A Rússia rejeitou nesta segunda-feira os pedidos feitos pelos árabes e ocidentais para fixar prazos ao regime sírio para a implementação do plano de paz proposto pelo mediador internacional Kofi Annan. "Os ultimatos e prazos impostos artificialmente quase nunca ajudam", declarou o chefe da diplomacia russa Serguei Lavrov durante uma visita à ex-república soviética da Armênia.]Lavrov acrescentou que apenas o Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia tem poder de veto, pode estabelecer prazos de restrição ao presidente sírio Bashar al-Assad para que ele cumpra a iniciativa de seis pontos.
Mais cedo, o ministério russo das Relações Exteriores afirmou que a conferência dos Amigos da Síria, que se reuniu domingo em Istambul, terminou em contradição com objetivos de solução pacífica. "As intenções e garantias expressadas em Istambul a favor de um apoio direto, inclusive militar e logístico, à oposição armada estão incontestavelmente em contradição com os objetivos de uma solução pacífica do conflito", disse uma nota da chancelaria russa.
Moscou também lamentou o caráter "unilateral" da reunião, onde o governo da Síria não estava representado. Burhan Ghalioun, presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, anunciou em Istambul que o movimento pagará os salários dos membros do Exército Sírio Livre (ESL) na luta contra Damasco e pediu à conferência dos Amigos da Síria que arme os rebeldes.
A ideia, descartada pelos Estados Unidos e muitos países árabes e ocidentais, é apoiada por Catar e Arábia Saudita. A Rússia destacou que a prioridade deve continuar sendo a aplicação do plano de Kofi Annan, emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, para acabar com a violência.
Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.
A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes,manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.
Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. De acordo com cálculos de grupos opositores e das Nações Unidas, pelo menos 9 mil pessoas já morreram desde o início da crise Síria.