Estou no meu escritório escrevendo este texto. Lá fora, enquanto busco as melhores conexões para construir bem cada parágrafo, alguns pássaros não cessam a cantoria. Não apenas agora, o ano inteiro é assim. Pássaros, como sabemos, não devolvem dízimos. Nem coelhos, leões, cavalos, peixes. Intrigado me questiono: tal ação é praticada somente por humanos, por que?
Para entender o ritmo da natureza com seus animais, preciso olhar para a rebelião ocorrida no Éden. Desde aquele evento, o problema de Deus, sempre foi com os homens, nunca com os animais. Pense na beleza colorida e selvagem de um tigre. Pense na beleza colorida e sem ameaças de uma joaninha. Cada um deles, o tigre e a joaninha, com tamanho e força distintos, louvam o Criador, cumprem exatamente o propósito para o qual foram criados.
As revoltas da natureza se explicam muito mais pelas manipulações e explorações do homem do que por uma reação somente dela. No entanto, independente dos abusos e maltratos contra a natureza e os animais, eles não precisam dizimar 10%, pois continuam a viver 100% para o Criador, tudo sendo ofertado graciosamente a Ele a cada manhã, em cada entardecer, todo dia, a vida inteira. Ah, se eu conseguisse viver assim!
Usurpadores da fé prestaram um dos maiores desserviços para o cristianismo quando começaram a enfatizar o dinheiro como prova e desafio de fé. O assunto dízimo se tornou bizarro, polêmico e, para muitos, motivo de vergonha. Quase todo cristão já ouviu a irônica pergunta: Na sua igreja você dá 10% do seu salário para o seu pastor? Lamentável ter de conviver com este tipo de provocação. Popularmente dízimo ficou restringido a dinheiro, lavagem cerebral, enganação. Esqueça este canto desafinado sobre o dízimo, tanto dos que atacam, como dos que exploram. Vamos tentar ouvir os pássaros.
A vida, amigos, está passando. Mais algumas horas e o ano que já bate as portas, 2011, entrará. E entrará mesmo que você não queira abrir as portas. De alguns sonhos você já desistiu. De algumas orações você já se desanimou. Por alguns valores você já perdeu o interesse. Festas, você evita. Lágrimas, ignora. Risos, sumiram. Ajudar alguém, há tempos que sua agenda não tem espaço para essas banalidades, definiu você. Abraçar e ser abraçado, para você não resta dúvida, é pura bobagem. São pequenas grandes coisas que os desapontamentos vão lentamente minando, até extinguir as cores e as alegrias da vida, deixando tudo nebuloso.
A vida, amigos, está passando. Mas não precisa passar assim, podemos passar por todo e qualquer tipo de vale árido e, ainda assim, continuar com os caminhos do coração bem pavimentados e seguros, conforme nos inspira o Salmo 84. 5 e 6. Enfrentei muitas lutas, dores, perdas e dificuldades neste ano, mas pela minha janela, o canto dos pássaros jamais cessou de entrar. Dízimo fala de toda minha vida, meu tempo, talento, formação, lazer, ansiedade, projeto, visão, serviço, trabalho, comunhão, esperança. É muito mais profundo que dinheiro, é integridade de relacionamento.
Toda minha vida, cada fração de segundo, pertence a Ele. Se existo e alguma coisa sou, a viabilidade e sustentação vem dEle. Em meio a este maravilhoso mistério de existir, o que é 10%? Mais, o que é 10% de bens e talentos que nem são meus, pois tudo provem dEle? Tudo Ele me dá, enquanto eu, o que dou a Ele? Como seria a vida se tão somente vivêssemos para o louvor e a glória dEle? Como estaria o nosso mundo se os animais racionais cumprissem seu propósito como cumprem os irracionais?
Em poucos dias os primeiros dez anos do século XXI estarão concluídos, o dízimo do século. Restam apenas 90 anos para terminar este século e podermos contar o dizimo deste terceiro milênio depois de Cristo. Qual seria a retrospectiva de tragédias, calamidades e pecados do mundo na década que termina? Indescritível! Dízimo, sempre considerei, deve ser a primícia. Se assim é, qual seria nossa perspectiva se os continentes tivessem dedicado estes dez anos a obedecer, honrar e servir ao Senhor? Segundo Malaquias, as janelas do céu estariam abertas, derramando bênçãos sem medida sobre todas as nações.
Sei que meu texto é utópico. O mundo, afirma as escrituras, jaz no maligno. Mas os pássaros até agora não pararam de cantar. Quero tentar viver semelhantemente a eles, usando minha racionalidade para o bem, para uma vida 100% ofertada ao Pai. Meus pecados, também sei, continuarão guerreando para frustrar este meu sonho. Tudo bem, continuo com esperança. Existe um pensamento - agora me foge o autor - que me anima a cada manhã. Como meu presente de ano novo, vou compartilhá-lo com você: Não importa quão horrível tenha sido seu passado, seu futuro é sem mancha!
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: "Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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