Aqui não se ora no monte, como em outras regiões do Brasil. Oramos no horto. E horto, para quem nunca se viu orando num, nada mais é do que um lugar no meio da mata. O verde da mata, porém, mesmo que seja verde-vida, nunca é visto pelos olhos de quem ora, pois as orações são feitas à noite.
Mas a noite, às vezes, dá um show à parte, mas visto apenas por quem ora de olhos bem abertos. Na minha última oração no horto, no início de agosto, houve um show desses. O céu que cobria o horto estava cheio de estrelas. Eram tantas, mas tantas que quase não se via céu.
"Os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade" (Rm 1.20), eram claramente manifestos bem em cima do horto. Diante de tudo, não seria de bom senso da minha parte fechar os olhos para orar. Orei, então, por quase duas horas, de olhos bem abertos para o céu.
Falei com o Criador sem perder de vista as estrelas, que, sem emitir um só sequer, me deram uma aula - e que aula - sobre a glória e poder de quem as criou (Gn 1:16), "o qual é bendito eternamente" (Rm 1.25). Eu não tive outra saída senão a de glorifica-lo como Deus, dando lhe muitas graças.
Não sei de onde vem a ideia, mas muita gente pensa que quanto mais longe da criação, mais perto do Criador. Mas a meia-volta para o Criador sem a meia-volta para a criação não é a meia-volta que o Livro do Criador ensina. Não tem como ficar de bem com o Criador e de mal com a criação.
Nem todo mundo que está em paz com a criação, está em paz com o Criador, mas todo mundo que está em paz com o Criador está - ou deveria estar - em paz com a criação. E criação aqui não se aplica, obviamente, apenas aos criados à imagem e semelhança de Deus, mas a criação em geral.
A criação que, assim como nós, aguarda com o anseio profundo pelos tempos gloriosos que virão (Rm 8.21) com a vinda daquele que é antes de todas as coisas e que mantem todas as coisas desde que foram criadas (Cl 1.16-17), Jesus, Senhor nosso! O que me levou a falar disso tudo? Ah, a culpa é das estrelas!