A compra do Instagram por US$ 1 bilhãomostra que o Facebook aposta cada vez mais pesado na internet móvel, segundo especialistas consultados pelo G1. A rede social anunciou na última segunda-feira (9) a aquisição do aplicativo que permite colocar filtros nas fotos e compartilhá-las em redes sociais. Para tê-lo, o Facebook concordou, inclusive, em manter a permissão para que os usuários do Instagram compartilhem fotos em outras redes sociais.
“O Facebook está fazendo várias aquisições para aumentar seu valor e o Instagram é bastante relevante, tem tamanho e, acima de tudo, é uma aplicação móvel”, observou Pedro Waengertner, professor de comunicação interativa na Pós-Graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A rede social está prestes a entrar na bolsa dos Estados Unidos, com oferta inicial em que espera arrecadar históricos US$ 5 bilhões.
Para o Eric Messa, coordenador do curso de extensão Comunicação em Mídias Sociais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), a incorporação do Instagram “deixa claro” que o Facebook sabe que os usuários não acessam mais as redes sociais somente do desktop, e sim dos celulares e tablets. “O Instagram, por exemplo, nunca permitiu acesso à rede pela web, seu acesso sempre se deu exclusivamente pelo celular”, comenta Messa.
O Facebook também mostrou seu interesse no mercado móvel quando, no final de fevereiro, anunciou uma série de novidades em sua área de publicidade, incluindo a possibilidade para que as empresas levem propaganda a seus usuários no celular. Os feeds de notícias de seus membros passariam a incluir publicidade, como parte dos esforços da companhia para estabelecer fontes regulares de receita.
Messa explica que, daqui pra frente, pode-se esperar que o Facebook invista nos usuários que acessam a rede social por dispositivos móveis, procurando facilitar essa entrada. A rede social possui aplicativos para ser usada em celulares e tablets de todos os sistemas.
Tecnologia e talento
A compra do aplicativo representa parte da busca do Facebook pelas tecnologias mais avançadas e pelos grandes talentos do mercado, explicam os especialistas. “O Facebook sempre procurou acompanhar as tendências do comportamento dos usuários das redes sociais para aprimorar sua própria interface”, conta Messa, da Faap.
“O Facebook tende a comprar tecnologia e talento. Normalmente, eles compram empresas que têm tecnologias boas, que completam o que a rede já oferece, com uma estratégia de melhorar o produto”, diz Waengertner, completando que nem sempre o número de usuários é o atrativo principal da companhia a ser comprada. “O Facebook já tem milhões de usuários.”
Em seu comunicado sobre o Instagram, Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, deixou claro o caráter inédito da aquisição. Ele disse que o Facebook não planeja fazer outras ações como essa e que é a primeira vez que a rede social compra um produto e uma empresa com tantos usuários.
Por que o Instagram?
O Instagram não é único na área, mas tem algumas diferenças que levaram o Facebook a decidir pela compra. “É o maior entre os programas do tipo [já passou dos 30 milhões de downloads] e já conquistou uma marca forte”, explica Waengertner. “É o aplicativo de fotos mais relevante do mundo, e só cresce.”
O grande número de usuários -já foram feitos mais de 30 milhões de downloads- também se deve ao pioneirismo da empresa, que trouxe um dos primeiros programas do tipo ao mercado. “O produto é bom, os efeitos são interessantes e, logo de início, criou-se um efeito de rede”, explica o professor da ESPM. Ele conta que as pessoas foram adquirindo o produto, já que seus amigos já estavam usando.
Ainda de acordo com o professor, o Instagram também é fácil de usar –“o próprio Facebook é complicado perto dele”.
Na última semana, o Instagram lançou o aplicativo para celulares equipados com Android, sistema operacional do Google, que é um dos mais populares do mundo. Anteriormente, apenas usuários do iOS, dos aparelhos da Apple, podiam usar o aplicativo.
O que muda?
O Facebook diz que a compra deve ser concluída até o fim deste segundo trimestre. Pelo menos a curto prazo, os usuários não devem sentir grandes mudanças com a aquisição, acredita Waengertner, da ESPM. “O Facebook não vai engolir 100% do Instagram, pelo menos não a curto prazo”, defende. Segundo ele, o que deve acontecer é uma integração melhor entre as tecnologias das duas empresas. Ainda de acordo com o professor, o time de engenheiros do Facebook poderá fazer melhorias e mudanças no software do app.
Kevin Systrom, presidente-executivo do Instagram, escreveu no blog da companhia que “é importante ficar claro que o Instagram não vai acabar". Segundo ele, sua equipe vai passar a trabalhar com o Facebook para desenvolver o Instagram e construir a rede. "Vamos continuar adicionando novas funcionalidades ao produto e encontrar novas formas de criar uma melhor experiência de fotos pelo celular”.