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Evangélicos ucranianos clamam pelo fim da guerra: “Deus ainda está no controle"

Eles anseiam por paz, mas não confiam no cessar-fogo proposto pelos EUA.

fonte: Guiame, Jarbas Aragão

Atualizado: Segunda-feira, 10 Março de 2025 as 1:26

Novo filme expõe perseguição cristã extrema de ucranianos pelas forças russas. (Captura de tela/YouTube/CBN News)
Novo filme expõe perseguição cristã extrema de ucranianos pelas forças russas. (Captura de tela/YouTube/CBN News)

De acordo com a pesquisa nacional do Razumkov Center, um think tank independente de políticas na Ucrânia, antes da guerra, 62,7% da população se identificava como cristãos ortodoxos; 10,2% católicos gregos (Igreja Católica Grega Ucraniana, UGCC); 3,7% evangélicos; 1,9% católicos romanos; 0,2% muçulmanos; e 0,1 judeus. Além disso, 8,7% se identificavam como "simplesmente cristãos", enquanto 11,7% afirmaram não pertencer a nenhum grupo religioso.

Maia Mikhaluk é esposa de um pastor evangélico ucraniano. Desde que a guerra foi iniciada pela Rússia, em 22 de fevereiro de 2022, ela não tem uma boa noite de sono. Moradora da capital, Kiev, conta que nos primeiros dias dos ataques, corria com seu marido para um abrigo antiaéreo improvisado, um corredor entre seu apartamento e o apartamento de sua filha adulta.

Atualmente, eles permanecem deitados na cama e oram por proteção contra as bombas lançadas por drones Shahed, de fabricação iraniana, e dos mísseis russos.

Em entrevista à revista Christianity Today (CT), Mikhaluk explica que a população está cansada e “pronta para a paz”. Contudo, não acredita que os planos propostos pelos Estados Unidos para o fim dos conflitos são suficientes. Ela assistiu o presidente Donald Trump repreender o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky por não aceitar os termos impostos pela Rússia para "um cessar-fogo agora" sem nenhuma garantia de que o mandatário russo Vladimir Putin não voltará a atacar.

O colapso diplomático na Casa Branca pode marcar uma grande mudança para os rumos da guerra. A Ucrânia tem contado com o apoio americano e europeu desde a invasão de 2022, conseguindo resistir ao exército russo, um dos maiores do mundo, e sobrevivendo às bombas, apagões e escassez terrível. Mas agora Trump interrompeu toda a ajuda militar.

Outros evangélicos ucranianos disseram que “a vida continua”, pois eles têm suas rotinas e, em meio a tudo, decidiram colocar a confiança em Deus.

"Quando o inimigo é forte e mesmo quando os aliados traem, Deus ainda está no controle", disse Mikhaluk. Ela e o esposo estão plantando igrejas na Ucrânia desde 1997. "Sabemos que Ele não abandonará os oprimidos."

Muitas igrejas se tornaram uma espécie de refúgio em meio ao caos, apesar das grandes dificuldades para a congregação continuar se reunindo.

A opção de muitas foi começar os cultos online, o que ajuda quem foi deslocado pela guerra a permanecer conectado. Muitos templos também instalaram geradores, permitindo que os membros convidem vizinhos e amigos para carregar seus telefones, beber um chá e ouvir o evangelho.

A maioria ainda se reúne várias vezes por semana.

"Eles continuam adorando", disse Jon Eide, que coordena a rede de apoio às igrejas ucranianas da Missão para o Mundo. "Eles ainda realizam estudos bíblicos nas noites de terça-feira”.

Na cidade de Kherson, no sul, onde o rio Dnipro é a única barreira que separa os ucranianos das forças russas, o pastor presbiteriano Vova Barishnev costuma usar sua van para levar pessoas até o culto. Hoje em dia, no entanto, sua rotina aos domingos pela manhã começa quando liga um dispositivo de detecção de drones. O aparelho é colocado na van e, se disparar, o pastor busca logo um lugar seguro, como a cobertura de um viaduto.

Este é um avanço. Até pouco tempo atrás, Barishnev simplesmente colocava a cabeça para fora da janela e dirigia olhando para o céu.

