
O vídeo recente publicado pelo youtuber Felca, que denunciou casos de sexualização infantil, teve forte repercussão nas redes sociais e na imprensa. Com mais de 40 milhões de visualizações até a publicação deste artigo, as denúncias foram amplamente comentadas, tornando-se pauta na mídia e levando à prisão do influenciador Hytalo Santos, detido nesta sexta-feira (15) em uma casa em Carapicuíba, na Grande São Paulo.
A contundência das imagens e provas gerou indignação imediata e fez com que autoridades agissem sem demora. Mas o episódio levanta uma questão incômoda: por que denúncias semelhantes, feitas há anos por líderes cristãos e até por parlamentares, foram ignoradas ou desacreditadas?
Ainda como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a hoje senadora Damares Alves foi alvo de críticas e chacotas ao denunciar situações de abuso de crianças em regiões vulneráveis, como a Amazônia. Damares também foi acusada por fazer fake news.
Há mais de dois anos, o pastor Lucas Hayashi vem alertando sobre casos de exploração na Ilha de Marajó. No entanto, suas denúncias nunca receberam a atenção devida por parte das autoridades que deveriam estar comprometidas com a resolução do problema.
“Acredito que a falta de divulgação desses problemas contribui para a persistência de práticas como incesto, pedofilia, abuso sexual, exploração infantil e tráfico de crianças na região”, explicou o pastor, em entrevista ao Guiame, em 2023.
As falas neste sentido acabaram tratadas como exagero ou até fantasia, sem a atenção devida das autoridades e da sociedade.
Em diversos episódios, cristãos que expuseram casos de abuso infantil chegaram a ser denunciados ao Ministério Público, acusados de propagar “teorias da conspiração”. Essa postura acabou servindo como barreira para que situações graves fossem investigadas com a seriedade necessária. Hoje, diante de novas provas e de repercussão midiática, constata-se que muitos desses alertas ignorados estavam longe de ser mera invenção.
O mesmo preconceito apareceu quando o filme Som da Liberdade, que trata do tráfico sexual de crianças, foi lançado no Brasil. A produção chegou a ser classificada por parte da imprensa como “teoria da conspiração da extrema-direita” e associada ao conservadorismo cristão.
A desqualificação automática impediu que muitos percebessem a gravidade do tema, que agora se confirma em diferentes frentes. O que antes era taxado como militância religiosa mostra-se, na prática, um retrato fiel de uma realidade brutal.
A sexualização infantil é um problema social que exige a união de diferentes setores – governamentais, civis e religiosos – para ser enfrentado. Quando denúncias são desqualificadas apenas pela identidade de quem as faz, todos perdem, mas quem mais sofre são as crianças, que permanecem expostas a situações de violência. O vídeo de Felca apenas escancarou o que já havia sido dito, mas não ouvido, porque se tratava de cristãos denunciando.
A lição é clara: não se pode permitir que intolerância ideológica ou preconceito religioso falem mais alto que a verdade. Se o Som da Liberdade foi tratado como ficção e as denúncias de cristãos como delírio, a realidade hoje mostra que a exploração sexual de crianças é um crime concreto, urgente e devastador.
A proteção da infância deve estar acima de disputas políticas ou culturais. Afinal, quando a sociedade prefere ridicularizar alertas em vez de investigá-los, quem paga o preço são os mais indefesos: as próprias crianças.
E.T.: O Pr. Lucas Hayashi apoia o Instituto Akachi, uma missão em Marajó para cuidado das famílias em vulnerabilidade social.
Adriana Bernardo (@adrianammbernardo) é jornalista, escritora e idealizadora do grupo feminino cristão “Amigas de Deus”. Professora de Teologia e Aconselhamento. Casada com Bene Bernardo, é mãe de Raphael, Aline e Guilherme, e avó de Raquel, Daniel e Júlia.
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