Tertuliano, um dos Pais da Igreja entre o final do século II e o início do III, reconheceu e testemunhou a continuidade dos dons espirituais na Igreja de sua época.
Ele registra que dons como profecia, curas e discernimento espiritual eram comuns no terceiro século e eram compreendidos como autênticas manifestações do Espírito Santo.
Segundo Tertuliano, a Igreja recebia “visitas espirituais”, incluindo ações de anjos e do próprio Senhor, e os dons permitiam revelar segredos do coração, além de oferecer respostas e curas conforme as necessidades da comunidade.
Importante destacar que Tertuliano não sugere qualquer cessação desses dons. Pelo contrário, afirma a continuidade da obra do Espírito após o batismo, visão que dialoga com a compreensão pentecostal/carismática contemporânea acerca do incremento do poder espiritual após a conversão.
Assim, Tertuliano valoriza os dons espirituais como expressão vital da ação do Espírito Santo na Igreja e na vida dos fiéis, incluindo profecia, cura e discernimento de espíritos — sem qualquer indicação de que esses dons teriam cessado com o fim da era apostólica. Seu testemunho reflete o contexto carismático da Igreja antiga e demonstra a prática viva e comunitária desses dons.
Muitos críticos de Tertuliano associam sua defesa dos dons espirituais ao fato de ele ter se aproximado do movimento montanista, já que o Montanismo apresentava algumas semelhanças com fenômenos pentecostais atuais. Entretanto, os problemas do movimento montanista — como excessos proféticos e tensões disciplinares — não podem ser utilizados como argumento para considerar herética ou diabólica a atualidade dos dons espirituais.
Os equívocos do grupo refletem falhas humanas, e não a natureza dos dons em si. Erros ocorrem em qualquer comunidade cristã, seja pentecostal ou não.
Referência bibliográfica:
TREVETT, Christine. Montanism: Gender, Authority and the New Prophecy. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
Ediudson Fontes (@ediudsonfontes) é pastor auxiliar da Assembleia de Deus Cidade Santa (RJ), teólogo, pós-graduado em Ciências da Religião e mestrando em Teologia Sistemático-Pastoral pela PUC-Rio. Escritor, professor de Teologia, casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
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