Ao pôr do sol do dia 11 de junho, inicia-se a Festa de Pentecostes ou Festa das Semanas (Shavuot em hebraico), pois ocorre sete semanas após a Páscoa, conforme a Torá. Seu dia exato é cinquenta dias após o início da contagem do ômer, iniciada na Páscoa (Lv.23:15-16) e daí o nome grego Pentecostes que significa quinquagésimo. Ela celebra a alta temporada da colheita do trigo, desde a chegada do povo à Terra Santa, e por isso também é conhecida como Festa da Colheita. Esta foi a Festa oportuna para que Deus iniciasse, logo após a ressurreição e ascensão de Yeshua, uma outra grande colheita: a de almas para seu Reino.
Essa ideia é transmitida por Yeshua nos Evangelhos em diversas passagens. Uma das mais simbólicas está no capítulo 4 de João, no marcante encontro que teve com a samaritana no poço de Jacó. Após uma cidade inteira ir a seu encontro para ouvir as Boas Novas, Ele manda os discípulos erguerem os olhos porque os campos estavam brancos para a ceifa. É uma referência a Pentecostes, pois a Festa ocorria na plenitude da colheita do trigo. Os campos brancos para a ceifa apontam para as almas maduras para a colheita do Reino de Deus. Yeshua estava fazendo menção a uma colheita profética que se iniciava com sua vinda ao mundo. Uma colheita que começou com Ele nos Evangelhos, passou para os discípulos no primeiro Pentecostes do Novo Testamento e prossegue ainda hoje.
Um só coração
Quando se vê uma colheita sendo realizada em algum campo, a primeira coisa que salta aos olhos é a harmonia dos ceifeiros. Eles se ajudam, somando seus esforços, trabalhando com unidade de propósito. De modo similar, é necessário que haja unidade na colheita do Reino de Deus. Sem ela, qualquer esforço individual isolado é ineficaz. É nesse contexto que Jesus ensina que a seara é grande, mas poucos são os ceifeiros; que devemos rogar ao Senhor da seara que envie mais ceifeiros (Lc. 10:2). Não apenas a quantidade é importante, mas a unidade, especialmente para seguir as ordens do dono da seara a fim de não desperdiçar mão de obra, não ceifar onde alguém já o esteja fazendo.
Em Êxodo 19:2, é dito que os filhos de Israel chegaram ao deserto do Sinai e Israel acampou ali em frente ao monte. O verbo para “chegaram” e “acampou” é o mesmo, mudando apenas a conjugação. As traduções do hebraico usam dois verbos provavelmente para evitar ambiguidade e facilitar o entendimento. Porém, no original, a ênfase está na conjugação. Eles “acamparam” no deserto (3ª pessoa do plural) e ele (Israel) “acampou” em frente ao monte Sinai (3ª pessoa do singular). Os sábios ensinaram que o fato da segunda conjugação estar no singular aponta para um nível bem elevado de união entre os judeus, como se todos fossem um só homem e um só coração. Este nível de unidade era requerido para que a Torá pudesse ser entregue ao povo, marcando o primeiro Pentecostes da história de Israel.
A unidade na colheita
Essa mesma exigência de coesão era necessária para que Yeshua pudesse cumprir sua promessa de enviar o Consolador, o Espírito Santo, sobre os discípulos, exatamente no mesmo dia da Festa de Pentecostes, cerca de 1.300 anos depois do Sinai. Sabemos que não havia essa coesão entre os discípulos enquanto Yeshua andou entre eles. Há vários relatos nos Evangelhos dessa falta de unidade, causada pela soberba de seus corações. Entretanto, a Paixão, morte e ressurreição do Senhor produziu quebrantamento e humilhação nos discípulos, gerando uma grande transformação subsequente nos encontros com Yeshua glorificado durante a contagem do ômer.
No dia da Festa, o épico capítulo 2 de Atos dos Apóstolos se inicia ressoando a unidade entre os discípulos ao dizer que estavam todos reunidos no mesmo lugar. Bastaria dizer que estavam reunidos. Parece um pleonasmo, mas nada na Palavra escrita é por acaso. Deus quer reforçar a ideia de que, após todo o trauma e restauração por que passaram, estavam mais unidos do que nunca, em obediência à ordem de Yeshua de permanecerem em Jerusalém para serem revestidos do alto. É a mesma ênfase dada em Êxodo 19:2, quando o povo esperava pela entrega da Torá no Sinai como um só homem.
A última colheita
No entanto, tal unidade se consolidou em tempos de muita tribulação e perseguição aos discípulos. É notório o fato de que a perseguição a essa mesma Igreja que foi revestida no primeiro Pentecostes, após a ascensão, iniciando uma grande colheita, esteja se acirrando em nossos dias. No entanto, isso não deveria surpreender os que creem nas Sagradas Escrituras, pois foi predito que assim seria nos tempos do fim, nos quais nos encontramos. “Sereis odiados de todos por causa do meu nome” (Mc. 13:13). O espírito do anticristo que já enfrentamos se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração.
Tal perseguição será permitida pelo Senhor, como foi no passado, e tem o propósito de unir sua Igreja. Haverá uma unidade como nunca entre todos os que professam e seguem os mandamentos de Deus. A mesma unidade que fez com que Israel aguardasse aos pés do Sinai pela Torá; a mesma unidade que permeava os 120 discípulos que oravam como um só no cenáculo de Pentecostes, aguardando a promessa do Consolador.
Ela aumentará cada vez mais em meio às densas trevas que se avolumam ao nosso redor, trazendo consigo o mesmo vento que avivou os discípulos em Jerusalém, impulsionando-os para o início daquela colheita. Esse vento já tem soprado e levará sua Igreja unida a uma colheita de milhões de almas para o Reino de Deus. Esta será a última grande colheita de Pentecostes, a Festa profética em que nos encontramos hoje na linha do tempo de Deus, até que venha seu Reino sobre todos, bendito seja ele!
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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