Após o apito final do árbitro Luiz Flávio de Oliveira no Mineirão, um gigante do futebol mineiro sorrirá por último. E não será apenas Cruzeiro ou Atlético-MG, finalistas da Copa do Brasil. Alexandre Kalil, presidente do clube alvinegro, e Marcelo Oliveira, técnico da equipe celeste, protagonizam um capítulo à parte nessa história, iniciado em 2008, com os dois do mesmo lado.
Marcelo treinava os profissionais do Atlético-MG pela sexta vez, a segunda como efetivo, em substituição a Alexandre Gallo. Conseguiu evitar o vexame do rebaixamento no Brasileiro, no ano do centenário, após alcançar dez jogos sem derrota. Mas isso não foi suficiente para ser mantido no cargo e iniciar - pela primeira vez - o ano à frente de um time.
- O treinador não tem o perfil do presidente.
Foi com essa justificativa que Alexandre Kalil, assumindo o cargo após a renúncia de Ziza Valadares em meio a dias conturbados para o Galo, decidiu pela não permanência do treinador. Tinha início aí a história de uma rivalidade oculta entre os dois. E tinha início também a trajetória de Marcelo fora do Atlético-MG, após recusar-se a voltar para as categorias de base. Ela pode ter o seu auge nesta quarta-feira, em caso de conquista da tríplice coroa, justamente diante do Galo de Kalil.
- O Marcelo cortou o cordão umbilical que tinha (com o Atlético) e se tornou independente no futebol. A própria carreira dele mostra isso. E o presidente tinha o direito de escolher o treinador com que gostaria de trabalhar. Futebol é assim. O Marcelo entendeu e se tornou um dos melhores técnicos do país - avalia André Figueiredo, coordenador das categorias de base do Atlético-MG e auxiliar técnico no Galo em 2008.
Marcelo Oliveira, que na época declarou não estar cheateado com a decisão, passou por Ipatinga, Paraná, Coritiba, Vasco e Cruzeiro. No Coritiba conseguiu dois vice-campeonatos da Copa do Brasil consecutivos. Chegou ao Cruzeiro e se tornou bicampeão brasileiro, além de conquistar o Mineiro desta temporada.
A amigos íntimos, Marcelo Oliveira nunca escondeu que a dispensa em 2008 não foi bem digerida. Ficou a mágoa com Kalil pelo fato de não ter tido a oportunidade de ser efetivado como treinador em 2009. Um caso escancara isso. Após o título atleticano na Libertadores do ano passado, ele foi perguntado se havia torcido pela conquista do ex-clube. E citou Alexandre Kalil como motivo para não ter comemorado.
Decisão certa?
Alexandre Kalil, embora tenha se mostrado seguro quanto à saída de Marcelo na época, deu uma declaração como se apostasse num futuro melhor para referendar a decisão tomada.
- Acho que tomei a decisão certa. Espero que tenha tomado a decisão correta - disse o dirigente, que nesta semana afirmou que não falaria sobre qualquer assunto às vésperas da final da Copa do Brasil.
Não foi apenas Marcelo que voou alto após o rompimento. O Atlético-MG, após trabalhos irregulares de Emerson Leão, Geninho, Vanderlei Luxemburgo e Dorival Júnior, se acertou com Cuca. E, curiosamente, teve sucesso muito em decorrência da decisão de manter o treinador, que foi contratado em 2011 e chegou à conquista inédita da Libertadores em 2013.
O título da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, pode não ser uma resposta ao episódio de 2008. Mas uma conquista nacional sobre o rival dará mais força a um dos lados de uma relação recheada de uma rivalidade velada.