NYT
Um crítico do governo, que usou palavras de baixo calão contra o presidente no Twitter, teve sua conta bloqueada. Um ativista cuja publicação no Twitter comparou oficiais a piratas, por terem aprovado uma base naval controversa, foi acusado pela Marinha de difamação. E um juiz que escreveu que o presidente (\"Sua Alteza\") estava perseguindo os usuários da internet que desafiavam sua autoridade foi demitido no que foi amplamente visto como um castigo.
Tal repressão à liberdade de expressão na internet seria notável, e até mesmo pouco surpreendente, se tivesse acontecido na China, com seu exército de censores online. Mas o policiamento ávido das mídias sociais nesses casos ocorreu na Coreia do Sul, uma democracia florescente e uma das sociedades mais conectadas do mundo.
Essa desconexão está parcialmente enraizada na luta da Coreia do Sul em administrar as contradições que ocorrem enquanto tentam abraçar a web como uma forma de acompanhar as maiores economias do mundo, ao mesmo tempo em que se apegam a um passado patriarcal e um tanto quanto puritano.
Em uma nação tão ameaçada pela artista Lady Gaga a ponto de terem impedido fãs menores de 18 anos de assistir a uma de suas apresentações, a ideia de possibilitar ilimitadas oportunidades para que os usuários da internet possam dizer “palavrões” em público, assistir a pornografia ilegal e desafiar autoridades revelou-se profundamente inquietante.
"Pouco tempo atrás, o papel do governo e o papel do estabelecimento, incluindo a imprensa, era o de uma espécie de pai benevolente das massas", disse Michael Breen, autor do livro “The Koreans: Who They Are, What They Want, Where Their Future Lies” (Os sul-coreanos: quem são, o que querem, qual é o seu futuro, em tradução livre)."O governo sempre possuía todo o conhecimento e as pessoas eram consideradas burras. Eu acredito que essa mentalidade ainda está um pouco presente hoje."
Conservadorismo
Os críticos do governo do presidente Lee Myung-bak concordam que sua postura conservadora é o que incentiva a repressão na internet. Mas eles argumentam que a proibição de palavrões e outras atividades online também se tornaram uma desculpa conveniente para silenciar seus críticos.
Não é a primeira vez que o governo foi acusado de ser excessivamente cauteloso, dois ex-assessores presidenciais e outros oficiais estão sendo julgados sob a acusação de terem conduzido atos ilegais de vigilância dos cidadãos.
O desaparecimento das liberdades conquistadas é especialmente preocupante, dizem os ativistas, pois os meios de comunicação social tornaram-se os mais novos meios de expressão para a rebelião, substituindo as batalhas de rua da década de 80, que forçaram o fim de décadas de ditadura.
"Novos meios de comunicação e serviços de redes sociais como o Twitter surgiram como novas ferramentas políticas para pessoas antigoverno e de esquerda", disse Chang Yeo-kyung, um ativista da liberdade de expressão. "O governo quer calar essas pessoas para evitar a propagação de pontos de vista críticos".
*Por Choe Sang Hun