Caldo verde, canja, fava com carne seca, frango, bife acebolado, pepino, tomate à moda caipira, fritas, pães, geléias, queijos, sucos, cocada, doce de leite com maracujá, massas, ovos, hummmm!!! Tudo caseiro, fresquinho, quentinho, bem temperado e servido com a singularidade e o carinho típicos dos mineiros. Saborear uma comida de fazenda foi apenas uma parte dos prazeres da viagem que acabo de fazer.
Fui descansar com minha esposa e filhos. É um lugar que há mais de 15 anos costumamos ir. A cidade tem de 500 a 1000 habitantes, montanhas, cachoeiras, pangarés, pássaros e tempo, muuuiiiito tempo! De tão contrastante com o ritmo que levamos na cidade, lá o tempo simplesmente parece não passar. Abrir a janela do quarto que fiquei e descansar a vista em cavalos no pasto, lago, árvores e montanhas, é indescritível. É uma experiência revigorante, onde sons, cheiros e cores conseguem exibir suas belezas graças ao nosso silêncio, atenção e admiração. Nada de buzinas, telefones, celulares, escapamentos, britadeiras, freadas, apitos, máquinas, cornetas, gritos, nada. Apenas as vozes e coreografias da natureza, tímida e atrevida, humilde e exuberante, visível e encantadora.
Para quem gosta de decoração antiga, o hotel é um prato cheio. Construção de mais de 100 anos. Penteadeiras (!) super antigas. Nos banheiros, aquelas banheiras brancas com pezinhos só encontradas nos filmes de bang-bang. Quem foi já deve ter desconfiado de qual cidade estou falando: Pocinhos do Rio Verde. Um cantinho que minha família elegeu para realmente descansar.
Como em todas as vezes, Deus sempre nos abençoa e nos surpreende de uma maneira nova. Desta vez foi com o professor Gustavo. Eu, minha esposa, meus filhos, mais a minha irmã e meu cunhado, que nos acompanharam, estávamos na área social do hotel para iniciarmos uma partida de Master, um jogo de perguntas e respostas, quando fomos abordados com a seguinte pergunta: "Posso jogar com vocês?". Assustados olhamos em direção à mesa ao lado. A pessoa nos era estranha, não se apresentou, não usou nenhuma frase para quebrar o gelo, não disse coisas como "Acho que vai chover...", enfim, nadinha, somente a pergunta, "Posso jogar com vocês?" e o olhar firme sobre nós, aguardando nossa resposta.
Gustavo não é professor, mas decidi chamá-lo assim, pois com sua pergunta fez eu me lembrar de antigas lições. Lições sobre a vida e os relacionamentos que tanto complicamos. Nossa comunicação deveria ser sempre clara, direta e simples. Se quero jogar com você eu deveria me limitar a única pergunta cabível: "Posso jogar com você?". Ou seja, minha lista do parágrafo acima é supérflua, não atinge o ponto. Se quero respostas claras deveria sempre formular perguntas claras. Se quero desenvolver comunhão com pessoas deveria não temer dar o primeiro passo. Se quero me aproximar deveria vencer o medo do constrangimento público que me mantém afastado. Se quero jogar não deveria ter vergonha de aprender, o "professor" Gustavo nunca havia jogado Master, aprendeu na hora!
As lições do "professor" Gustavo continuaram. Em menos de 15 minutos, após o nosso "sim, você pode jogar com a gente", parecia que nos conhecíamos há anos. A cada resposta certa de alguém na mesa ele vibrava e motivava quem tinha acertado: "Mano, você é bom! Meu, você é o melhor!". Quando ele acertava a comemoração também não tinha nenhuma cerimônia, era riso, grito, soco no ar e muita vibração. Sua alegria era contagiante, todos na mesa passaram a vibrar como ele. Já não importava errar ou acertar, perder ou ganhar, essas coisas passaram a ser detalhes das regras do jogo. Naquele momento, ficou evidente para nós que o importante era estar naquele grupo, pois a genuína satisfação era a verdadeira vitória de todos.
O que o "professor" Gustavo tem de mais que nós não temos. De mais ele não tem nada. Ele tem de menos. Menos idade que a gente. Gustavo é uma criança, um garoto com seus 8 anos. Como tal, ele não tem a menor dificuldade para se relacionar, se comunicar, se expor. O pequeno Gustavo não tem medo de "pagar mico", muito menos de ouvir um "Não! Você não pode jogar com a gente!". Ele é só uma criança, exatamente como Cristo deseja que nós sejamos.
Mas nós, com o passar dos anos, mais e mais nos distanciamos deste desejo de Cristo que, afinal, é bem mais que um desejo, é um alerta, se não formos como crianças não entraremos no Reino. Estas são lembranças que o "professor" Gustavo trouxe ao meu coração. As lembranças de que o diálogo, o riso, a comunhão e a evangelização deveriam ser simples e diretos, sem receios ou temores. Afinal, se tivéssemos respondido "Não" para o pequeno Gustavo, ele continuaria se divertindo e sendo um encantador garoto, enquanto nós seríamos os adultos chatos, insensíveis e carrancudos.
E aí? Posso jogar com vocês? Posso orar com vocês? Posso louvar com vocês? Posso chorar com vocês? Posso sofrer com vocês? Posso lutar com vocês? Posso esperar com vocês? Posso conquistar com vocês? Se posso, faço minhas as palavras do Gustavo: "Manos, vocês são os melhores!".
Paz!
Pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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