Curitiba amanheceu sem nenhum ônibus do transporte coletivo nas ruas na manhã desta sexta-feira (27) por causa da greve de cobradores, deflagrada na madrugada de quinta-feira (26) na capital e Região Metropolitana. Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), diferente de quinta, os motoristas foram impedidos de sair das garagens sem os cobradores no início da madrugada.
Algumas linhas de São José dos Pinhais, Campo Largo e Piraquara, na Região Metropolitana, estão circulando, segundo o Sindimoc. Às 7h30, havia vários pontos de congestionamento em Curitiba.
Na tentativa de evitar transtorno para os usuários, a Urbs, empresa que gerencia o transporte público na cidade, abriu o cadastramento de veículos particulares. O cadastramento começou às 6h e está sendo feito na área de vistoria do transporte coletivo, no bloco ferroviário da rodoviária. Os carros são vistoriados por mecânicos da Urbs e podem cobrar, no máximo, R$ 6,00 por pessoa.
Na tarde de quinta-feira, a Urbs fez um pedido à Justiça do Trabalho para a obrigatoriedade da circulação de uma frota mínima dos veículos, mas até as 6h desta sexta-feira não tinha obtido resposta.
A empresa relatou em nota oficial que lamenta a decisão do Sindimoc de continuar com a greve pelo segundo dia consecutivo. "O alto custo da operação impede a manutenção do serviço com catraca livre pelo segundo dia consecutivo. A expectativa era de que as negociações chegassem a bom termo ainda nesta quinta-feira de forma a não causar prejuízos à população, o que infelizmente não aconteceu", diz a nota.
Entre os pedidos dos cobradores está a melhoria nas estações-tubo da cidade. Eles querem que sejam instalados banheiros químicos nos locais e também são contra a cobrança das empresas quando são vítimas de roubos. Em algumas das empresas, os cobradores são obrigados a cobrir as perdas nessas situações.
Apesar de não terem aderido ao movimento grevista, os motoristas também reclamam das punições que recebem. Eles alegam que são obrigados a pagar às empresas se, porventura, passam por cima de calçadas ou se envolvem em acidentes de trânsito. Outra reclamação é sobre a dupla função exercida pelos motoristas de micro-ônibus. Além de dirigir os veículos, eles também precisam cobrar as passagens. Uma lei em Curitiba proíbe a dupla função, mas as empresas ainda não cumpriram a medida aprovada na Câmara de Vereadores.
Catraca livre
No final da tarde de quinta, após a circulação de vários ônibus sem cobrar a passagem na quinta, inclusive a linha turismo que custa R$ 29, a prefeitura informou que as catracas liberadas vão custar R$ 2,484 milhões à administração municipal. Antes disso, durante a manhã, a Urbs argumentou que vai responsabilizar judicialmente o Sindimoc, o presidente Anderson Teixeira e demais dirigentes da instituição pelo prejuízo causado.
A empresa também relatou que além da ação indenizatória pela perda de recursos públicos, também vai apresentar ao Ministério Público (MP-PR) denúncia de improbidade administrativa, pedindo a suspensão dos direitos políticos de Anderson Teixeira e de outros dirigentes do sindicato pela prática de ato de improbidade administrativa, com a evasão de receita pública patrocinada pelo Sindimoc.
Procurado pelo G1 na manhã desta sexta, o Sindimoc disse que não foi informado oficialmente sobre o caso.
Última greve
Os cobradores de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana já haviam entrado em greve, juntamente com os motoristas, em fevereiro deste ano. A categoria paralisou as atividades no dia 26 de fevereiro e retornou no dia 1º de março. Eles aceitaram a proposta da desembargadora Ana Carolina Zaina, durante a terceira audiência de conciliação realizada à época, que acordava um reajuste de 9,28% – equivalente a 5,26% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INCP) mais 3,28% –, mais abono de R$ 300 e reajuste de 10,5% na cesta básica para os motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba e Região. Com este reajuste, os motoristas passaram a receber R$ 1.814,93, e os cobradores R$ 1.028,10.
Nesta quinta-feira, a prefeitura relatou que este acordo trabalhista fechado em março gerou aos trabalhadores, além de outros benefícios, o terceiro ano consecutivo de ganhos reais (10,5% em 2012, mais 10,5% em 2013 e 9,28% em 2014). “Sem repasse para a tarifa do usuário, isso levou o transporte coletivo a um déficit mensal de R$ 12 milhões, que vêm sendo bancados pela Prefeitura de Curitiba e subsídio do governo do estado. Qualquer concessão de benefícios financeiros adicionais terá impacto inevitável na tarifa”, informou a administração por meio de nota.