A notícia de que a Universidade São Marcos havia sido descredenciada pelo Ministério da Educação, e que teria 90 dias para realizar a transferência de seus 2.100 estudantes para outras instituições, pegou a reitoria, os professores e os alunos de surpresa e em plena aula. A notícia foi divulgada no site do Ministério da Educação no fim da tarde de quinta-feira (22), mas a portaria que oficializa o descredenciamento só deve ser divulgada no "Diário Oficial da União" na semana que vem.
Mesmo assim, em um comunicado na noite de quinta, a reitora Maria Aurélia Varella anunciou a suspensão das aulas e afirmou que a São Marcos vai obedecer o que for determinado.
"Não haverá aula na Universidade São Marcos e os documentos necessários à transferência dos alunos serão providenciados por um verdadeiro 'mutirão' de funcionários e professores", diz a nota assinada pela reitora.
Maria Aurélia afirmou ainda que as informações sobre descontos e bolsas institucionais serão divulgadas assim que forem definidos os processos sobre a transferência.
De acordo com estudantes e a própria reitora, a notícia do descredenciamento chegou por meio da imprensa enquanto os alunos estavam na sala de aula. Depois de confirmar a informação no site do MEC, a reitora decidiu suspender as aulas. "Ela dispensou todos os alunos para fazer uma reunião com os professores e pediu para que a gente aguardasse uma segunda chamada", afirmou Juliana Haddad, de 24 anos, matriculada no último semestre do curso de administração de empresas.
Os estudantes, agora, querem que o MEC se responsabilize pela decisão de transferi-los a outras faculdades.
"Achei uma pena, porque parecia que agora estava tudo dando certo, a gente estava tendo aula normal. O prédio está em reforma, mas já tinha salas prontas, carteiras, estava tendo aula, não tem nenhuma reclamação quanto a isso. Eu paguei a matrícula, janeiro, fevereiro e março. Agora não sei como vai ficar, se fechar realmente, o que vou fazer com o dinheiro que investi?", questionou a estudante, que já não acredita que vai poder se formar ainda neste semestre, como planejava.
Descredenciamento
A instituição, que atualmente tem cerca de 1.300 aluno sem São Paulo e 800 em Paulínia, no interior paulista, foi despejada em dezembro de um terreno no bairro do Ipiranga, na região sudeste de São Paulo, onde mantinha um de seus campi, e estava sob intervenção judicial e em processo de readequação às normas do Ministério da Educação.
Em nota, o MEC afirma que decidiu descredenciar a universidade "após processo administrativo em que se verificaram inúmeras irregularidades que comprometem o funcionamento da instituição".
Entre as irregularidades verificadas pelo ministério estão a falta de ato de recredenciamento da instituição, o descumprimento de medida cautelar de suspensão de novos ingressos e das medidas de saneamento determinadas pelo MEC em 2011 durante o processo de supervisão, constatação de inviabilidade financeira e desorganização acadêmica e administrativa da instituição.
A Universidade São Marcos está desde setembro do ano passado sob intervenção judicial. O interventor Carlos Galli disse ao G1 que a notícia do descredenciamento feito pelo MEC o pegou "de surpresa". "Teríamos uma reunião com o MEC nesta sexta-feira (23), mas o ministério desmarcou o encontro. Agora vem esta notícia. Estou indignado. Não sabemos o motivo dessa decisão. Estamos com a documentação pronta para regularizar a universidade", disse Galli.
Segundo ele, a diretoria da São Marcos vai se reunir nesta sexta-feira para definir que providências tomar.
Aulas começaram
As aulas na Universidade São Marcos começaram no dia 5 deste mês. O início das aulas estava previso para fevereiro e foi adiado duas vezes porque a universidade buscava um novo local para dar aulas, uma vez que foi despejada do campus que mantinha no Ipiranga.
Maria Aurélia Varella, a nova reitora da São Marcos, que foi nomeada pela Justiça, publicou no site oficial que a universidade havia conseguido alugar um novo imóvel para as aulas de cerca de 25 cursos oferecidos em São Paulo, na Vila Mariana. Ela destacou ainda que durante o processo de despejo, a universidade foi vítima de vandalismo. No site, ela citou exemplos como invasões, corte da energia elétrica no poste em frente a um dos campi e furto da bateria do gerador do prédio. "Eu chamaria de sabotagem, mas, como não posso acusar ninguém, fica tudo por isso mesmo", disse Maria Aurélia ao G1, em fevereiro.
Despejo
Em dezembro, a São Marcos foi despejada de seu campus no Ipiranga pela Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, dona do terreno. O motivo alegado pela congregação foi o fato de a instituição não ter quitado "expressivo débito correspondente a alugueis em atraso, inclusive com a celebração de acordo em ação de despejo".
Segundo a congregação, a universidade descumpriu o acordo judicial e não contratou seguro para os imóveis locados, além de não ter apresentado alvará do Corpo de Bombeiros.
Na época, a São Marcos afirmou em seu site oficial que "os alunos da Unidade Ipiranga serão transferidos para a Unidade ABC, a fim de se evitar maiores prejuízos". Galli, porém, afirmou que este anúncio foi feito pela antiga gestão da reitoria e que este espaço está vazio há mais de um ano e sem condições de abrigar os estudantes, já que o local teve a fiação furtada.