
No último domingo (3), nove pessoas, incluindo uma missionária irlandesa e uma criança de três anos, foram sequestradas em um orfanato localizado em Kenscoff, nos arredores da capital do Haiti, Porto Príncipe.
Gena Heraty, diretora da instituição, estava entre as pessoas retiradas do orfanato privado Sainte-Hélène, em Kenscoff, quando os sequestradores invadiram o local nas primeiras horas da manhã.
O prefeito Massillon Jean informou que sete funcionários e uma criança também foram retirados do orfanato. Os agressores invadiram o local “sem abrir fogo" como um "ato planejado": “Eles arrombaram uma parede para entrar na propriedade antes de seguirem para o prédio onde a Sra. Heraty estava hospedada”.
O orfanato, que abriga mais de 240 crianças — muitas delas com deficiências — é administrado pela organização "Nossos Pequenos Irmãos e Irmãs". Segundo uma fonte ouvida pela agência AFP, Gena, que vive no Haiti desde 1993, ligou para a organização no domingo para confirmar que estava entre os sequestrados. Até o momento, nenhum pedido de resgate foi feito.
O jornal haitiano Le Nouvelliste, afirmou que acredita-se que membros de gangues sejam responsáveis pelo ataque.
Gena com as crianças no orfanato. (Foto: Reprodução/Facebook/Vin Retire Stress)
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Harris, divulgou uma declaração dizendo que “esforços intensos e contínuos” estão em andamento para garantir a libertação das vítimas.
"Esta noite, quero reiterar nosso compromisso em garantir que tudo o que for possível seja feito para garantir a libertação de Gena, seus colegas de trabalho e, de fato, da criança de três anos no centro deste caso", disse ele.
Harris também destacou que o governo irlandês mantém contato direto com a família da missionária, com autoridades haitianas e com a organização responsável pelo orfanato.
‘A população está lutando para sobreviver’
Gena, que nasceu em Liscarney, Condado de Mayo, recebeu vários prêmios por seu trabalho humanitário, incluindo o Prêmio de Dignidade Humana Oireachtas.
Apesar da crescente violência de gangues e das ameaças à sua própria segurança, a missionária havia informado ao jornal Irish Times que não tinha intenção de deixar o Haiti.
"As crianças são o motivo de eu ainda estar aqui. Estamos juntos nessa", disse ela em 2022.
Apesar da violência no país, Gena permaneceu servindo ao Senhor na missão. (Foto: Reprodução/Facebook/Vin Retire Stress)
Nos últimos meses, Kenscoff tem sido alvo constante de ataques por parte de gangues armadas, que controlam grande parte de Porto Príncipe e regiões do interior do Haiti.
A situação no país se agravou ainda mais em 2025. De acordo com dados da ONU, apenas no primeiro semestre deste ano, quase 350 pessoas foram sequestradas e mais de 3.100 assassinadas, o que forçou o deslocamento de aproximadamente 1,3 milhão de pessoas até junho.
Apesar dos esforços da polícia haitiana, com apoio de forças do Quênia e contratados estrangeiros utilizando drones armados, os grupos criminosos seguem ativos e fortemente armados.
A violência de gangues e os sequestros são especialmente comuns em Porto Príncipe e áreas próximas, onde cerca de 85% da cidade está sob o domínio de facções armadas, segundo a ONU.
Em 7 de julho, seis funcionários do Unicef também foram sequestrados em uma área dominada por gangues. Um deles foi liberado no dia seguinte, mas os demais permaneceram em cativeiro por três semanas.
Por fim, a ONU informou que as famílias estão "lutando para sobreviver em abrigos improvisados enquanto enfrentam crescentes riscos à saúde e à proteção".