Rodoviários de duas empresas decidiram cruzar os braços e deixaram pelo menos 13 regiões administrativas do Distrito Federal sem ônibus na manhã desta sexta-feira (6). De acordo com o sindicato da categoria, a Marechal e a Pioneira deixaram de repassar os salários e o tíquete-alimentação, deixando 500 mil pessoas sem o serviço – quase 20% da população da capital do país. O diretor do DFTrans, Clóvis Barbará, declarou que todas as organizações receberam em dia.
Por telefone, a Marechal, responsável por 464 veículos, disse que informou ao sindicato que faria o pagamento às 10h desta sexta. A empresa disse que o repasse do governo foi feito no final da tarde, atrapalhando o pagamento. Barbará afirma que houve problemas com o sistema bancário.
Já a Pioneira, dona de 625 ônibus, disse que recebeu o repasse, mas não em quantia suficiente para quitar os salários dos funcionários. "Vale lembrar que ainda não são cobradas passagens dos usuários do BRT desde o início da operação, o que causa um déficit ainda maior. A empresa enviou ao banco a folha de pagamento e aguarda o repasse do governo para efetuar o pagamento dos rodoviários", disse em nota. O DFTrans declarou que o valor é suficiente e que as dívidas são de contratos irregulares feitos no último ano.
Com a greve, 2 mil rodoviários foram prejudicados e deixaram de circular em Ceilândia, Taguatinga, Vicente Pires, Águas Claras, Samambaia, Recanto das Emas, Gama, Santa Maria, São Sebastião, Paranoá, Itapoã, Varjão e Park Way. Motoristas têm salário-base de R$ 1.928 e cobradores, de R$ 1.008. O valor do tíquete-alimentação é o mesmo: R$ 417.
Os funcionários se reuniram na garagem do P Sul para protestar. Diretor de imprensa do sindicato, João Jesus de Oliveira disse passou a quinta-feira tentando negociar com as empresas. “Já está virando uma moda isso de o pagamento não entrar no quinto dia útil do mês”, afirma. “As empresas dizem que dependem do repasse do DFTrans para quitar a folha e que aguarda os recursos.”
O sindicalista também afirmou que não há prazo para o fim da paralisação. “Hoje é sexta-feira. Pelo menos a Marechal informou que a partir das 10h estará fazendo esse pagamento. Ela já passou o tíquete, mas não conseguiu pagar a folha. A Pioneira não tem previsão. Vamos ver durante o dia de hoje”, concluiu.
O motorista da Marechal Manoel Bandeira de Almeida disse considerar a empresa, na qual trabalha há um ano, boa para o trabalhador, mas critica os problemas com pagamentos. Ele mora com a mulher e os três filhos em Ceilândia e é a única pessoa em casa a ter renda.
“É ruim, porque a gente tem obrigação de pagar as contas da gente, água, luz e aluguel, e a cobrança não espera”, declarou à reportagem. “Se não fizerem o pagamento até as 16h, só poderá ser na segunda-feira. A gente não volta antes.”
Passageiros relataram que as paradas de ônibus estavam lotadas. Com preços mais caros e oferecendo menor segurança, o transporte pirata foi a opção para muitos deles. O trânsito ficou congestionado em vários pontos da cidade.
Um motorista afirmou ao G1 que ficou mais de 35 minutos esperando por um ônibus para a Asa Norte, sem sucesso. Nem mesmo os veículos com destino à Rodoviária do Plano Piloto circularam no período em que ele ficou na parada do Taguacenter.
Bacias de transporte público
O sistema de transporte público do DF foi dividido em cinco bacias. A primeira delas é de responsabilidade da Viação Piracicabana e atende o Plano Piloto, Sobradinho, Planaltina, Cruzeiro, Sobradinho II, Lago Norte, Sudoeste/Octogonal, Varjão e Fercal.
A bacia 2 cabe à Piracicabana e atende Gama, Paranoá, Santa Maria, São Sebastião, Candangolândia, Lago Sul, Jardim Botânico, Itapoã e parte do Park Way. A bacia 3 atende Núcleo Bandeirante, Samambaia, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e Riacho Fundo II.
A bacia 4 é de responsabilidade da Marechal e atende parte de Taguatinga, Ceilândia, Guará, Águas Claras e parte do Park Way. A bacia 5 é responsável por Brazlândia, Ceilândia, SIA, SCIA, Vicente Pires e parte de Taguatinga.