The New York Times
Em reunião antes impensável, ex-comandante estará com monarca, que por muito tempo foi o principal alvo do grupo guerrilheiro contrário ao domínio da Coroa Britânica
Nesta semana em Belfast, em um dos eventos mais aguardados da história irlandesa recente, um ex-comandante do Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês) apertará a mão da rainha Elizabeth 2ª, principal alvo de ataques do grupo antigamente.
O ex-comandante Martin McGuinness, goza de um status quase lendário entre os nacionalistas irlandeses e foi durante muito tempo considerado um dos maiores inimigos da Grã-Bretanha. Desde o cessar-fogo em 1997, que deu fim de forma eficaz à campanha armada implementada pelo IRA durante 30 anos contra o domínio britânico, ele teve uma carreira política bem-sucedida e chegou à posição de vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte.
O Sinn Fein, o braço político do IRA antes de sua dissolução, afirmou que seu comitê executivo decidiu - não por unanimidade - permitir que ele participe de um evento de caridade na quarta-feira do qual a rainha, o príncipe Philip e o presidente irlandês, Michael D. Higgins, serão convidados.
"Essa é a decisão certa, no momento certo e pelas razões certas\", disse o presidente do Sinn Fein, Gerry Adams, que juntamente com McGuinness ajudou a acabar com os anos de violência sectária e dar aos católicos romanos voz em um governo compartilhado com seus antigos inimigos protestantes.
Privado
O aperto de mão histórico acontecerá em cerimônia privada diante de um único fotógrafo e as imagens serão divulgadas para a mídia. O Sinn Fein está ciente de que o aperto de mão preocupa alguns de seus partidários, principalmente porque a rainha é a líder nominal das Forças Armadas britânicas.
\"Uma vez que esse é um encontro entre McGuinness e a monarca britânica, isso causará dificuldade para republicanos e nacionalistas que sofreram por muitas décadas nas mãos de forças britânicas na Irlanda\", disse Adams em um comunicado. Ele descreveu o evento como uma \"importante iniciativa envolvendo grandes desafios políticos e simbólicos para os republicanos irlandeses.\"
O Sinn Fein recusou um convite semelhante durante uma visita real à República da Irlanda no ano passado, algo que muitos analistas políticos disseram ter sido uma oportunidade perdida dados alguns comentários conciliatórios feitos pela rainha em vários discursos importantes que expressaram pesar pelo papel muitas vezes sangrento da Grã-Bretanha na Irlanda.
A reação de oficiais irlandeses e britânicos sobre a reunião agendada foi muito positiva. Peter Hain, ex-secretário de Estado para a Irlanda do Norte, disse que o encontro consolidará ainda mais o processo de paz, que ainda é ameaçado por grupos republicanos dissidentes que não concordam com as políticas do Sinn Fein. \"Se ficarmos presos ao passado nunca faremos nenhum progresso\", acrescentou.
*Por Douglas Dalby
Leia também: GUIAME