
Desta compreensão, surge para nós um panorama afetivo mais completo, isto é, deve-se amar um amigo e deve-se também ser amigo de quem se ama. A priori, a amizade fundamentada em amor, gera confiança e confidência (Jo 15.15); produz presença indiferente aos momentos (Pv 17.17); traz alegria ao coração (Pv 15.30); e garante qualidade superior à de irmão em detrimento de quantidades superficiais (Pv 18.24). Sobretudo, o amigo que ama é aquele que aponta o caminho de morte, e que no dia mau se posiciona diferente daqueles que mais se parecem “inimigos fraternos”, por se omitirem ou apenas balançarem a cabeça. Este amigo executa, assim, o conselho de Salomão: “Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.” (Pv 27.5,6).
É ideal, no entanto, que outro aspecto seja peculiar em uma amizade como a que acabamos de apresentar: o da tangibilidade no contato, ou seja, a presença física, a proximidade e os encontros periódicos são essenciais. Não dá pra ser amigo de verdade através do “Face”, da webcam, do “Skype”, do celular ou de qualquer outro meio virtual, salvo em casos extremos. “Mais vale o vizinho perto do que o irmão longe.” (Pv 27.10). “O Senhor falava com Moisés face a face (e não “Face” a “Face”), como quem fala com seu amigo…” (Ex 33.11). Este é um princípio importantíssimo para se preservar na pós-modernidade. A melhor operadora ainda é o encontro, com “fale ilimitado” ilimitado mesmo. Jamais troque uma mesa de lanche e risadas por uma sala de bate-papo. Não barganhe suas amizades com perfis de redes sociais.
É assim que deve ser: o amor na amizade e a amizade no amor. Os dois sentimentos devem andar de mãos dadas, em abraços, palavras, lágrimas, sorrisos e dias nublados. Entretanto, numa sociedade machista como é a brasileira, o homem sai perdendo neste sentido. Contudo, há de se perceber que esta é apenas uma realidade local e temporal. Os varões judeus, por exemplo, se cumprimentam com o ósculo santo (um beijo no rosto), que é uma saudação cultural e religiosa, mas que normalmente evidencia a afeição mútua de uma amizade fortificada.
A você, portanto, que buscar amar verdadeiramente os seus amigos, ser-lhe-á concedido lealdade, compromisso, discrição, silêncio, cobertura e encaramento de seus companheiros, considerando que só isto fará com que ambos entendam como Jesus pôde dar a vida por suas amizades (Jo 15.13).
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Marlon Teixeira