpo e o distanciamento da figura materna, fundamentais na construção da identidade de uma mulher.

“Entre as idades de quatro e seis anos, as crianças lentamente começam a se identificar com seu papel de gênero. Nessa idade, é mais importante que elas tenham modelos atraentes de seu próprio gênero. Se esses modelos não forem atraentes, então há um perigo muito real de que as crianças comecem a rejeitar seu próprio gênero”, disse.

Decepção com a transição

Sobre mais e mais jovens estarem expressando decepção após o tratamento transgênero, ela diz:

"Não foi particularmente difícil para mim voltar [a ser mulher] porque eu estava na África na época. Se eu tivesse ficado no meu ambiente habitual, teria sido mais difícil”.

“Deixei meu cabelo crescer novamente e comecei a usar um pouco de maquiagem novamente, só para ver do que eu gostava. E foi assim que consegui lentamente aceitar meu corpo novamente”, disse.

“Talvez ajude simplesmente deixar seu ambiente familiar, se possível, porque você se sente mais livre sem o olhar crítico dos outros.”

Desconexão com o sexo biológico

Ela contou que durante sua juventude, sentiu uma desconexão com o seu sexo biológico. No entanto, após iniciar a transição e viver como homem por alguns anos, ela começou a perceber que seus problemas não estavam relacionados apenas ao gênero, mas a uma série de questões psicológicas não resolvidas.

“Foi apenas quando eu comecei a tratar minhas questões emocionais e psicológicas, ao invés de focar exclusivamente na mudança física, que consegui encontrar a verdadeira paz”, explicou Sophie.

Ela acredita que a falta de uma base emocional forte, especialmente durante a infância e a adolescência, pode ser um fator decisivo para que muitas pessoas, em particular meninas, procurem a transição como uma forma de lidar com a sensação de desconforto com o próprio corpo.

Questões emocionais

De acordo com Sophie, muitos dos jovens que buscam mudanças de sexo estão lidando com questões emocionais como a rejeição familiar, dificuldades na escola e até problemas com a identidade social.

Em sua opinião, a sociedade, muitas vezes, oferece a transição como uma solução rápida e fácil, sem explorar adequadamente as causas subjacentes dessas necessidades. "A transição física pode parecer a resposta, mas ela muitas vezes não resolve o problema emocional de fundo", afirmou.

Sophie tem se mostrado preocupada com o aumento significativo de diagnósticos de disforia de gênero, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, uma parte significativa da população que, em sua visão, pode estar sendo pressionada pela cultura atual que normaliza e até incentiva a transição.

“Recentemente acompanhei um garoto de 14 anos que queria se tornar uma garota. E eu simplesmente perguntei: ‘Será que você tem muito medo de não corresponder às expectativas do seu papel de gênero?’ Então a criança disse: ‘Sim, tenho muito medo disso.’ E então eu perguntei: ‘Você às vezes tem vergonha de ser um garoto?’ E ele também disse sim a isso”, relatou a coach.

Ela afirma que documentou tudo isso. E que a mãe ao adolescente disse que o terapeuta queria começar os bloqueadores hormonais imediatamente.

Envolvimento dos pais

Sophie chama a atenção para o papel fundamental que os pais e a sociedade desempenham na formação da identidade de uma criança.

Ela ressalta que, ao proporcionar um ambiente de apoio, aceitação e amor incondicional, é possível ajudar os jovens a encontrar seu caminho sem recorrer a soluções externas, como a transição de gênero, que podem não resolver os problemas subjacentes.

“Como pai, eu não responderia às declarações da criança sobre transgênero. Eu sempre aconselho os pais a não se dirigirem à criança pelo nome desejado. Não é uma solução procurar a próxima consulta possível com um endocrinologista se as causas reais não foram tratadas”, disse.

“Também aconselho os pais a passarem tempo com seus filhos e refletirem sobre sua própria infância. Se você foi abusado quando criança, há uma grande probabilidade de que você transfira padrões semelhantes para seu filho.”

Causas dos desconfortos

Sophie argumenta que, em vez de promover soluções rápidas como a transição, a sociedade e os profissionais de saúde devem se concentrar em abordar as causas profundas que geram o desconforto com o próprio gênero.

Sophie destaca a importância de discutir essas questões com profundidade, abordando o que realmente motiva essas mudanças e oferecendo suporte psicológico adequado para ajudar os indivíduos a lidar com seus conflitos internos.

Questionada se crianças que desejam mudar de gênero frequentemente sofrem de outras doenças mentais, ela responde:

“Absolutamente. Ninguém está procurando ver se as crianças sofrem de dissociação ou outros transtornos de personalidade, e se estes são possivelmente a causa da rejeição de seu gênero. Mas muitos dos que são tratados para questões transgênero na verdade sofrem de transtornos de ansiedade, depressão, transtorno de personalidade borderline, autismo ou TDAH.”

Na Alemanha, Áustria e Suíça, o método transafirmativo continua sendo recomendado nas diretrizes recém-estabelecidas, mesmo com as recentes descobertas científicas. Isso implica que o gênero declarado por crianças e adolescentes deve ser validado terapêutica, médica e, posteriormente, cirurgicamente.

 “Surpreendente? Por outro lado, países como Suécia, Finlândia, Reino Unido e França estão adotando uma abordagem distinta, priorizando a psicoterapia”, comparou.

"Não entendo como esse tratamento ainda pode ser permitido. Por serem tão jovens, as crianças ainda não têm a capacidade de encontrar seu verdadeiro eu, podem ter estresse em casa e são muito sensíveis e inseguras”, disse.

“Permitir que essa criança vá ao cartório aos 14 anos e mude seu nome e entrada de gênero, como é o caso na Alemanha desde novembro de 2024, é absolutamente irresponsável, na minha opinião”.

“Mas o que é muito mais devastador é quando seu corpo é manipulado com hormônios ou mesmo cirurgia em uma idade tão jovem. Você não é autodeterminado se se torna dependente de hormônios para a vida toda dos quais você realmente não precisa.”

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