Outra mulher também foi apontada pela página Guarujá Alerta como possível sequestradora de crianças em Guarujá, no litoral de São Paulo, no mesmo dia do espancamento de Fabiane de Jesus. Essa mulher, que mora no interior paulista, teve sua foto exibida junto a um retrato falado feito pela polícia de uma suposta sequestradora. Essa imagem pode ter feito com que Fabiane fosse confundida e agredida. Após a repercussão do caso, a moradora do interior utilizou as redes sociais para comentar o assunto e afirmou nunca ter feito mal a crianças. Nesta quinta-feira (7), a polícia confirmou que ela não tem nenhuma passagem criminal e que não é a pessoa do retrato falado.
A foto foi postada no sábado (3), dia em que a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, foi atacada por uma multidão depois da publicação do retrato falado de uma mulher que supostamente realizava rituais de magia negra com crianças sequestradas. A dona de casa morreu na manhã de segunda-feira (5) após passar dois dias internada no Hospital Santo Amaro.
Assim que viu a postagem, a mulher apontada na foto enviou uma mensagem ao perfil dando sua versão sobre o caso. “Gostaria de esclarecer que não sequestro e nunca sequestrei criança alguma. Sou mãe, avó e temente a Deus”, comenta.
Ela lamentou o fato da população de Guarujá ter agredido Fabiane por causa de um boato gerado na internet. “Soube que, infelizmente, machucaram uma pessoa inocente. Até porque acompanhei as afirmações de que tudo não passava de boato. Muito triste com toda essa situação”, afirma.
Ela completa dizendo que já foi à polícia para esclarecer os fatos. “Há mais de um ano não vou ao Guarujá e atualmente moro no interior. Gostaria de alertá-los que já procurei a delegacia da minha cidade e estou tomando as providências cabíveis”, explica.
Prisão
O delegado Claudio Rossi, da Delegacia Sede de Guarujá, informou que cinco pessoas suspeitas de participação no linchamento de Fabiane estão sendo identificadas. Segundo o delegado, um suspeito detido nesta terça-feira (6) já teve a prisão temporária decretada.
Valmir Dias Barbosa, de 48 anos, foi detido no bairro Morrinhos, a mesma região onde a vítima morava e foi atacada. Segundo a polícia, ele confessou a participação na agressão que acabou resultando na morte de Fabiane. O homem foi reconhecido após as imagens do linchamento terem sido entregues à polícia. Outras duas pessoas foram levadas à delegacia. Segundo a polícia, elas testemunharam os fatos, conheciam a vítima e o homem que foi preso.
Barbosa foi encaminhado para a Delegacia Sede, depois que sua prisão temporária foi decretada. Ele alegou que tem filhos e que participou da ação por acreditar que as acusações à vítima, de que sequestrava crianças para rituais de magia negra, eram verdadeiras. 'Aconteceu e aconteceu. Não posso fazer mais nada', disse ele.
O enterro foi realizado no cemitério Jardim da Paz, no bairro Morrinhos. O marido de Fabiane, Jaílson Alves das Neves, disse que não sente ódio dos suspeitos. “Para mim a ficha não caiu. Apesar da brutalidade, não guardo ódio, não guardo esse sentimento ruim no coração. Espero que não aconteça com mais famílias. Essas pessoas que agrediram ela e as que assistiram e não tiveram a coragem de salvar uma pessoa inocente não deram nem tempo de defesa para minha esposa. Quero que eles reflitam e que isso não aconteça nunca com a família deles”, explica.
Protesto
Após o enterro de Fabiane Maria de Jesus, dezenas de amigos e familiares realizaram uma passeata no bairro Morrinhos. A população não quer que a imagem do local fique manchada por causa do crime brutal.
Maria José Dias era amiga da vitima há 25 anos e foi a última a ver Fabiane ainda com vida. “Ela foi buscar uma bíblia que tinha esquecido na igreja. Tinha pedido para que eu não esquecesse de rezar por ela. Ela estava bonita no sábado, tinha acabado de cortar e pintar o cabelo. Ela se despediu e disse que ia ao médico. A Fabiane nunca fez mal a ninguém. Tiraram o direito de uma bebê crescer ao lado da mãe. Isso não se faz. Essas pessoas chutaram uma mãe indefesa”, afirma
Os manifestantes levaram faixas e cartazes com pedidos de justiça. “Minha maior revolta é que eles fizeram com que a imagem do meu bairro fosse destruída. Eles acabaram com a imagem das pessoas que moram aqui e que são honestas e de bem”, explica.
Revolta de internautas
Dezenas de usuários da rede social criticaram duramente o administrador da página e um deles chegou a dizer que a página seria tão culpada quanto os agressores.
Em uma postagem feita no fim da tarde de segunda-feira, o dono da página afirma que está colaborando com as investigações e que não irá se pronunciar a respeito do caso para não atrapalhar o trabalho da polícia. Em alguns comentários, os usuários condenaram a publicação do retrato falado, mesmo sabendo que se tratava apenas de um boato.
De acordo com o delegado Luiz Ricardo Lara, que está à frente do caso, ainda é cedo para apontar a responsabilidade do administrador da página Guarujá Alerta. “Caso, durante a instrução do inquérito policial, seja vislumbrado que, de alguma forma, ele colaborou com o crime, na medida em que propalou esses boatos, enfim, que praticou uma infração penal, ele será responsabilizado por aquele ato”, afirma.
Confusão
De acordo com o inquérito, o retrato falado atribuído a Fabiane havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela mulher.