
As 95 Teses realmente existiram e foram escritas por Martinho Lutero em 1517.
O que se sabe é que Lutero as enviou por carta às autoridades eclesiásticas, especialmente ao arcebispo Alberto de Brandemburgo. Esse foi o ato que realmente deu início à Reforma Protestante.
As teses denunciavam abusos, sobretudo a venda de indulgências, e convidavam ao debate teológico. Com o auxílio da imprensa recém-desenvolvida, o conteúdo se espalhou rapidamente por toda a Alemanha e pela Europa, incendiando a cristandade com o clamor por renovação espiritual.
Mas o que levou Lutero a desafiar uma instituição tão poderosa como a Igreja de Roma?
1. A crise espiritual da Igreja
No século XVI, a Igreja havia se afastado do Evangelho. As indulgências eram vendidas como um “passaporte para o céu”, prometendo perdão em troca de dinheiro. O clero, muitas vezes, vivia em luxo e escândalos, enquanto o povo permanecia sem acesso à Bíblia.
Lutero, ao ver isso, foi tomado por profunda angústia: como um Deus santo poderia ser apresentado como alguém que negocia a salvação?
Essa realidade o fez mergulhar nas Escrituras. Ele encontrou em Romanos 1,17 uma verdade que transformou sua alma: “O justo viverá pela fé.”
Foi o estopim da sua libertação espiritual – e das “chamas” que acenderiam a Reforma.
2. A descoberta da graça
Durante anos, Lutero tentou encontrar paz através das penitências, jejuns e confissões intermináveis. Mas quanto mais tentava, mais percebia sua incapacidade de alcançar a justiça de Deus por méritos próprios.
A graça – o favor imerecido de Deus – tornou-se sua descoberta central.
Ele compreendeu que a salvação não é algo que se compra, nem que se conquista; é dom gratuito recebido pela fé em Cristo.
Essa revelação rompeu com séculos de legalismo e reacendeu a esperança de um cristianismo autêntico.
3. O poder da Palavra
Lutero percebeu que a única autoridade segura era a Escritura Sagrada. Em um tempo em que poucos tinham acesso à Bíblia, ele a traduziu para o alemão, tornando-a compreensível ao povo.
Assim, a Palavra de Deus deixou de ser um livro distante e passou a ser o alimento espiritual do crente comum.
A redescoberta da Escritura como norma de fé e prática – Sola Scriptura – foi o coração da Reforma.
4. Coragem que inspirou gerações
Ao ser pressionado a negar suas convicções diante do imperador e dos líderes religiosos, Lutero declarou que "Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Não posso e não vou retratar-me de nada. Que Deus me ajude. Amém.” Essa declaração foi feita em 18 de abril de 1521, diante da Dieta de Worms – uma assembleia imperial convocada pelo imperador Carlos V, onde Lutero foi intimado a se retratar de seus escritos e teses, incluindo as 95 Teses que contestavam a autoridade do Papa e as práticas da Igreja Católica Romana.
A recusa de Lutero marcou um divisor de águas: ele colocou a fidelidade à Palavra de Deus acima da obediência às autoridades religiosas e políticas de seu tempo.
Essa coragem não nasceu do orgulho, mas da convicção de que a verdade do Evangelho é mais preciosa do que a segurança pessoal.
Lutero não queria fundar uma nova religião; queria reformar o coração da Igreja.
5. O legado que continua
As chamas acesas em Wittenberg continuam a iluminar a história.
A Reforma nos lembra que a fé deve sempre voltar às Escrituras, que a graça é o centro da vida cristã e que a Igreja precisa constantemente se renovar diante de Deus.
Hoje, mais de 500 anos depois, o chamado de Lutero ecoa:
“A Igreja deve estar sempre se reformando” – Ecclesia semper reformanda est.
Reflexão final
Assim como Lutero, somos convidados a olhar para dentro da Igreja e de nós mesmos.
Quando a fé se torna mera tradição e o Evangelho é trocado por conveniência, precisamos reacender o fogo da Reforma em nossos corações.
Reformar é permitir que a Palavra de Deus volte a ocupar o centro da vida cristã – pessoal e comunitária.
Ediudson Fontes (@ediudsonfontes) é pastor auxiliar da Assembleia de Deus Cidade Santa (RJ), teólogo, pós-graduado em Ciências da Religião e mestrando em Teologia Sistemático-Pastoral pela PUC-Rio. Escritor, professor de Teologia, casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
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