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Quem é Abdullah Hashem? O homem que diz ser o novo Papa e Messias islâmico

Líder religioso viralizou ao afirmar ser sucessor de Jesus, Pedro e Maomé após morte do Papa Francisco.

fonte: Guiame, Jarbas Aragão

Atualizado: Sexta-feira, 2 Maio de 2025 as 3:10

Abdullah Hashem. (Foto: Wikimedia Commons)
Abdullah Hashem. (Foto: Wikimedia Commons)

Ao longo da história, de tempos em tempos surgem pessoas afirmando serem enviados de Deus, com mensagens para a humanidade. Desde o domingo de Páscoa deste ano, em 20 de abril, ganhou popularidade um vídeo onde Abdullah Hashem Aba Al-Sadiq, mais conhecido como Abdullah Hashem, se apresenta como alguém que uniria muçulmanos, cristãos e judeus em uma única religião.

Diferentes cortes de seus vídeos foram se espalhando nas redes sociais, com um discurso onde se apresenta com uma mensagem bastante surpreendente. Ele se apresenta como o mahdi e declarar ser o verdadeiro sucessor de Pedro, ou seja, o papa. Curiosamente, no dia seguinte, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco.

Hashem se apresenta como “sucessor” de Maomé e de Ahmed, figuras proeminentes no Islã. Também diz ser o sucessor de Simão Pedro e de Jesus Cristo, “o verdadeiro e legítimo Papa”.

Ele destaca, pela sua ancestralidade, ser “filho do Oriente e do Ocidente”. Seus sermões trazem “uma mensagem divina para a comunidade cristã global”. 

“Abdullah Hashem revela que a vacância do Trono Papal não é um acaso, mas um sinal divino: chegou a hora de o herdeiro legítimo assumir sua posição”, afirma o canal de YouTube do movimento. “Como verdadeiro Papa e portador da Aliança, ele conclama os povos do Evangelho a reconhecerem o cumprimento da profecia e devolverem o Trono a quem de direito. Esta não é apenas uma mensagem — é um chamado à verdade, à unidade e à justiça divina.”

Cristãos têm reagido, chamando Abdullah Hashem de anticristo — figura central da escatologia cristã que se apresenta como salvador no lugar de Jesus. Em vídeos de análise, pastores e teólogos, lembram profecias como a de Mateus 24:4-5, que fala sobre pessoas que viriam se apresentando como Cristo. Outros minimizam a possibilidade de este homem ser alguém relevante, por ter um número de seguidores menor que muitos influenciadores. Seu canal oficial no YouTube possui cerca de 70 mil inscritos. 

Hashem refuta as acusações e afirma ser um mensageiro enviado por Jesus para governar os cristãos. Ao mesmo tempo, também critica o cristianismo, alegando que a fé deturpou o monoteísmo de Jesus, como declarado na oração Shemá, em Deuteronômio 6:4. Ele culpa o imperador Constantino e o Concílio de Niceia pela criação da doutrina da Trindade. Em um podcast publicado em seu canal, diz que há cristãos que aceitam sua mensagem e classifica de “fake news” e campanha de desinformação de fundamentalistas as acusações contra ele e seu movimento. Também destacou que, desde 20 de abril, quando seu discurso mais famoso teve grande repercussão na internet, ocorreram dois milagres que provam sua legitimidade. O primeiro foi a morte do papa Francisco, que ocupa a posição que alega ser sua, e o fato de sua voz ser ouvida em todo o mundo, justamente pela grande repercussão que outros deram às suas palavras.

Origem da nova religião

Abdullah Hashem nasceu em 1983, no estado de Indiana (EUA). Ele é filho de um egípcio muçulmano e uma norte-americana, de raízes judaicas e cristãs. No material filmado em um local de culto, afirma ser o fundador da Religião Ahmadi da Paz e da Luz (AROPL, na sigla em inglês). Na fala que viralizou, Hashem afirma ser o Qa’im Al Muhammad — uma segunda vinda do profeta Maomé e também o Mahdi, ou Messias islâmico dos xiitas. Para seus seguidores, ele é o segundo dos doze Mahdis, citado em compilações de Hadith, que são ditos atribuídos a Maomé.

A AROPL foi fundada no Iraque no final dos anos 1990 e atualmente está presente em 40 países. O grupo de seguidores reúne milhares de pessoas. Em 2018, sua base era na Suécia, mas desde 2021 está sediado no Reino Unido. Sua missão central é estabelecer um “Estado Justo Divino, governado por um rei nomeado por Deus”. Na prática, se opõe à democracia e defende um governo teocrático. Existem vários materiais divulgados por eles nos últimos anos, um site oficial com um manifesto e vídeos em várias línguas. Ainda não há material em Português.

Há pouco material sobre AROPL e Abdullah Hashem datado antes da Páscoa de 2025. Porém, um artigo no site DJS, de junho de 2024, relata que a formação dos primeiros grupos ocorreu em 2012, com uma comunidade fechada no Egito. Desde 2022, eles se reúnem em um templo, chamado de Basílica, perto de Manchester, Inglaterra. Também estão produzindo ativamente conteúdo para a internet, que é transmitido pela TV via satélite do sistema Nilesat, em inglês, espanhol, francês e malaio, alcançando pessoas em pelo menos 20 países.