Guerra na Ucrânia. (Captura de tela/YouTube/CBN News)

Os cristãos ucranianos lembram de que seu país abandonou o uso de armas nucleares em 1994, em troca de uma promessa de proteção. Os Estados Unidos e a Rússia concordaram com a decisão. Mas 20 anos depois, a Rússia invadiu e tomou à força parte do território da Ucrânia. Em 2015, a Rússia prometeu um cessar-fogo após a assinatura de um acordo que incluía troca de prisioneiros, retirada de armas e respeito à lei ucraniana nas áreas anexadas.

Só que o governo russo não cumpriu o compromisso e iniciou uma invasão em grande escala em 2022. Desde então, cerca de 46.000 soldados ucranianos e mais de 12.000 civis morreram. Milhões fugiram do país, pedindo asilo em diferentes nações.

Anna e Vasyl Feier conheciam algumas das 290 pessoas mortas no ataque a Irpin, cidade de Kiev com alta concentração de evangélicos e sede de vários ministérios. "Tudo foi destruído", disse Vasyl, "incluindo a nossa casa".

A família Feier fugiu para Kiev em 2022, logo que os russos invadiram. Só retornaram a Irpin depois que as forças ucranianas retomaram a cidade. Desde então vivem em um abrigo temporário e tentam retomar o trabalho apesar das constantes interrupções da guerra. As sirenes de ataque aéreo interrompem seu sono à noite e os fazem parar o trabalho durante o dia. Seus três filhos, de 4, 7 e 15 anos, passam horas nos abrigos antiaéreos.

Os pastores gostariam de reconstruir sua casa, mas precisam esperar que a guerra acabe.

“É muito difícil planejar as coisas”, disse Vasyl Feier. “Diariamente nos perguntamos se estaremos vivos amanhã ou não. É difícil dormir e você não faz grandes planos”.

Porém, os evangélicos ucranianos mantêm a fé. “Quando você vive em uma zona de guerra, sabe que cada momento pode ser o último”, explica a pastora Mikhaluk. “Isso só faz você querer se concentrar no que é importante: compartilhar a mensagem de esperança, o evangelho, com o máximo de pessoas possível.”

Perseguição religiosa pelos russos

Um documentário lançado recentemente mostra que, além da guerra, existe uma crescente perseguição aos evangélicos na Ucrânia, algo que é omitido dos relatórios da imprensa no Ocidente. Com o nome de "A Faith Under Siege" [Uma Fé Sitiada] mostra a linha de frente, onde pastores e missionários oferecem uma mensagem de esperança em meio aos horrores da guerra.

O produtor executivo Colby Barrett explicou à CBN: “Queríamos chegar direto à verdade e falar com as pessoas que sofreram sob a ocupação russa por causa da sua fé. E esse é realmente o cerne do documentário."

Barrett observou: "As pessoas que permaneceram nessas áreas devastadas pela guerra para ajudar e ministrar a seus povos e a outros, oferecer ajuda. Estavam realmente fazendo coisas incríveis. E o que você vê quando os russos assumiram o controle e encontraram esses evangélicos é que os acham muito ameaçadores."

A propaganda russa frequentemente afirma defender valores tradicionais, mas no terreno na Ucrânia, os evangélicos são alvos como ameaças ao controle do Kremlin.

"Os evangélicos especialmente são muito leais ao nosso líder, Jesus, não tanto aos líderes políticos... Então quando eles encontram evangélicos, mostram-se leais apenas a Deus, isso é perturbador", explicou Barrett.

O missionário Christian Hickey mudou para a Ucrânia em 2022, ministrando aos soldados que lutam nas linhas de frente. "Temos trazido milhares de Bíblias em áudio para soldados e civis ucranianos. É uma das melhores maneiras de colocar as Escrituras em suas mãos. Eles podem ouvir enquanto estão em movimento ou buscando abrigo. E sabemos por experiência que a palavra de Deus nunca retorna vazia."

Além de mostrar os horrores da guerra, o documentário também serve como um chamado para que os cristãos em todo o mundo orem e apoiem seus irmãos e irmãs na Ucrânia.

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Jarbas Aragão é pastor, jornalista e tradutor. Mestre em teologia, foi missionário da Jocum e da Junta de Missões Mundiais da CBB, além de professor do seminário Batista. Colabora com diferentes mídias no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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