“Ouço toda hora pobre e rico, preto e branco, brilhante e medíocre repetindo: Da morte ninguém escapa! Mentira. Da morte todo mundo escapa. O morto nunca sabe que está morto. Quem tem medo da morte e faz estas frases está bem vivo. Da vida é que ninguém escapa”.
Todo o parágrafo acima é de autoria do Millôr. A comparação é pertinente. Popularmente a frase se consolidou, como ele bem observou, levando todas as classes e estilos afirmarem que da morte ninguém escapa. No entanto, é a vida a fonte de maior preocupação para os vivos, inclusive com a morte.
Gente querendo mudar de ares não faltam. Conheço aqueles que residem em São Paulo e gostariam de mudar-se para o interior, e os que moram no interior e dariam a vida pela capital. Conheço gente saturada de seu calvário profissional, do inferno que é seu lar, da hipocrisia reinante na sua igreja, da falência nas relações. Enfim, conheço um punhado de gente que daria tudo para escapar de sua realidade.
Mas como? Como escapar da vida? É ilusão achar que dá para escapar do que desagrada, decepciona, entristece. Nas esquinas da vida, nos corredores sociais, nas reuniões indesejadas, em cada lugar impensado, humilhações espreitam, vergonhas aguardam, armadilhas venenosas se escondem e tudo com um só objetivo: ameaçar a beleza da vida.
São nessas situações de sufoco que se desenvolve a vontade de escapar da vida. Mas da vida ninguém escapa. Então a racionalização começa, levando a lógica que diz que da morte ninguém escapa. Bem, se ninguém escapa, por que não me antecipar? Por que não dar um fim logo em tudo isso? Por que não um suicídio?
Para a vida é que fomos criados. Viver é nossa vocação primeira. A questão é que não sabemos e nem conseguimos viver sozinhos, independentes. E o dilema encontra-se nas muletas que muitos se agarram para viver. Muletas essas facilmente percebidas no abuso do prazer, na ilusão material, no oceano imoral, na loucura do álcool, no barato-caro das drogas, no vale-tudo do aqui e do agora. Passado um tempo usando tais muletas, o vazio da vida continua, as tentativas de se viver vão fracassando e vem o incômodo desejo de se escapar da vida, ou pelo menos, de uns tipos de vida que parecem nunca dar certo.
A resposta é simples e profunda. É óbvia e complexa. Cada vez mais, com todos os recursos, do jeito que pode e consegue, o mundo nega essa resposta e distancia o homem dela. “Nele estava a vida, e sem Ele nada do que foi feito se fez”, afirma o evangelho de João. A resposta é Jesus. Ele é a vida abundante, plena, perfeita, suficiente, vida da qual, quem O conhece, não quer escapar.
Sim, a morte para homens mortais e destituídos de qualquer poder como a gente, é certa. Contudo, para aqueles que sacaram que não dá para viver só, mas se rendem ao Senhor da vida e com Ele vivem, a morte é só um momento, um “abrir e fechar de olhos”. Pois, em Cristo, que é a nossa vida, (contradizendo o título deste texto!), escaparemos desta miserável vida que aqui se vive. E escaparemos para a vida que pela fé já temos experimentado. Quem vive, sabe. Quem sabe, vive.
Paz
- Edmilson Mendes
e-mail: [email protected]
blog: calicedevida.com.br
twitter: @Edmilson_Regina