Para seus seguidores, Hashem cumpre pessoalmente três “critérios divinos” para ser reconhecido: ser mencionado no testamento final, possuir conhecimento excepcional e defender a supremacia divina sobre o domínio humano.

Ele afirma já ter cumprido dez profecias descritas em narrativas islâmicas. Uma delas previa a morte do rei Abdullah da Arábia Saudita, em 2015. O grupo também interpreta a profecia islâmica do “sol nascendo no Ocidente” como uma previsão de que Abdullah Hashem governará o mundo cristão. Outra profecia aponta que Hashem estabelecerá uma “nova aliança”. 

“Historicamente, Deus estabeleceu seis alianças com a humanidade, conhecidas por aqueles familiarizados com a Torá e a Bíblia — mas todas foram quebradas pelas pessoas,” diz o site da AROPL. “A sexta foi com o profeta Maomé. Contudo, profetiza-se que o salvador da humanidade virá com uma nova — a sétima — aliança.”

Contrariando princípios do islamismo tradicional, esta “sétima aliança”, segundo o grupo, incluirá membros da comunidade LGBTQ+.

No canal de YouTube do movimento há registro que os seguidores de Abdullah Hashem Aba Al-Sadiq, saíram às ruas e se reuniram diante de igrejas em diversos países — incluindo Colômbia, México, Argentina, Equador, Estados Unidos, Canadá, Suíça, França, Itália, Alemanha, Vaticano, Reino Unido, Espanha, Croácia, Sérvia, Filipinas, Tailândia, Austrália, Senegal e Bangladesh. Eles começaram a anunciar ao mundo que um homem havia sido escolhido por Deus para liderar a humanidade como o verdadeiro Papa”. A morte de Francisco seria um sinal que a vontade de Deus foi revelada, pois um novo líder dos cristãos de fato foi escolhido.

“A vacância do Trono Papal não é acidente, mas um sinal divino: chegou o momento de o herdeiro legítimo assumir sua posição,” afirma um vídeo do movimento, voltado aos cristãos e  católicos em especial. “Como verdadeiro Papa e portador da Aliança, ele convoca os povos do Evangelho a reconhecerem o cumprimento da profecia e devolverem o Trono ao seu verdadeiro dono.”

Figura escatológica

Embora essa mistura de elementos religiosos possa parecer confusa para muitos ocidentais, é parte essencial da escatologia islâmica. O Alcorão não menciona diretamente um messias, mas o Islã possui uma antiga tradição sobre o Mahdi — um redentor que viria para liderar os muçulmanos. Há também uma forte crença no Jesus (Issa) mencionado no Alcorão, considerado o último e maior profeta antes de Maomé. No Islã, Jesus não é filho de Deus, não é divino e não morreu na cruz; ele ascendeu aos céus e aguarda a chegada do Mahdi.

Para muitos islâmicos, a vinda do Mahdi coincidirá com o retorno de Jesus, que atuará como seu ajudante na luta contra o Masih ad-Dajjal — o falso messias ou anticristo. Segundo a tradição, o Mahdi surgirá com Jesus, que se declarará muçulmano e matará os cristãos que se recusarem a se converter. Após isso, Jesus teria uma morte natural e seria enterrado ao lado de Maomé, na quarta tumba reservada sob a Cúpula Verde, em Medina, Arábia Saudita.

A chegada do Mahdi é vista como o momento em que toda a humanidade se converterá ao Islã. De acordo com um Hadith citado por Umm Salama, esposa do profeta Maomé, quando o Mahdi chegar, todos os não muçulmanos se converterão. No islamismo xiita, antes da vinda do Mahdi, dois terços da população mundial morrerão — um terço por pragas e outro por guerras. Essa era também será marcada por um grande conflito na Síria e no Iraque, com destruição total dos dois países, uma grande chama e um “céu avermelhado”.

Para os sunitas, o Mahdi será um sucessor do Profeta Maomé que ainda está por vir. Para a maioria dos xiitas, o Mahdi já nasceu, mas desapareceu e está oculto até o momento em que retornará para trazer justiça ao mundo. Assim como nas tradições judaica e cristã, líderes muçulmanos ao longo da história já reivindicaram ser o Mahdi — mas sua vinda ainda é amplamente aguardada.

A concepção xiita do Mahdi também inclui a ressurreição dos mortos — especialmente dos imãs e líderes xiitas — e a crença de que ele conquistará Constantinopla, antiga capital dos impérios Romano e Bizantino, instrumental na expansão do cristianismo. A cidade mais tarde foi tomada pelos muçulmanos e tornou-se capital do Império Otomano.

Com informações de Israel 365, DJS, Wikipedia e The Mahdi has Appeared.

Jarbas Aragão é pastor, jornalista e tradutor. Mestre em teologia, foi missionário da Jocum e da Junta de Missões Mundiais da CBB, além de professor do seminário Batista. Colabora com diferentes mídias no Brasil, nos Estados Unidos e em Israel.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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