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Catadora de lixo vive primeiro dia de aula na Universidade Federal do ES

'Realizei um sonho de infância', diz catadora de lixo

Atualizado: Quarta-feira, 7 Março de 2012 as 8:14

Uma nova jornada começou a ser trilhada pela catadora de materiais recicláveis, Ercília Stanciany, de 41 anos, nesta segunda-feira (5). Ela teve o seu primeiro dia de aula no curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), após ter sido aprovada estudando com livros que encontrava no lixo. A catadora disse que viveu um misto de emoções tão grande, que não conseguiu explicar o que sentiu quando chegou ao campus da Ufes, em Goiabeiras, na capital do estado, para estudar. Só que em vez de aulas, o primeiro dia foi marcado por confraternização e muitas brincadeiras.


"É uma emoção inexplicável, parecia que meu coração ia explodir quando cheguei na Ufes. Realizei meu sonho de infância. Fui para meu primeiro dia de aula e fui pintada pelos meus veteranos no trote, estou cheia de tinta, teve muitas brincadeiras, mas valeu à pena. Agora preciso tomar um banho reforçado para tirar essa tinta toda", disse aos risos, Ercília.

Ela conta que mesmo na universidade, vai continuar com os serviços de catadora para auxiliar a renda mensal da família. "No que eu puder ajudar meu esposo, eu vou ajudar. E tenho que ajudar porque vou ter que pagar matriais de estudo e o transporte de casa até a Ufes", conta a catadora, que mora na Serra, Grande Vitória. Mas o marido dela, Everaldo Mozer, de 47 anos, quer que ela foque nos estudos. "Sempre foi o sonho dela estudar, se formar. Sempre apoiei e agora que ela conseguiu quero que ela siga em frente com os estudos", afirma.


Reconhecimento na Ufes
Logo que chegou na universidade na manhã desta segunda-feira (5), Ercília disse que foi reconhecida pelos colegas de sala e por demais estudantes. "Todos me receberam muito bem, bateram palmas para mim e me cumprimentaram. Não entendi direito, mas todo mundo já me conhecia por causa da história que saiu na mídia. Eu não quero ser o xodó dos meus colegas de turma, mas quero fazer parte da história deles, porque eles com certeza vão fazer parte da minha", diz.

Relação com as artes
Vivendo boa parte da vida como catadora de lixo, Ercília lembra que sempre foi fascinada pelo mundo das artes. Ela sempre quis ter uma caixa de lápis de cor, mas só teve a primeira aos 19 anos. "Sempre adorei cores, desenhos e artes. Queria ter uma caixa de lápis de cor quando criança, mas só tive quando ganhei de uma moça, e eu já tinha 19 anos. Sempre quis os lápis, mas não tive coragem de usar, a caixa está guardada comigo até hoje e vai para o meu museu", recorda.

Apaixonada por livros, ela agora vai ter que se adaptar a estudar artes também por outro meio, o computador. "Estou juntando dinheiro para comprar um computador. Sempre estudei pelos livros achados no lixo, mas na faculdade já me falaram que eu preciso de computador e internet para muita coisa, então vou ter que dar um jeito, mas vai dar tudo certo. Espero que eu sirva de lição para muita gente que acha que não tem condições de estudar, sempre há jeito", finaliza.


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